Preservar e multiplicar os animais silvestres da Caatinga Pesquisa

segunda-feira, 24 abril 2017

 Na semana em que se comemora o Dia Nacional da Caatinga (28 de abril), o Nossa Ciência publica uma série de matérias sobre esse importante bioma exclusivamente brasileiro. Abrindo a sequência, uma reportagem sobre o trabalho dos pesquisadores do Laboratório de Conservação de Germoplasma Animal da Ufersa. 

Estudar a fisiologia reprodutiva de animais silvestres do bioma Caatinga, ajudando a preservar e multiplicar espécies que estejam em risco ou ameaçadas de extinção. Cateto, cutia, preá, tatu-peba, onça pintada e quati são alguns dos animais envolvidos nas pesquisas do Laboratório de Conservação de Germoplasma Animal (LCGA) da Universidade Federal Rural do Semi-árido (Ufersa). Desde o início de suas atividades, em agosto de 2007, o grupo de pesquisa é coordenado pelo professor Alexandre Rodrigues Silva, médico veterinário e doutor em Reprodução Animal.

Segundo o professor Silva, o trabalho do LCGA com animais silvestres é explicado pela existência do CEMAS (Centro de Multiplicação de Animais Silvestres), um criadouro científico na Ufersa criado em 12 de setembro de 1989, que tem como finalidade a conservação, produção e pesquisa científica. “Então, além da disponibilidade desses animais, estes oferecem uma riqueza de informações que podem ser aplicadas em outras espécies de animais silvestres que estejam em risco ou ameaçadas de extinção”, acrescenta.

Atualmente, fazem parte das pesquisas do grupo os seguintes animais: Cateto (Pecari Tajacu), Cutia (Dasyprocta aguti), Preá (Galea spixiispixii), Tatu-peba (Euphractus sexcintus) além de outras espécies como a onça pintada (Panthera onca) e o Quati (Nasua Nasua) que são trabalhadas em convênio com outras universidades.

O coordenador do LCGA detalha que o grupo trabalha com a conservação de material genético, como sêmen, espermatozoides epididimários, ovócitos, tecidos testiculares e ovarianos. “Desenvolvemos técnicas para a obtenção de amostras de sêmen por eletroejaculação, bem como para o monitoramento de ciclos reprodutivos das fêmeas silvestres. Ainda, realizamos pesquisas voltadas para o controle reprodutivo das fêmeas, inseminação artificial, e cultivo de tecidos gonadais”, explica.

A – Cutia (Dasyprocta aguti), B – Tatu-peba (Euphractus sexcintus) e C – Preá (Galea spixiispixii)

Criobanco

O material genético utilizado nas pesquisas do grupo é armazenado nas dependências do laboratório, numa sala específica para criobanco, em botijão criobiológico (-196oC) voltado apenas para a experimentação científica. “No entanto, esse material, também pode ser utilizado para conservação com posterior aplicação em alguma biotécnica”, afirma o professor Silva.

Os recursos para a pesquisa advém de projetos elaborados e submetidos a entidades financiadoras como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível Superior (Capes), Conselho Nacional de desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), Fundação de Apoio à Pesquisa do RN (Fapern) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

A equipe coordenada pelo médico veterinário Alexandre Silva conta hoje uma técnica de laboratório, seis alunos de iniciação científica, dois mestrandos, seis doutorandos e uma pós doutoranda. O trabalho do grupo já rendeu 112 artigos científicos em periódicos de impacto nacional e internacional, seis capítulos de livros, e 245 resumos e trabalhos apresentados em congressos regionais, nacionais e internacionais. Já no quesito formação de recursos humanos, o LCGA formou 42 alunos de Iniciação Científica, além de 17 dissertações de mestrado, nove teses de doutorado e duas de pós-doutorado.

Menção honrosa no prêmio Capes 2016

A tese de doutorado “Otimização de Protocolos de Criopreservação de Sêmen de Catetos” de autoria de Ana Liza Paz Souza e orientação do professor Alexandre Silva recebeu uma Menção Honrosa no Prêmio Capes de Tese 2016 na área de Medicina Veterinária. Esta foi a primeira vez que uma tese de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal foi escolhida como uma das melhores do país pela Capes.

Uma curiosa coincidência foi revelada nesta premiação: o professor Alexandre Silva foi o primeiro aluno de doutorado do Brasil a ser reconhecido pela Capes com o Prêmio de Melhor Tese em 2006. Dez anos depois da primeira conquista, ele volta a ser premiado, dessa vez como orientador.

“Sem dúvidas, sentimo-nos extremamente honrados com a outorga da Menção Honrosa. Acreditamos que esta premiação, além de brindar nosso trabalho, vem-nos mostrar que estamos no caminho certo da ciência. Vale salientar que o Prêmio Capes é um dos mais concorridos dentro da área acadêmica no Brasil, agraciando inúmeros cientistas de renome, que fazem trabalhos brilhantes. É uma honra termos nosso trabalho reconhecido nacionalmente, e sermos inclusos neste seleto grupo de excelência”, comemora Silva.

Formada em Medicina Veterinária pela Ufersa, Ana Liza faz parte da primeira turma de alunos de doutorado de Ciência Animal da Universidade. A pesquisa dela concorreu com cerca de 60 teses de outras universidades do país. “É muito gratificante, é o reconhecimento de quatro anos de estudos. Saber que o seu trabalho foi escolhido entre tantos outros demonstra o valor da pesquisa, a resposta da busca incansável sobre a ciência”, revela. Ana Liza na foto entre a professora Maria Angélica Miglino, coordenadora da área de Medicina Veterinária na CAPES, e seu orientador professor Alexandre Silva.

Parcerias

O caminho rumo ao futuro do Laboratório de Conservação de Germoplasma Animal está repleto de parcerias nacionais e internacionais. O grupo já conta com colaborações importantes na própria Ufersa, como o da professora Dra. Alexsandra Fernandes Pereira, voltada para o desenvolvimento de protocolos para criopreservação de cultivo de tecido somático dos animais silvestres, com perspectivas de aplicação na biotécnicas de Clonagem. Outro trabalho em parceria é com o professor Ricardo Figueiredo da Universidade Estadual do Ceará (UECE) no sentido de aplicar a biotécnicas do Ovário Artificial para a realidade dos animais silvestres. “No ano passado, firmamos um importante convênio com o Smithsonian Institution, dos Estados Unidos, na pessoa do Dr. Pierre Comizzoli, para juntos aperfeiçoarmos e expandirmos nossas linhas de pesquisas, uma vez que aquele é um dos maiores institutos de pesquisa no mundo a lidarem com a conservação de animais silvestres”, adianta Alexandre Silva.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Site desenvolvido pela Interativa Digital