Uma fórmula para aumentar a produção de leite Inovação

terça-feira, 23 agosto 2022
Nova tecnologia é útil para a mastite, uma das doenças mais comuns no rebanho leiteiro – Foto: Cícero Oliveira

Cientistas da UFRN criam formulação para prevenir infecções com componentes naturais, renováveis e que não agridem o ambiente

Um grupo de inventores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA) criou uma inovação na área veterinária e farmacêutica: um produto para ser usado na pós-ordenha, capaz de prevenir infecções mamárias em caprinos e bovinos, como a mastite. Denominado Antisséptico à base de extrato pirolenhoso de eucalipto para uso na pós-ordenha de animais leiteiros, a solução tem componentes naturais, renováveis e que não agridem o ambiente nas fases de produção e utilização. Coordenador do grupo que envolve dez pesquisadores, Alexandre Santos Pimenta explica que a tecnologia tem como princípio ativo o extrato pirolenhoso (EP), um coproduto líquido da produção industrial do carvão vegetal com efeito antibiótico comprovado cientificamente.

“A partir da comprovação dos efeitos bioativos do EP, foram desenvolvidas diferentes formulações, testadas em ensaios microbiológicos contra bactérias causadoras da mastite, primeiro in vitro e depois in vivo, com aplicação tópica das formulações diluídas nos tetos de caprinos e bovinos leiteiros. Os resultados da pesquisa, com processo de produção e produtos patenteados, vem de uma parceria formada há quatro anos. Os resultados de laboratório e de campo comprovaram o efeito antibiótico do produto, apresentando a mesma eficácia em comparação com produto convencional de referência. Além disso, não ocorreu alteração na qualidade do leite, sequer alteração no metabolismo das células dos tetos dos animais, tampouco efeito tóxico às células dos animais”, frisa.

Em vídeo, professor Alexandre explica pesquisa e parte da metodologia

Decantação do pirolenhoso é realizada em etapas na Escola Agrícola de Jundiaí – Foto: Cícero Oliveira

A mastite é um processo inflamatório da glândula mamária nos animais leiteiros provocada por bactérias patogênicas. Esses micróbios costumam atuar no período da pós-ordenha, momento em que os canais dos tetos dos animais estão abertos e se constituem em porta de entrada para os chamados microrganismos patogênicos, tais como Staphylococcus aureusPseudomonas aeruginosa e Escherichia coli. A inflamação pode provocar sérias perdas na produção dependendo de seu alcance.

Um dos caminhos para inibir a ocorrência de mastites é o uso justamente de antissépticos, como o desenvolvido de forma inédita pelos cientistas da UFRN e da UFERSA. Essas substâncias podem provocar a redução do número de bactérias na pele dos tetos em mais de 90% depois da ordenha. Contudo, de uma forma geral, os microrganismos causadores da mastite vêm adquirindo resistência aos produtos antibióticos usados para o controle da doença, seja pelas limitações de cada antisséptico ou o uso inadequado ou em baixas concentrações de químicos antimicrobianos. Uma outra explicação é a capacidade desses micróbios de formar colônias bacterianas denominadas biofilmes, um tipo de agrupamento com estrutura que confere proteção às condições adversas. De todo modo, a situação leva a uma seleção natural de cepas resistentes, contexto que indica a relevância de utilização de novos produtos para limpeza pós-ordenha.

A invenção

Professor da Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ), Alexandre Pimenta identifica que a invenção desse novo produto, cujo depósito de pedido de patente ocorreu no último mês de junho, refere-se a um processo de produção e purificação de extrato pirolenhoso (EP) em grau farmacêutico, concentração do produto para redução do teor de água e seu posterior uso após diluição em água. O processo parte da carbonização da lenha, passando pela produção dos líquidos pirolenhosos brutos e posterior refino e ultrainfiltração desses líquidos para obtenção do EP grau farmacêutico.

Ele contextualiza que um ponto importante na caminhada aconteceu a partir de uma publicação de 2020, fruto da dissertação de Waleska Nayane Costa Soares, na qual foi feito um trabalho exploratório com extratos pirolenhosos de duas espécies florestais, a jurema-preta e o eucalipto. Nessa pesquisa, os pesquisadores viram a necessidade de ser formulado um produto antisséptico a partir de extratos pirolenhosos e não somente utilizar esses extratos em seu formato original, porque sozinho o extrato não era efetivo. Este segundo passo acontece nos dois anos seguintes.

“Apesar da conexão, no presente pedido de patente, as reivindicações se referem a uma formulação concentrada e aditivada com alguns componentes, além da adição de emulsificantes, ou seja, um produto em que o extrato pirolenhoso foi primeiramente processado e purificado em grau farmacêutico e testado para comprovar a ausência de uma série de contaminantes que o habilitassem a receber esse grau de pureza. A seguir, o EP grau farmacêutico passou por um processo de concentração por evaporação e depois uma aditivação com dois outros componentes. Trata-se, portanto, de uma formulação inteiramente nova. Disso resultou o antisséptico, produto natural derivado de lenha de reflorestamento do eucalipto clonal, viável tecnicamente, um produto com baixo custo de produção e utilização, cujo processo de obtenção não é agressivo ao meio ambiente em nenhuma das suas etapas”, explica o docente do curso de Engenharia Florestal.

O estudo utilizou as instalações do Laboratório de Tecnologia da MaDeira e Energia da Biomassa Florestal, da UFRN, e do Laboratório de Microbiologia Veterinária e Biotecnologia Animal, da UFERSA, e tem uma lista de extensa de participantes: Francisco Marlon Carneiro Feijó, Nilza Dutra Alves, Caio Sergio dos Santos, Tatiane Kelly Barbosa de Azevêdo, Alexsandra Fernandes Pereira, Gil Sander Prospero Gama, Bismarck Alves da Silva e Gabriel Siqueira Andrade, além de Alexandre e Waleska.

O Brasil e o leite

Com mais de 35 bilhões de litros de leite produzidos no ano de 2021, o Brasil está no grupo de maiores produtores de leite do mundo, junto com Estados Unidos, Índia e China. Ao todo, a sua cadeia produtiva engloba cerca de 50 milhões de animais. Dados da Embrapa publicados em 2020 mostravam que, especificamente em relação a vacas ordenhadas, o Brasil detinha o segundo maior rebanho no mundo, atrás apenas da Índia. No mesmo documento, o valor bruto da produção primária de leite atingia quase R$ 35 bilhões, o sétimo maior entre os produtos agropecuários nacionais. Já na indústria de alimentos, esse valor mais do que duplica, com o faturamento líquido dos laticínios atingindo R$ 70,9 bilhões.

Denominado Cadeia produtiva do leite no Brasil: produção primária, o levantamento salienta que os números expressivos demonstram a importância de um setor que vem passando por grande transformação ao longo das últimas duas décadas. Nesse período, a produção de leite aumentou quase 80% utilizando praticamente o mesmo número de vacas ordenhadas, graças à elevação da produtividade do rebanho. No documento, há a afirmação de que, “graças à adoção de novas tecnologias, foi possível um aumento significativo da produtividade dos animais”. No fervilhar de números e em sua magnitude, emerge a relevância para a incorporação de novas tecnologias capazes de provocar grande impacto na melhoria de produtividade e competitividade da produção no campo.

“As infecções causadas por microrganismos sempre são uma preocupação em qualquer área da saúde. A alta incidência da mastite nos rebanhos leiteiros provocam prejuízos de quase R$ 9 bilhões por ano, entre perda de produção, custos para o produtor rural com consultas e medicação e até descarte de animais. A preocupação

Fonte: AGIR/UFRN

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