Suicídio no campo Pesquisa

terça-feira, 8 outubro 2019
Foto: https://commons.wikimedia.org - Topster37 – CC BY-SA 4.0

Mortalidade por suicídio é maior para trabalhadores da agropecuária, aponta estudo da UFBA

Em setembro, mês dedicado, mundialmente, à prevenção ao suicídio, dados brasileiros soaram como um alerta: mais de 8,5 mil casos são registrados por ano no país. E essas mortes podem variar de acordo com os postos de trabalho ocupados. É o que aponta um novo estudo divulgado pelo Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Segundo o levantamento, trabalhadores da agropecuária têm a maior mortalidade por suicídio no país, entre todas as categorias profissionais investigadas.

A pesquisa analisou dados de 2007 a 2015, quando foram registrados 77.373 suicídios no Brasil. No primeiro ano, a mortalidade entre os agropecuaristas foi 16,6 por 100 mil habitantes. Em 2015, esse índice saltou para 20,5, o que equivale ao dobro da média para todos os trabalhadores em geral. Os pesquisadores analisaram registros do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

“Nossa intenção foi verificar se houve diferenças da mortalidade por suicídio entre grupos ocupacionais, sugestivas da participação de fatores laborais na sua determinação”, explica a professora Vilma Santana, coordenadora do Programa Integrado em Saúde Ambiental e do Trabalhador do ISC/UFBA, que liderou o estudo. Ela afirma que a associação entre trabalho na agropecuária e suicídio não é exclusiva do Brasil. “Em várias regiões do mundo, estudos confirmam essa relação”, observa.

Fatores como baixa renda, instabilidade no emprego, pressão por produtividade, acesso limitado a educação e serviços de saúde de qualidade podem ser algumas das hipóteses para o maior risco de suicídios entre os trabalhadores da agropecuária. Ainda de acordo com os pesquisadores, vários estudos também sugerem que a exposição a substâncias químicas presentes nos agrotóxicos pode ser uma causa importante.

“Muitas dessas substâncias podem levar à depressão e ansiedade, entre outros transtornos mentais, ou ainda a doenças neurodegenerativas, que podem contribuir para o suicídio” destaca a pesquisadora Milena Cordeiro, coordenadora do estudo.

Outros grupos

Os trabalhadores da indústria registraram a segunda maior taxa de suicídio no país, a que mais cresceu no período. Em 2007, a taxa entre os industriários foi de 10,8 por 100 mil habitantes, passando para 14,2 em 2015. Isso equivale a um crescimento de 30% na mortalidade por suicídio.

Na avaliação para homens e mulheres, separadamente, as maiores estimativas continuam sendo para o sexo masculino em todos os anos analisados, tanto entre os agropecuários como entre os industriários. “Quando analisamos por idade, verificamos que, na agropecuária, não houve predomínio dos homens em relação às mulheres que suicidaram. Mas, sim, na medida em que envelheceram, quando a mortalidade por suicídio ficou novamente maior entre os homens. Na indústria, o risco de suicídio foi sempre maior no sexo masculino, sem diferenças significativas relativas ao grupo ocupacional”, explica Vilma Santana.

Ainda de acordo com o levantamento, servidores de instituições militares, a exemplo das Forças Armadas, bombeiros e policiais, também apresentaram um risco de suicídio elevado. No entanto, o número absoluto de casos no período do estudo, menos de 100 entre os homens e de 30 em mulheres, limita as conclusões. Para os pesquisadores, são necessários estudos específicos mais adequados às características desses servidores.

“Alguns subgrupos ocupacionais também tiveram estimativas elevadas, como os vendedores e trabalhadores dos serviços de proteção e segurança, assim como empregadas domésticas, que também precisarão ser focalizados em pesquisas específicas”, avalia Milena Cordeiro.

Para a professora Vilma Santana, além de traçar um panorama sobre a mortalidade por suicídio no país, os achados do estudo também servem de alerta para a incorporação das ações de prevenção no ambiente de trabalho por meio de programas de promoção da saúde e qualidade de vida no âmbito das empresas e instituições. “A desestigmatização das doenças mentais e o fortalecimento de redes de apoio favorecem o acolhimento e propiciam o correto encaminhamento”, conclui.

Veja o estudo.

Fonte: Boletim Edgar Digital/UFBA

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