Pesquisadores realizam levantamento inédito e encontram cobras paraibanas em risco que não estão na lista nacional de espécies ameaçadas de extinção
O ponto de partida foi levantar informações sobre as serpentes da Paraíba. Como resultado, pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) descobriram 16 espécies em risco de extinção, mas que não figuram na lista nacional de espécies ameaçadas. Esse trabalho inédito virou o livro “Serpentes da Paraíba: diversidade e conservação” que registra a diversidade da ofiofauna paraibana em áreas de Floresta Atlântica e Caatinga do Estado e alerta para a importância da preservação das cobras.
Para o professor Gentil Alves Pereira Filho, pesquisador associado a UFPB, com pós doutorado no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP), o que mais lhe chamou a atenção no levantamento foi a constatação da falta de conhecimento sobre estes animais na região da Paraíba. “Esta falta de conhecimento não está restrita apenas ao nosso estado, mas também a região Nordeste como um todo”, constata.
O livro traz informações sobre ecologia, distribuição, taxonomia e conservação das serpentes da área. São abordadas 63 espécies de serpentes registradas em vários pontos da Floresta Atlântica e Caatinga. A obra ainda conta com mais de 200 fotografias coloridas das espécies e dos ambientes onde ocorrem. Para cada espécie abordada são fornecidos desenhos da região cefálica em vista dorsal e lateral, folidose (disposição das escamas) de vários exemplares e informações sobre história natural e distribuição.
“O levantamento é extremamente importante devido ao ineditismo, e por, obviamente, apresentar de forma detalhada cada uma das espécies registradas na Paraíba. Com estes dados disponíveis, outros pesquisadores poderão usar como comparação e referência para trabalhos futuros. Outro ponto importante é conscientizar as pessoas (população de forma geral) que as serpentes não são estes terríveis animais que muitos acreditam. As serpentes (cobras) são animais belos e complexos, que desempenham papel importante na natureza, sendo assim parte importante dos ecossistemas”, explica Pereira Filho.
Conflitos e usos
De acordo com o pesquisador, a elaboração do livro durou cerca de seis anos e reuni os dados resultantes de pesquisa de campo, laboratório e consultas a coleções zoológicas importantes como a da UFPB e a do MZUSP. Entre os aspectos abordados no livro estão o isolamento das populações em pequenos fragmentos, destruição de habitat, caça, matança indiscriminada, além de conflitos e usos, são discutidos visando o melhor entendimento de tão singular grupo zoológico.
“As serpentes de uma forma geral possuem relações ambíguas com as populações humanas. Muitas vezes são alvo de admiração e encantamento, porém, na grande, maioria são alvo de matança indiscriminada, repúdio e ignorância. O termo usos se refere realmente a usos, no sentido próprio da palavra. Muitas espécies são usadas em rituais mágicos religiosos e até mesmo como troféus de caça e ornamentação. Isto é reflexo de pura ignorância. O termo conflito, também é no sentido estrito da palavra, uma vez que estes animais, mesmo espécies inofensivas, são consideradas perigosas e até mesmo malignas. Um exemplo claro de conflito é o vivido por donos de propriedades rurais que ao encontrarem serpentes em suas fazendas e granjas, as consideram uma ameaça para as pessoas e para os animais, abatendo-as na esmagadora maioria das vezes”, lamenta Pereira Filho.
O livro será lançado no próximo dia 29 de setembro no Centro de Cultura Zarinha, na Avenida Nego, 140, Tambaú às 19h, em João Pessoa. Além do professor Gentil Alves Pereira Filho, o livro “Serpentes da Paraíba: diversidade e conservação” tem como autores o professor Rômulo Alves, do Departamento de Biologia da UEPB, o pesquisador Washington Luiz e o professor Frederico Franca, ambos da UFPB.
Os interessados podem acessar a página no Facebook da obra.
Edna Ferreira
A Paraíba tem mais de 60 espécies de serpentes catalogadas nos biomas da Mata Atlântica e da Caatinga. São serpentes como jararacas, cascaveis, corais, jiboias, cobras preta e verde etc.