Por um diagnóstico mais preciso da tuberculose Saúde

quinta-feira, 22 novembro 2018
Foto: Agência Brasil

Pesquisadores apontam biomarcador mais sensível que pode ajudar na seleção de pacientes com suspeita da doença

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), por ano em todo mundo, mais de 4 milhões de casos de tuberculose deixam de ser diagnosticados. Mas, um estudo que conta com a participação de um pesquisador da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) pode ajudar a mudar esse quadro.

O professor Victor Santana Santos, da Faculdade de Enfermagem do Campus Arapiraca da UFAL, explica que o objetivo da pesquisa foi saber se proteínas de Fase Aguda e IP-10 (utilizadas como marcadores da fase aguda de inflamação e infecção) poderiam ser utilizadas para um teste de triagem para tuberculose.

“O que a gente encontrou foi que a proteína C- reativa, a mais estudada, pode ser um bom teste de triagem para que selecione os pacientes para um teste confirmatório de tuberculose, porque ela apresenta uma sensibilidade muito alta. Significa dizer que ela consegue captar os pacientes possivelmente doentes no maior número possível, avaliados por meio de exame de sangue”, explica Santos.

Ainda de acordo com ele, o não diagnóstico se deve a baixa sensibilidade de especificidade dos testes de diagnóstico que tem disponível atualmente. “A OMS, dentre as várias recomendações atuais, tem uma demanda por um teste diagnóstico ou de triagem, que não seja baseado no escarro do paciente e que tenha uma sensibilidade de 95% e uma especificidade acima de 75%. Até então não se tem um teste de não escarro disponível pra isso”, detalha.

Proffessor Victor Santana Santos. Foto: Divulgação.

Metodologia

Como método para a realização do estudo Acute phase proteins and IP-10 as triage tests for the diagnosis of tuberculosis: a systematic review and meta-analysis, os pesquisadores procuraram em bancos de dados de periódicos usando os termos proteínas de fase aguda, IP-10, triagem, tuberculose, diagnóstico, etc. Depois extraíram a sensitividade e a especificidade dos biomarcadores, explorando metodologias diferentes para explicar a variação nas performances. Pacientes com tuberculose têm demonstrado concentrações plasmáticas elevadas de certas proteínas de fase aguda, assim como a IP-10.

Como resultado, foram identificados 14 estudos sobre a proteína C-reativa, quatro sobre a interferon-gamma inducible protein 10 (IP-10) e apenas um sobre a α-1-acid glycoprotein (A1AG). Através disso, de acordo com o professor Victor Santos, foi possível verificar que a proteína C-reativa era um bom marcador como teste de triagem para detectar indivíduos com tuberculose, enquanto a evidência disponível para a IP-10 é de baixa qualidade.

“Nesse estudo a gente pensou em utilizar uma revisão sistemática com meta análise, é um tipo de estudo que coloca a disposição do mundo científico a melhor evidência científica possível. É como se ele agregasse os resultados de diversos estudos que foram realizados em vários países. Foi isso que a gente fez, desenvolvemos, pensamos a pergunta da pesquisa se essas proteínas de fase aguda tem outro marcador o IP 10 que alguns pesquisadores vinham apontando que era um bom marcador para tuberculose, então a gente resolveu identificar todos os estudos que tenham sido publicados e também aqueles que não foram publicados, mas que poderiam ser encontrados, montamos uma estratégia de busca em várias bases e periódicos. Daí, identificamos os estudos atendendo os critérios de inclusão que colocamos em nosso estudo, a partir disso os dados de cada estudo foi meta analisado.

De acordo com o professor Santos, a pesquisa não cria um novo diagnóstico e sim um teste para outro teste. “Na verdade seria pegar o que já se tem disponível, mas esse teste não necessariamente confirma o diagnóstico. Ele apenas seleciona o paciente suspeito com maior probabilidade de se ter um diagnóstico positivo. A nossa intenção é um teste para outro teste, que auxilia na triagem de pacientes e não no diagnóstico necessariamente”, explica.

Teste rápido de HIV.

Teste rápido

A exemplo do que existe hoje como teste rápido para HIV, o professor da UFAL afirma que o objetivo da pesquisa também passa pela possibilidade de algo similar para a tuberculose. “Você tem duas formas de testar os pacientes: tem o teste rápido, que é por meio de um dispositivo bem simples, onde duas gotinhas de sangue são pingadas num reagente e em 15-20 minutos se tem o resultado. A ideia é essa, que este teste possa ser construído dentro dessas plataformas mais simples. Então você imagina isso na África ou mesmo no Brasil, isso facilitaria um pouco o acesso. Nossa ideia também foi essa, pesquisar

algo que poderia facilitar o acesso”, avalia Santos.

Ele explica que esse teste rápido sem a necessidade de um exame laboratorial seria de grande ajuda em países com população rural como no continente africano onde há muitos casos de tuberculose. Segundo o professor Santos, “na maioria das vezes os pacientes moram em aldeias, tribos, distantes dos centros de saúde, dos centros de referência onde poderiam fazer um exame laboratorial”.

Tuberculose também atinge fortemente o continente africano.

Parceria internacional

De acordo com o professor Santos, o estudo foi idealizado em novembro de 2016, durante seu doutorado sanduiche no Reino Unido, em uma conversa com o professor Luis Cuevas, da Liverpool School of Tropical Medicine, no Reino Unido. A partir desse momento, foi estabelecido contato com outros pesquisadores de outras partes do mundo, que atuam nessa mesma área. Dentre os que contribuíram, estão pesquisadores da Nigéria, Moldova, Espanha, Dinamarca, Itália e Suíça. Fora o Reino Unido, já mencionado, e o Brasil, com pesquisadores da UFAL e da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Embora a interação tenha sido realizada por meio eletrônico, o professor Victor já possuía uma parceria com os pesquisadores da faculdade de Liverpool. “Com o professor Luis Cuevas tenho desenvolvido diversos estudos, dos quais já resultaram importantes publicações e outras que ainda estão em curso. Temos o interesse de conduzir mais estudos em colaboração em Alagoas e estamos aguardando oportunidades de financiamento”, afirmou Victor Santos.

Com o professor Luis Cuevas liderando um estudo na África, usando os testes realizados, em breve, haverá resultados confirmatórios da pesquisa como um todo. Lá os pesquisadores estão estudando a possibilidade de integrar os testes de proteína C-reativa e/ou IP-10 à rotina de triagem de pacientes suspeitos de ter tuberculose, e então, encaminhar para um teste confirmatório. Após esse estudo será possível avaliar o impacto do uso desses biomarcadores para a sociedade. “Isso poderá não só aumentar a capacidade diagnóstica que temos hoje, assim como será um recurso com um bom custo-benefício”, afirmou o professor do Campus Arapiraca.

O estudo foi publicado por um dos mais importantes periódicos científicos no campo das doenças infecciosas, o Clinical Microbiology and Infection (CM&I).

Edna Ferreira e Mônica Costa

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