O potencial das plantas motivou a formação de uma rede de pesquisa sobre as propriedades medicinais, terapêuticas e aromáticas das espécies desse bioma exclusivamente brasileiro
Com um rico patrimônio biológico, a Caatinga abriga animais e plantas adaptados à escassez de água. Jatobá (Hymenaea courbaril), pau-ferro ou jucá (Libidibia ferrea), pequi (Caryocar coriaceum), macaúba, ameixa do mato (Ximenia americana), umburana de cambão (Commiphora leptophloeos) são espécies com potencial antioxidante, inseticida, fungicida e bactericida. O extrato da maçaranduba (foto), por exemplo, se mostrou eficaz no tratamento da triconomose. O potencial das plantas na prevenção e na cura de doenças motivou a formação de uma rede de pesquisa sobre as propriedades medicinais, terapêuticas e aromáticas das espécies da Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro.
Desde 2010, pesquisadores do Núcleo de Bioprospecção da Caatinga do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) se uniram no esforço de estudar as plantas da Caatinga. Uma delas, a umburana cambão, se revelou uma importante arma contra o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, vírus zika e febre chikungunya.
Segundo o pesquisador Alexandre Gomes, do Insa, os experimentos mostraram que a solução do óleo da umburana cambão tem uma eficiência de 50% a partir de 90 partes por milhão, o que significa que apenas uma gota é suficiente para proteger uma caixa d’água do Aedes. O cheiro característico da folha da árvore foi a pista para investigar as possíveis propriedades inseticidas da planta.
“Já sabemos que alguns compostos de plantas têm atividade inseticida. Esses compostos são chamados terpenoides e podem ser aromáticos voláteis. Um exemplo deles está na folha da pitanga, que, quando se amassa, tem um cheiro típico”, explica Gomes.
Apesar do resultado satisfatório da umburana contra o mosquito da dengue, é fundamental não descuidar das recomendações para combater o Aedes aegypti como eliminar criadouros, esvaziando e lavando todos os recipientes que acumulem água; limpar as calhas das casas; e preencher pratos de vasos de plantas com areia. Nem mesmo água sanitária é garantia de que o mosquito não se desenvolverá.
Antioxidantes naturais
Outras plantas têm o poder de neutralizar os oxidantes no organismo humano, como o cambuí, a macaúba e o pequi (foto). Nativo do Cerrado e também encontrado na Caatinga, o pequi (Caryocar coriaceum) é rico em proteínas, fibras, vitaminas A e C, minerais e compostos fenólicos e carotenoides totais, que estão associados à prevenção de processos oxidativos. Por isso, o óleo de pequi, extraído da sua polpa ou amêndoa, é aplicado em cosméticos, como cremes anti-idade. Além disso, foram verificados os benefícios do pequi para a ação anti-inflamatória, proteção cardiovascular, prevenção de aterosclerose e redução da pressão arterial.
Os pesquisadores também observaram propriedades antioxidantes no cambuí (Myrciaria tenella) e no fruto da macaúba (Acrocomia aculeata), palmeira nativa encontrada em extensa área do Brasil, usada na produção de biocombustível.
Os cientistas ainda descobriram nas plantas da Caatinga potencial para o desenvolvimento de novos antibióticos para tratar micro-organismos mais resistentes. Os medicamentos usados contra a triconomose, doença sexualmente transmissível com 276 milhões de novos casos por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde, estão perdendo a eficácia diante da resistência do protozoário Trichomonas vaginalis. Uma solução, investigada por pesquisadores da UFRGS, é o extrato da espécie Polygala decumbens, popularmente conhecida como vick, que foi capaz de controlar a infecção causada pelo protozoário. Substâncias encontradas no extrato da folha da maçaranduba (Manilkara rufula) também se mostraram eficazes contra a triconomose.
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