Pesquisa de mestrado analisou as características da casca do fruto para avaliar possibilidade de consumo
A pitomba é uma fruta nativa do Brasil e abundante no Nordeste. Ela tem um sabor agridoce que agrada a muita gente, mas tem um porém: a polpa é pouca, representa apenas 15,4% do peso do fruto, diante de 40% da semente e 44,6% da casca.
Como só a polpa é consumida, a maior parte da pitomba é desperdiçada. Esse problema levou Layanne Nascimento Fraga a estudar a composição e as propriedades como fonte alimentar da casca, em seu mestrado, no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Nutrição (PPGCNUT), na Universidade Federal de Sergipe (UFS).
“A pitomba tem pouca polpa, que é apreciada porque tem um sabor agridoce, mas não estimula tanto a sua comercialização por conta do seu baixo rendimento. A casca tem o rendimento bem mais elevado e não é comercializado, até porque não se sabe sua composição, quais são seus benefícios à saúde”, explica a pesquisadora.
A orientadora de Layanne, Izabela Maria Montezano de Carvalho, pontua que não encontraram pesquisas que indicassem alguma finalidade para a casca da pitomba. Por isso, o estudo conduzido por elas foi apenas uma análise preliminar, para mapear o máximo de informações sobre o produto e nortear futuros estudos, mais aprofundados.
“Fizemos essa análise preliminar para ver se não encontraríamos, dentro desse grupo de testes, algum resultado que fosse indicativo de que ‘não, não é bom prosseguir com a pesquisa da casca’”, destaca Izabela.
Análise e resultados
Em resumo, Layanne e Izabela identificaram que a casca da pitomba traz uma quantidade razoável de Vitamina C, é abundante em minerais e possui propriedades antioxidantes, podendo contribuir para a prevenção de doenças crônicas, como o câncer e o mal de Alzheimer, por exemplo. A vitamina C está mais presente na polpa: 200,68 miligramas para cada 100 gramas. Na casca, são 128,34mg da vitamina para cada 100g. Como comparação, a laranja tem 53,7mg/100g de vitamina C, segundo a Tabela Brasileira de Composição dos Alimentos (TACO).
Quanto aos minerais, a casca apresentou valores mais expressivos do que a polpa. Os teores de Potássio, Cálcio e Magnésio, por exemplo, foram de 223mg, 78,9mg e 47,5mg, respectivamente, para cada 100 gramas. Na polpa, os valores, para os mesmos minerais, foram de 91,9mg, 23mg e 16,3mg para cada 100g.
Segundo Layanne, em sua dissertação, as frutas estão entre as principais fontes de minerais e a ingestão destes nutrientes em quantidades adequadas é importante para o bom funcionamento do organismo, contribuindo para o sistema imunológico ou para a formação óssea, por exemplo. Mas o potencial da contribuição da casca da pitomba para a saúde não para por aí.
“Com relação aos antioxidantes, essa proteção contra o estresse oxidativo, por todos os métodos que nós testamos, a casca apresentou um maior fator de proteção”, diz Layanne. “[Os antioxidantes] são os compostos bioativos nos alimentos, que podem ajudar na prevenção e diminuir a ocorrência de determinadas doenças”, completa.
“Pensando em antioxidantes na alimentação, as frutas, as verduras, hortaliças, de maneira geral, são fontes de antioxidantes naturais. O consumo diário está associado à [prevenção de] certas doenças, como as cardiovasculares, alguns tipos de câncer, mal de Alzheimer e outras doenças chamadas crônicas”, disserta Izabela.
Apreciada, mas não cultivada
A pitomba não costuma ser cultivada, a comercialização vem da colheita extrativista, ou seja, das pitombeiras que nascem nas matas e quintais. Sua árvore pode alcançar 12 metros de altura e dá frutos de janeiro a março, podendo estender a abril em alguns lugares. É típica da floresta amazônica e mata atlântica, mas se estabeleceu bem no semiárido.
O extrativismo é um problema, porque pode se tornar predatório. A destruição de matas nativas pela urbanização e pela agricultura predatória também ameaça a produção do fruto.
Para auxiliar no cultivo, este estudo da Universidade Federal Rural do Pernambuco organizou uma metodologia para a conservação das sementes e a produção de mudas da pitombeira. Naquele estado, a pitomba é utilizada para a produção de geleias, doces e outros alimentos.
Com a facilidade no cultivo e o aproveitamento rentável da casca, pode ser que a pitomba tenha seu uso ampliado como matéria-prima para produtos que gerem renda para comunidades do campo. Se casca da pitomba não vinha sendo estudada até agora, a semente já foi testada com sucesso para o combate a pragas na lavoura de feijão, soja e milho.
Pesquisas futuras
A professora Izabela Montezano coordena pesquisas sobre frutos nativos do Nordeste. Trata-se da “prospecção de potencial bioativo de frutos, de alimentos de origem vegetal de uma maneira geral”, segundo a docente.
“Temos focado muito nos frutos, para avaliar o potencial antioxidante, a composição, buscando por frutos ainda pouco conhecidos pela ciência – e a região Nordeste é muito rica nesse tipo de fruto”, diz Izabela, que é professora do Departamento de Nutrição e do mestrado do PPGCNUT.
Além disso, a docente coordena pesquisas integrando alunos de mestrado e de iniciação científica, para analisar o perfil de potencial funcional de cardápios de restaurantes, principalmente de instituições públicas, como o Restaurante Universitário da UFS e os de hospitais.
Outra vertente em que ela tem atuado é a análise de alimentos orgânicos. Sob sua orientação, uma aluna do mestrado estudará a composição nutricional de alimentos “tradicionais” (esses comprados em supermercados) em comparação à de alimentos orgânicos, que estão sendo cultivados em parceria com o Campus Rural da UFS.
Já a mestra Layanne foi aprovada no doutorado em Biotecnologia na UFS e pretende continuar pesquisando a pitomba, focando no estudo biotecnológico, para analisar o potencial para consumo e a viabilidade de usos, como a possível elaboração de uma farinha, por exemplo. “Botar essa casca pra frente”, conclui Izabela, que será coorientadora de Layanne no doutorado.
A dissertação está disponível no Repositório Institucional da UFS. Para acessar, clique aqui.
Fonte: Ascom da UFS
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