“Vamos apoiar programas e projetos que incentivem a produção científica no nordeste” Políticas de C&T

segunda-feira, 17 abril 2017

A proposta é de Zaira Turchi, primeira mulher a assumir a presidência do Confap e que terá como vice o professor Cláudio Furtado, presidente da Fapesq

Maria Zaira Turchi é a nova presidente eleita do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap). Ela, que já atuava como vice-presidente da entidade nos últimos dois anos, foi eleita por aclamação pelos presidentes das Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) presentes na reunião do Fórum Confap, em São Paulo. Primeira mulher a assumir a presidência da entidade – das 26 Fundações, apenas duas são presididas por mulheres, Zaira Turchi atua como presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg).

A nova gestão será compartilhada com o presidente da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq), Cláudio Furtado, que assume a vice-presidência da entidade. O mandato será de dois anos – março de 2017 a março de 2019 – e deverá manter uma política de continuidade e expansão das ações que têm sido desenvolvidas nas duas últimas gestões do Conselho.

Zaira é graduada em Letras pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutora em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), com Doutorado Sanduíche no Centre de Recherches Sur L’Imaginaire, Universidade de Grenoble/França. É professora titular da UFG, tendo exercido as funções de coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística; coordenadora geral da Pós-Graduação / Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação e diretora da Faculdade de Letras. Foi vice-presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Letras e Linguística (ANPOLL). É membro do Conselho Estadual de Educação de Goiás desde 2005 e do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia ligado ao governo federal. Possui artigos em periódicos especializados na área de teoria e crítica literária, e é autora de livros.

Nessa entrevista ao Nossa Ciência, Zaira Turchi conta como será sua atuação frente ao Confap, os desafios de ser a primeira mulher na presidência da entidade e como a parceria com seu vice-presidente, Cláudio Furtado, da Fapesq, ajudará a traçar estratégias para as Faps do nordeste.

Nossa Ciência: Quais são seus planos como presidente do Confap?

Zaira Turchi: Uma das principais metas é manter o Confap unido em torno de seus princípios e propostas, forte e articulado com a representação e a credibilidade que ele já conquistou em âmbito nacional e internacional. Os princípios fundamentais do Conselho são a defesa permanente da ciência, da tecnologia e da inovação como fatores estratégicos e indispensáveis ao desenvolvimento econômico e social de cada estado e, portanto, do País. Levando em consideração a descentralização do sistema nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, nosso objetivo é garantir a atuação do Confap como entidade de coordenação e articulação dos interesses das Fundações de Amparo à Pesquisa dos Estados, defendendo a autonomia de cada uma das Fundações com regularidade orçamentária.

Também está em nosso Plano de Trabalho ampliar a articulação do Confap com organismos nacionais e internacionais, ao mesmo tempo em que está entre nossas metas aumentar a articulação entre as Fundações de modo a incentivar as parcerias inter-FAPs em temas de interesse comum, com transferência de práticas e procedimentos já consolidados. Mais ainda, entre as propostas para esta gestão está o fomento ao intercâmbio de programas temáticos de interesse comuns, além da criação de uma Rede de Difusão Científica e uma de Assessoria Internacional para fortalecer e ampliar as ações de internacionalização e atuar efetivamente na difusão, articulação e popularização da ciência.

NC: Qual o principal desafio que espera enfrentar nesse biênio?

ZT: Neste momento em que o País se encontra em dificuldades econômicas, o principal desafio, tanto do Confap quanto das FAPs, é a permanente defesa da regularidade e efetiva execução financeira dos repasses das dotações orçamentárias para as Fundações. Uma nação só pode se desenvolver com o constante investimento em pesquisas e na formação de recursos humanos altamente qualificados. Nesse ponto, é importante ressaltar a necessidade de continuar as parcerias e manter os compromissos com os organismos parceiros, tendo em vista que o Confap é o articulador, incentivador e coordenador das ações, mas as Fundações precisam estar fortalecidas e ter os recursos financeiros e a autonomia garantidos pelos governos estaduais para que as parcerias sejam concretizadas e gerem resultados.

NC: Nos seus planos futuros, há alguma estratégia voltada para as Fundações da região Nordeste?

ZT: A região Nordeste já se organiza de forma muito forte e competente, com Faps atuantes e com uma Diretoria Regional que contribui para a discussão regional e a construção de agendas específicas. Como Conselho, vamos apoiar programas e projetos voltados ao incentivo da produção científica na região, sobretudo que contribuam para o desenvolvimento econômico e social. Neste sentido, o fato do vice-presidente do Confap ser do Nordeste é de fundamental importância e deverá contribuir ainda mais com as ações nessa região.

NC: O presidente da Fapesq, Claudio Furtado, é o seu vice. Como será essa gestão compartilhada?

ZT: O vice-presidente tem um papel fundamental dentro da organização do Confap. Nosso atual vice é muito competente, experiente e preparado e já está contribuindo de forma efetiva para a gestão. A representação à frente do Confap tanto do Centro-Oeste quanto do Nordeste confirma a perspectiva nacional do Conselho ao eleger representantes de regiões diferentes a cada gestão.

NC: Como se sente sendo a primeira mulher a assumir a presidência da entidade, que tem 26 Fundações e apenas duas são presididas por mulheres?

ZT: A participação das mulheres na ciência tem sido muito efetiva, com cientistas mulheres importantíssimas ao longo da história. No caso da gestão da ciência, ainda precisamos de mais representação e temos ocupado esses lugares pelo nosso trabalho e competência. Para o Confap, que atua na política e articulação do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, essa representação de uma mulher na presidência contribui para reduzir assimetrias de gênero e de região no Brasil. Me sinto muito honrada em presidir o Confap, por ser uma instituição que tem credibilidade no âmbito nacional e internacional, que tem respeito e uma representação forte no País, por meio do conjunto de suas Fundações, e participa de todos os conselhos deliberativos ligados à política de ciência no Brasil, além de possuir uma rede de parceiros importantes, estabelecida com agências federais e organismos internacionais.

NC: A experiência frente à presidência da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás lhe ajudará de alguma forma nessa nova empreitada?

ZT: As Fundações têm estruturas operacionais e constituições legais muito semelhantes e desenvolvem programas e projetos em sinergias umas com as outras. A experiência na Fapeg desde 2011 me possibilitou liderar programas e projetos de parcerias tanto nacionais quanto internacionais. Além disso, nos dois últimos anos fui vice-presidente do Confap e pude conhecer profundamente a estrutura do Conselho, as Fundações associadas, os programas e projetos nos quais somos parceiros. Tenho um ótimo diálogo com os presidentes de todas as Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa e isso é fundamental para que uma gestão seja compartilhada e atue em equipe.

NC: Como avalia as medidas do governo Temer na área da CT&I que incluem, por exemplo, a fusão dos ministérios de C&TI e Comunicações, rebaixamento das agências de fomento, fechamento da representação do CNPq do Nordeste, redução de recursos.

ZT: O contingenciamento é muito ruim e temos que lutar sempre para que isso não ocorra quando se trata de investimento em ciência. No entanto, mesmo tendo havido a fusão dos Ministérios, o ministro Kassab tem dado uma atenção muito grande para a ciência, a tecnologia e a inovação, valorizando as instituições ligadas ao MCTIC. Basta lembrar que o CNPq desde o final do ano passado voltou a liberar recursos e a desenvolver os seus importantes programas. Da mesma forma, o diálogo com o Confap tem sido muito produtivo para a construção de novas parcerias e continuidade dos programas desenvolvidos com as Faps. O Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia voltou a se reunir e a colocar a pauta da ciência em discussão, o que é fundamental para melhorar o sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação e propor alternativas que tragam impacto positivo para o setor.

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