Esse efeito colateral em específico, também chamado de disgeusia, é foco de uma pesquisa que vem sendo desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal do Ceará. A partir de terapia com uso de laser, a equipe de pesquisadores promove a proteção das papilas gustativas, normalmente atingidas pela quimioterapia, o que gera a perda de apetite.
Evitar a disgeusia é importante para garantir que o paciente consiga manter uma boa alimentação durante todo o tratamento: se a alimentação estiver prejudicada, haverá maior susceptibilidade aos efeitos negativos da quimio, aumentando as chances de sua interrupção.
Foi pensando nisso, e também considerando que não há medicamentos totalmente eficazes para combater a disgeusia, que os pesquisadores decidiram testar o uso do laser, aplicando-o diretamente sobre as papilas gustativas, como forma de reconstruí-las. São elas as responsáveis por fazer o paladar funcionar corretamente, dando informações sobre as condições e o sabor do alimento, por exemplo.
A lógica por trás do procedimento está baseada na capacidade que o laser tem de reverter danos aos tecidos do organismo humano por meio de fótons de luz, que são absorvidos e estimulam a reprodução e cicatrização celular. Isso já é feito para tratar ferimentos no tecido cutâneo (pele), por exemplo. A ideia, portanto, era que os botões gustativos pudessem também ser beneficiados com esse estímulo.
A prática tem se mostrado tão promissora quanto a teoria até aqui. A equipe acompanhou, durante seis meses, 135 pacientes com câncer de mama em tratamento com quimioterapia, divididos em dois grupos, com apenas um deles recebendo a terapia com laser nas papilas gustativas.
Com isso, a eficácia da quimioterapia acaba por ser melhor garantida, já que os medicamentos podem continuar a ser aplicados sem permitir brechas para o desenvolvimento de resistência tumoral.
“Quando o paciente perde muito peso, o oncologista tem de diminuir a dose do quimioterápico ou até suspender o tratamento. Toda vez que você para de administrar a droga, o tumor tende a desenvolver resistência. Se o oncologista consegue sustentar aquela dose durante todo o tratamento, a possibilidade de cura aumenta significativamente”, explica o Prof. Paulo Goberlânio.
Metodologia recente
A UFC conta, desde maio de 2022, com um Centro de Laserterapia em Odontologia (CELO), vinculado à Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem, que já vem aplicando a tecnologia como recurso terapêutico para diferentes problemas bucais, de feridas à recuperação de pós-operatórios.
Além de eficaz, o tratamento conta com uma boa dose de praticidade. “O laser é um aparelho portátil, então a gente consegue levar [para qualquer lugar]. É um aparelho só, que tem uma potência fixa de 100 miliwatts, e tem comprimentos de ondas diferentes”, explica a pesquisadora Cássia Nóbrega, cuja dissertação de mestrado desenvolveu-se em torno da laserterapia nos pacientes de câncer.
O uso do laser para restauração e cicatrização celular já é abrangente, mas algo relativamente novo, sobretudo no campo da odontologia. “Se formos buscar na literatura, há uma grande gama de protocolos diferentes, porque a gente não sabe ainda qual o melhor para o tratamento dessa condição”, diz a Profª Ana Paula Alves, que também orienta o estudo.
Por isso, a pesquisa não deve parar aí, já que agora a ideia é justamente estudar os possíveis protocolos de aplicação do laser para uma melhor eficiência no tratamento, inclusive reduzindo o tempo necessário para a terapia.
“Conseguimos dar uma condição nutricional melhor para esses pacientes”, ressalta Cássia. “O que a gente quer descobrir é qual laser vai ter mais eficácia, com menor tempo clínico. [Isso] leva à necessidade de outros estudos, principalmente estudos laboratoriais, para a gente entender qual o mecanismo real de ação da disgeusia”, projeta.
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