Projeto de estimulação transcraniana foi desenvolvido por pesquisadores da Facisa/UFRN e se mostrou eficaz na fase crônica da doença
Desenvolver um tratamento terapêutico e eficaz para doenças crônicas utilizando um equipamento móvel e barato. Foi com essa ideia, que pesquisadores da Pós-graduação em Ciências da Reabilitação da Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi (Facisa), campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Santa Cruz, utilizaram a técnica da Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC) para reduzir dores em pacientes infectados pela Chikungunya. O projeto de Estimulação Transcraniana da UFRN em pacientes com a Chikungunya é o primeiro a ser realizado no mundo.
A doença transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti é um problema no Brasil desde 2015, e provocou surtos em vários municípios brasileiros, principalmente nos dois últimos anos. Em novembro de 2017, o Ministério da Saúde identificou o Nordeste como a região com maior número de casos prováveis da febre Chikungunya (141.363 casos; 76,6%) em relação ao total do país.
Ainda em novembro, o RN apresentava 42,4% de residências com larvas do mosquito. De acordo com o Levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo Aedes Aegypti (LIRAa), de 165 municípios que participaram da pesquisa (de um total de 167), 70 estavam em situação de risco para surto de Chikungunya, Dengue e Zika. Outros 73 municípios estavam em estado de alerta.
Como funciona a técnica
A técnica da Estimulação Transcraniana aplicada pelos pesquisadores, em pacientes com Chikungunya, é um tratamento de neuromodulação para alterar a excitabilidade cerebral e diminuir as dores que evoluem para fase crônica (quando as dores nas articulações ultrapassam os três meses e podem perdurar por até seis anos).
Com o uso de um estimulador transcraniano móvel, os pacientes recebem microcorrentes que agem no cérebro durante 20 minutos e diminuem a percepção da dor. O equipamento foi desenvolvido por José Wanderson, engenheiro elétrico e mestrando em Neuroengenharia (Instituto Internacional de Neurociências/RN); professor Alexandre Okano (UFABC) e Rodrigo Pegado (Facisa/UFRN).
De acordo com o professor da Facisa e fisoterapeuta Rodrigo Pegado de Abreu Freitas, o equipamento colocado na cabeça dos pacientes possui dois eletrodos, um negativo e um positivo, que emitem uma microcorrente e fecha o fluxo de corrente cerebral. Um eletrodo fica acima do olho (parte supra orbital) e outro no córtex motor primário. “Quando o eletrodo é colocado no couro cabeludo do paciente, essa corrente penetra até chegar na região do córtex cerebral. Dessa forma, onde fica o eletrodo positivo, a gente excita o córtex cerebral, e onde fica o negativo a gente o deprime”, explica o professor.
Segundo Rodrigo Pegado, a excitação do córtex motor inibe áreas profundas do cérebro relacionadas à dor. Desse modo, inibindo áreas hiper excitadas devido a dor crônica, é possível diminuir a percepção dolorosa dos pacientes. “A neuromodulação só tem ação cerebral, só tem ação central. A gente modula os neurônios para que o cérebro perceba menos dor, consequentemente, todo corpo sente menos dor”,
detalha.
Aceitação do método
Os primeiros ensaios clínicos com a Chikungunya duraram 45 dias e foram realizados em 20 pacientes acima de 18 anos, cada um recebeu cinco aplicações. “Em cinco dias de neuromodulação, a gente consegue perdurar o efeito por duas ou três semanas. Em 10 dias de aplicação, a gente consegue perdurar por mais de um mês”, afirma Rodrigo Pegado.
Para identificar a aceitação dos pacientes, o grupo mensurou a dor em três escalas diferentes: a Escala Visual Analógica (EVA), o Questionário Mcgill e o Inventário Breve da Dor.
A primeira escala visual da dor, a EVA, avalia a dor num grau de zero a dez. Sendo dez a pior dor, e o zero ausência de dor. O Questionário Mcgill é utilizado na qualificação da dor. Nessa escala, os pacientes respondem a 40 questões. Como por exemplo, a dor é aguda ou em pancadas? No final, os pesquisadores definem um número. Por último, o Inventário Breve da Dor avalia a funcionalidade do paciente. Por exemplo, se ele consegue dormir, ir para o trabalho e como está a dor nas últimas 24h.
“Todos os pacientes apresentaram melhora na dor. No grupo que teve tratamento ativo houve melhora. Quanto mais aplicações, mais efeitos temos a longo prazo” reforça Rodrigo Pegado. A segunda fase de ensaios está em desenvolvimento e será com 40 pacientes, em dez aplicações.
Internacionalização
Os resultados despertaram o interesses de pesquisadores estrangeiros e com apoio da Secretaria de Relações Internacionais (SRI/UFRN), foram apresentados na Harvard Medical School, faculdade de medicina da Universidade de Harvard, onde está o maior centro de pesquisas em Neuromodulação.
O projeto recebeu importantes apoios internacionais como a do pesquisador Marom Bikson da City University of New York (Cuny), que realizou a modelagem computacional do fluxo de corrente no cérebro. E de Felipe Fregni, chefe do laboratório de Neuromodulação de Harvard, que vai colaborar com o próximo ensaio clínico sobre Chikungunya.
O grupo de pesquisa, que tem apoio de alunos do mestrado e da iniciação científica, desenvolve outros seis ensaios clínicos com a Dismenorreia Primária (cólicas pré-menstruais), Fibromialgia, Neuropatia Diabética, Dor óssea em pacientes com diálise (renal crônica), Transtorno da Ansiedade Generalizada (TAG) e Craving (compulsão alimentar). Há 700 pacientes com Fibromialgia na fila de espera pelo tratamento terapêutico.
“As únicas contra indicações são em mulheres grávidas, porque não sabemos os efeitos. Pacientes com histórico de crises convulsivas (como no caso da epilepsia) e pacientes com alguma lesão cerebral ou implantes metálicos na cabeça. Também evitamos crianças”, afirma Rodrigo
Fonte: Ascom/UFRN
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