Ante os horrores hoje enfrentados pela sociedade brasileira, a universidade pública busca ao mesmo tempo decifrá-los e agir para ajudar a barrá-los
Por Mariluce Moura
O que o ato público nacional “Educação contra a barbárie”, marcado para a próxima terça-feira, 18 de maio, tem a ver com a indagação “Por que falta vacina no Brasil?”, título da nota técnica do boletim número 30 da Rede de Pesquisa Solidária da sexta-feira passada, 7 de maio?
E o que ambos, um movimento político e um conteúdo de divulgação científica, têm a ver com a afirmação de que “o bolsonarismo é uma seita”, com a conclusão de que “no horizonte do projeto bolsonarista está um estranho Brasil pátria cristã” ou com a proposição de que “Bolsonaro venceu a eleição de 2018 porque parte dos brasileiros foi seduzida pela ideia da violência redentora”?
Resposta: primeiro, são os cinco flores de um solo comum, a ameaçada universidade pública brasileira. Em segundo lugar, são alguns dos novos e inumeráveis exemplos do gigantesco esforço que ela realiza, nos variados territórios que a compõem, para estudar, compreender e, ao mesmo tempo, contribuir para minorar as dores excruciantes que hoje dilaceram a sociedade brasileira – na linha de frente, as mais de 420 mil mortes até agora decorrentes da covid, das quais parcela considerável poderia ter sido evitada por uma gestão minimamente competente e responsável da saúde pública.
Em tempo, antes de nos determos em cada exemplo e de talvez encontrar um novo fio robusto de articulação entre eles, um pequeno mapa para os leitores: o espírito do “Educação contra a barbárie: ato público nacional em defesa da educação”, proposto pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), sob a liderança do reitor João Carlos Salles, está bem exposto aqui. As 20 páginas da nota técnica sobre as vacinas coordenada pelos sociólogos Fernanda de Negri, do Instituto de Pesquisas Puras e Aplicadas (Ipea) e Glauco Arbix, da Universidade de São Paulo (USP) estão disponíveis aqui.
O bolsonarismo como seita e implicando uma visão de mundo bélica está no livro mais recente de João Cezar de Castro Rocha, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Guerra cultural e retórica do ódio: crônicas de um Brasil pós-político, lançado neste ano pela editora Caminhos, de Goiânia. De forma mais compacta, os resultados de sua pesquisa estão também no terceiro episódio em vídeo da “Pequena enciclopédia do bolsonarismo”, produção da revista Carta Capital, apresentado pelo autor.
Um percurso sobre a construção da pátria cristã a cargo do filósofo Paulo Arantes, professor aposentado da USP, com comentários de Miguel Lago, cientista político, professor visitante na E-Paris, está no vídeo de uma mesa de debates no Congresso Virtual da UFBA de fevereiro deste ano, e, por fim, a explicação sobre a vitória de Bolsonaro consta do livro A república das milícias: dos esquadrões da morte à era Bolsonaro, de Bruno Paes Manso, jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, lançado pela editora Todavia no ano passado.
“(…) os eleitores escolheram um justiceiro para governá-los. Como se o país decidisse abandonar suas instituições democráticas para se tornar uma enorme Rio das Pedras gerida por princípios milicianos”, diz Paes Manso no final de uma obra (p. 294), absolutamente indispensável, assim como a conferência de Arantes e as proposições de Castro Rocha, para refletirmos sobre a natureza da tragédia que o Brasil vive hoje.
Para continuar lendo acesse: https://ciencianarua.net/sob-ameaca-a-universidade-publica-pensa-pesquisa-e-age/
Fonte: Boletim Ciência na Rua
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