Evento será entre os dias 18 e 21 de novembro, nas cidades de Natal e Mossoró
No aniversário de oito décadas do levante antifascista no Brasil, as Universidades Federais do Rio Grande do Norte (UFRN) e a Rural do Semi-Árido (UFERSA) realizam o “Seminário 80 anos da Insurreição Comunista de 1935” entre os dias 18 e 21 de novembro, nas cidades de Natal e Mossoró. O encontro colocará em debate o episódio que contou com a primeira experiência de governo comunista, no Estado do Rio Grande do Norte.
O professor Homero de Oliveira Costa, do Departamento de Ciências Sociais da UFRN é o coordenador do evento. Ele conta que a expectativa do seminário é reunir professores, estudantes, pesquisadores e a sociedade norte-rio-grandense em torno das discussões sobre as lições e consequências dos levantes populares brasileiros de 1935.
Em entrevista ao Nossa Ciência, o professor dá mais detalhes sobre o seminário e adianta que Anita Leocádia Prestes, filha de Olga Benário e Luís Carlos Prestes, líder tenentista ingresso no Partido Comunista, estará presente. A exemplo do que vem realizando em diferentes cidades do Brasil e do exterior, Anita fará, durante o evento, o lançamento da biografia política de seu pai, “Luís Carlos Prestes: um comunista brasileiro”.
Com a realização de mesas e apresentações de documentários, o professor Homero adianta que o seminário pretende resgatar a história dessa mobilização, parte de um movimento amplo, a Aliança Nacional Libertadora, que buscava enfrentar o fascismo crescente em território brasileiro.
Nossa Ciência: Por que realizar um seminário sobre o Levante Comunista de 1935?
Homero Costa: Trata-se de uma oportunidade para refletir a respeito de um acontecimento histórico, iniciado em Natal, que transcendeu os limites do seu tempo, se tonando emblemático para a história do partido comunista (primeira e única tentativa insurrecional) e depois justificou um golpe de Estado (Estado Novo) e uma ditadura, que durou oito anos. Foi também o início de um anticomunismo nas forças armadas (27 de novembro), data da derrota do movimento, passou a ser uma das datas mais importantes, com eventos que duraram pelo menos até o fim da ditadura militar: todo ano eram inflamados discursos anticomunistas etc. Acho que esse anticomunista ainda está muito presente na sociedade brasileira.
NC: O que foi o Levante?
HC: Foi uma tentativa insurrecional organizada e dirigida pelo partido comunista. Havia a intenção (e planejamento) de se fazer um levante nacional, especialmente nos quarteis do Exército, onde o partido era atuante e imaginava uma adesão mais significativa sob à liderança de Luís Carlos Prestes. Foi o fim de um ciclo de rebeliões militares e ao mesmo tempo, correspondia também a antigas tendências da III internacional Comunista, sediada em Moscou, a qual o PCB (Partido Comunista Brasileiro) era filiado. A decisão para um levante foi tomada pelos dirigentes do PCB, com a poio da III IC, que inclusive mandou alguns assessores para o Brasil, junto com Prestes e Olga Benário.
NC: A academia tem estudado esse evento histórico? quais estudos tem sido feitos?
HC: Hoje já existem muitos trabalhos acadêmicos de excelente qualidade, como os livros de Paulo Sergio Pinheiro (Estratégias da ilusão e Revolucionários de 35, de Marly Vianna, que estará no evento, ambos publicados pela Companhia das Letras. Há também trabalhos de graduação (monografias), dissertações de mestrado e teses de doutorado sobre o tema. Eu mesmo dei uma modesta colaboração, publiquei um livro, resultado de minha dissertação de mestrado em Ciência Política na Unicamp, em 1995, pela editora Ensaio de São Paulo, intitulado “A insurreição comunista de 1935: Natal: o primeiro ato da tragédia”(nome dado pela editora…) que está sendo reeditado pela editora da UFRN. Eu mesmo orientei seis monografias na UFRN sobre o tema.
NC: Quais foram os critérios para a presença dos conferencistas?
HC: Primeiro, o óbvio: convidar pessoas que conheçam o assunto e cada um abordará sob óticas distintas e temas também distintos como, por exemplo, uma discussão mais específica sobre Natal e RN, sobre a III Internacional Comunista, outra sobre o PCB no nordeste etc.
NC: O senhor percebe repercussões daquele Levante na vida brasileira hoje? De que forma?
HC: Acho que uma das mais relevantes foi o anticomunismo. Qualquer discussão posterior sempre levou em consideração os que os comunistas tentaram fazer em 35 e para isso, mentiram bastante, como, por exemplo, afirmar que soldados foram assassinados dormindo etc. Uma mentira que nem o relatório policial do delegado Belens Porto, feito na época, no Rio de Janeiro, sequer insinuou o fato.
NC: Qual é sua ligação com o Levante?
HC: Não com o Levante em si, claro, mas com o tema, que foi objeto de minha dissertação de mestrado e cujo tema me levou a participar de vários debates, aqui e em outros estados. Mas que fique o registro: entre os que lutaram por um mundo melhor, com todos os seus equívocos e os reacionários que reprimiram (muitos ficaram presos por 10 anos, houve torutras, perseguições etc), eu fico com os primeiros.
NC: Quem realiza o seminário?
HC: Além de mim, pelo departamento de Ciências Sociais da UFRN, com apoio também do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRN e da Ufersa. A professora Ana Maria (Ufersa) e aluna do doutorado do PGCS da UFRN. Marly Vianna e Anita Leocádia que estarão também em Mossoró, e vários alunos do mestrado de Ciências Sociais (Juliana, Modesto, Rômulo, Carlos, Mario e Felipe – aluno de História). O seminário conta com o apoio do ADURN-Sindicato, UERN/PROEX, PPGCS-UFRN, Fundação Maurício Grabois, PCdoB, PCB, PSTU, CPS-Conlutas, Mandato da Vereadora Amanda Gurgel, Secretaria de Cultura – PMM Instituto Caio Prado Jr., Conselho de Cultura do RN, Amigos da Pinacoteca.