Reforço da natureza para controlar o diabetes Saúde

quarta-feira, 27 junho 2018
A "pata de vaca" é facilmente encontrada no nordeste. Foto: Divulgação.

Pesquisa com substâncias extraídas de planta conhecida como “pata de vaca” comprova efeitos positivos no controle da glicose

O uso de plantas como remédios para tratamento de algumas doenças, prática conhecida por nossas avós, está cada vez mais sendo investigada e confirmada pela ciência. Substâncias contidas na planta popularmente conhecida como “pata de vaca”, e facilmente encontrada no nordeste, são alvos de estudo sobre os efeitos positivos no controle do diabetes.

A professora Ana Cláudia de Oliveira comprovou em seus estudos para tese de doutorado, no Programa de Pós-Graduação Multicêntrico na área de Bioquímica e Biologia Molecular (PMBqBM), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), os efeitos hipoglicêmicos da lectina extraída da referida planta.

De acordo com a pesquisadora, o objetivo central do projeto foi avaliar o efeito hipoglicêmico de uma lectina purificada das folhas da Bauhinia monandra (pata de vaca), que é denominada de BmoLL. Lectinas são proteínas que podem ser purificadas (extraídas) de várias espécies; as mais estudadas são as de origem vegetal. Ainda segundo ela, as lectinas são muito pesquisadas por apresentarem diversas aplicações biológicas, como indutoras de processos de biossinalização celular, atividade anti-inflamatória, antimicrobiana, inseticida, e muitas outras.

“Segundo o conhecimento popular, o chá da “pata de vaca” ajuda a controlar a diabetes. Nas pesquisas, pudemos comprovar que a planta realmente tem efeitos satisfatórios tanto no controle da diabetes quanto em seus sintomas colaterais, como o colesterol e outros parâmetros bioquímicos”, revela Ana Cláudia.

A pesquisadora explica como surgiu a ideia de estudar a planta “pata de vaca”. Ouça a explicação:

A professora Ana Cláudia de Oliveira comprovou os efeitos hipoglicêmicos da “pata de vaca”. Foto: Divulgação.

Parcerias

A pesquisa, que completou três anos, foi realizada em diferentes etapas. A primeira etapa é a purificação da BmoLL, que envolve vários estágios até a obtenção da lectina pura e em quantidades suficientes para desenvolver o experimento em animais. A purificação da BmoLL foi realizada no Laboratório de Biologia Celular e Molecular (LABCEMOL) da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa).

“As etapas de purificação seguem o protocolo já estabelecido pela Professora Dra. Luana Cassandra B. B. Coelho da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e que é nossa colaboradora na pesquisa. Após a purificação da BmoLL, iniciamos os ensaios in vivo utilizando como modelo animal ratos Wistar obtidos no biotério da UERN, detalha Ana Cláudia.

No modelo animal foi realizada a indução do desenvolvimento do diabetes tipo 2 (forma mais prevalente da doença) e, após o teste de confirmação da instalação do diabetes nos animais, alguns deles foram submetidos ao tratamento com a lectina (testando diferentes doses) enquanto outros animais foram tratados com um fármaco hipoglicemiante comercial, como parâmetro controle. Após o período de tratamento, foi realizada a coleta do sangue dos animais para as dosagens bioquímicas, e coleta dos órgãos para avalições histológicas e histoquímicas.

“Todos os resultados foram avaliados por análise estatística, o que é necessário para validar cientificamente os resultados. Todos os parâmetros analisados foram estatisticamente significativos. Agora estamos finalizando as análises histológicas e histoquímicas e nossa meta é finalizar a pesquisa ainda este ano”, explica a pesquisadora.

A pesquisadora acredita num medicamento a partir dos resultados de seu estudo. Foto: Divulgação.

Um possível medicamento

A pesquisa é orientada pela Professora Dra. Michele Dalvine Correia, que é responsável pelo LABCEMOL/Ufersa. Após finalizar a tese de doutorado, Ana Cláudia pretende dar continuidade ao estudo para avaliar com maior precisão os efeitos hipoglicêmicos da lectina da “pata de vaca”.

Quanto às perspectivas futuras do uso da lectina na forma de medicamento, Ana Cláudia é otimista, mas não descarta que ainda há muito trabalho pela frente. “Para isso [um medicamento], muitos outros ensaios devem ser realizados para se ter a certeza da sua eficácia e segurança quanto ao uso em humanos. Além disso, é necessário interesse por parte da indústria farmacêutica e investimento para o desenvolvimento de toda a pesquisa necessária para esse fim”, declara.

É possível o desenvolvimento de um novo fármaco para o controle do diabetes? Ouça a resposta da professora Ana Cláudia.

Ana Cláudia é graduada em Nutrição pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), Mestre em Bioquímica pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Doutoranda pelo PMBqBM e Professora Adjunta III da UERN nas disciplinas Nutrição e Saúde; Citologia e Organização Biomolecular; Higiene e Saúde.

Edna Ferreira

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