Química verde Inovação

quarta-feira, 7 novembro 2018
Os nanopigmentos, respondem à aplicação de um campo magnético por meio de um imã.

Nanopigmentos magnéticos têm diversas aplicações

Cientistas acabam de desenvolver pigmentos com aplicações inusitadas que vão desde promover novas cores para esmaltes de unha até a marcação de animais de um rebanho, passando por outros empregos em diversas áreas. Trata-se dos nanopigmentos magnéticos desenvolvidos no Laboratório de Nanotecnologia (LNANO) da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF), em parceria com a empresa TecSinapse, e que já estão à disposição do setor industrial. O produto será apresentado no 4º Workshop Nichos de Mercado para o Setor Agroindustrial, nos dias 7 e 8 de novembro, em Fortaleza (CE).

O desenvolvimento da tecnologia está em consonância com os princípios da química verde, que tem como um de seus pilares a preocupação com o meio ambiente. O processo de produção dos nanopigmentos magnéticos se dá por meio de rotas eco amigáveis, ou seja, com menor produção de resíduos e toxicidade, sendo que durante o processo é possível realizar a modulação das cores das nanopartículas magnéticas, conferindo-lhe novas propriedades.

“O uso desse material pode ocorrer em diversos setores, especialmente na agricultura, mas também na biomedicina, na farmacologia e até mesmo na indústria têxtil e cosmética”, diz o pesquisador da Embrapa Luciano Paulino, que coordena o LNANO.

Novas características

Diferentemente de um pigmento tradicional em que a cor consiste na característica mais marcante, os nanopigmentos magnéticos, além da cor, respondem à aplicação de um campo magnético externo por meio de um imã, o que lhes dá novas características. Além disso, o cientista da Embrapa conta que novas propriedades, como ação antimicrobiana, podem ser incorporadas aos nanopigmentos magnéticos de modo a expandir ainda mais a multifuncionalidade do produto.

A tecnologia poderá servir na biologia para a separação e marcação de organismos, órgãos, tecidos, células e moléculas. Na medicina, poderá auxiliar diagnósticos e tratamentos de doenças e infecções. Na área da farmacologia, será capaz de promover transporte e liberação controlada de princípios ativos. Na cosmetologia, permitirá a criação de produtos com novos efeitos e cores. Há potenciais aplicações em vários setores industriais, como na fabricação de catalisadores e sensores, ou na área ambiental, na remediação de efluentes contaminados com agentes químicos e biológicos. Na agropecuária, poderá auxiliar no controle de pragas e patógenos agrícolas e até marcar animais visando à rastreabilidade de rebanhos.

Ampliação da gama de cores

Até o desenvolvimento dessa pesquisa, formalizada em 2017 com um contrato de parceria entre a Embrapa e a TecSinapse, o mercado contava com nanomateriais magnéticos em cores variando apenas entre o marrom-avermelhado e o preto. Isso porque a síntese de nanopartículas magnéticas era bastante limitada na coloração final dos produtos. Esse trabalho permitiu a ampliação da gama de cores disponíveis, que agora podem ser verde, azul, amarela e vinho, por exemplo.

“A partir do momento em que se consegue mudar a cor, obtém-se o ganho de novas propriedades que podem ser usadas para marcar células, fazer absorção a tintas e, no caso da pecuária, fazer a marcação de animais. Abrem-se ainda oportunidades de aplicação nas indústrias têxtil e veterinária”, exemplifica a pesquisadora da TecSinapse Cinthia Bonatto, ao explicar as diferentes possibilidades para uso da tecnologia.

Uso da tecnologia na pecuária

O pesquisador Luciano Paulino comenta que os pequenos produtores geralmente não têm acesso a tecnologias modernas para identificação dos rebanhos – como chips e brincos. Esse público ainda utiliza o processo de marcação do gado a ferro quente. Essa identificação de animais é uma das possíveis aplicações da tecnologia, pois conta com diferentes cores e é capaz de aderir à pele dos bovinos. “É interessante destacar também que as nanopartículas podem apresentar outras inúmeras propriedades, entre elas as antimicrobianas, o que abre possibilidades de fabricação de fungicidas, bactericidas e nematicidas para uso veterinário”, observa o cientista da Embrapa.

“Também é possível oferecer à indústria de cosméticos um esmalte de unhas na cor verde que atenda aos apelos da moda e responda positivamente a preocupações da medicina, como evitar alergias e outras reações”, exemplifica.

Nanotecnologia aproveitando resíduos

Na agropecuária, o aproveitamento de coprodutos como sangue, carapaças, cascas de ovos, palhas ou bagaços, além de reduzir o impacto negativo no ambiente, quando beneficiados, são materiais com alto potencial para fornecer moléculas à nanotecnologia verde, área que gera soluções inovadoras e eco amigáveis em escala nanométrica. Um nanômetro equivale a um milionésimo de milímetro.

Mercado e novos parceiros

Empresas do ramo de produtos biomédicos, têxteis, combustíveis e laboratórios de pesquisas já manifestam interesse nos nanopigmentos magnéticos. A validação da tecnologia com empresas interessadas em prospectar novos usos está em fase de desenvolvimento, como informa a pesquisadora Cinthia Bonatto. Ela conta que essa etapa é feita pela startup NanoDiversity, integrante da área de Pesquisa Aplicada da TecSinapse, que atua na produção de nanossistemas multifuncionais. A startup é uma espécie de “vitrine” tecnológica que compartilha com o mercado essa recente tecnologia desenvolvida na parceria público-privada.

Em outros segmentos da economia verde, os avanços em nanotecnologia (área do conhecimento que atua no nível molecular e integra várias ciências como física, química, biologia e engenharias) também surpreendem as indústrias e vêm colaborando para aumentar a sustentabilidade ambiental.

Nanopigmentos no 4º Workshop Nichos de Mercado para o Setor Agroindustrial

Os nanopigmentos magnéticos serão apresentados no 4º Workshop Nichos de Mercado para o Setor Agroindustrial, que acontecerá na sede de Fortaleza (CE) do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), nos dias 7 e 8 de novembro de 2018.

O workshop reunirá empreendedores, pesquisadores e empresas do setor agropecuário e agroindustrial, produtores rurais, distribuidores comerciais, profissionais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), formuladores e gestores de políticas públicas e estudantes de agronegócio.

As inscrições para o workshop são gratuitas e estão abertas até 5 de novembro no site do evento.

 

Fonte: Agência Embrapa de Notícias

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