Planta ‘catinga de bode’ pode combater o tifo canino Saúde

quinta-feira, 20 maio 2021

Pesquisa realizada na UEMA comprova efeitos antimicrobianos da planta no tratamento dessa infecção

Pink Floyd, Led Zeppelin, Neil Young, Eduardo Dusek e Zeca Baleiro. Cada um, a seu modo, já cantou a vida canina. E os sentimentos que nutrem os donos desses companheiros de forma alguma seguem os padrões dos versos de Waldick Soriano.

Cuidar da saúde dos cães, portanto, é fundamental. Febre, falta de apetite, perda de peso e uma certa tristeza podem ser os primeiros sintomas da erliquiose, também conhecida como febre hemorrágica canina ou tifo canino, A infecção severa, causada por bactérias do gênero Ehrlichi, pode assumir, na fase crônica, características de uma doença auto-imune, comprometendo o sistema imunológico.

Um tratamento alternativo a essa doença com base em produtos naturais para animais alérgicos, em que o tratamento convencional não é indicado, foi objeto do estudo de Carla Janaína Rebouças Marques do Rosário e lhe rendeu o Prêmio Fapema 2019 Tese de Doutorado. Ela analisou a atividade anti-Ehrlichia do extrato bruto, frações e óleo essencial de Ageratum conyzoides L. em células DH82 infectadas com Ehrlichia canis.

Carla Janaína é doutora em Biotecnologia com ênfase em Medicina Veterinária pela Rede de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal (BIONORTE/UEMA), mestra em Ciência Animal (UEMA), especialista em Vigilância Sanitária e Qualidade dos Alimentos (AVM/DF), com graduação em Medicina Veterinária (UEMA). É pesquisadora e colaboradora do Grupo de Pesquisa do Laboratório de Imunodiagnóstico da UEMA.

O estudo pioneiro, com a planta popularmente conhecida como mentrasto, erva-de-são-joão ou catinga-de-bode, resultou em patentes depositadas junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A pesquisa avaliou a eficácia e segurança desse tratamento em relação à terapêutica convencional com doxiciclina – uma antibiótico do sub-grupo do cloranfenicol e da tetraciclina.

“O estudo surgiu diante da necessidade de se promover a redução da concentração mínima necessária para a eficácia do antimicrobiano utilizado no tratamento da erliquiose canina”, afirmou a Carla Rebouças. “O intuito é reduzir os efeitos colaterais, o custo do tratamento e a resistência bacteriana”, complementou.

Resultados positivos

Os resultados obtidos no estudo com o extrato bruto e óleo essencial confirmaram que a caatinga de bode (Ageratum conyzoides), coletada na capital maranhense, apresenta significante atividade antimicrobiana contra a cepa de Ehrlichia canis.

“Esse efeito foi obtido provavelmente devido a presença de vários metabólitos secundários tais como cumarinas, fenóis, taninos e lignanas, classes reportadas como antimicrobianos”, avaliou a pesquisadora. “Esperamos utilizar esse espécime como fonte de compostos bioativos para a produção de fármacos contra infecções causadas por Ehrlichia”, pontuou. “As informações obtidas até agora nos têm direcionado para o isolamento e a identificação desses compostos bioativos, monitorados sob a ação antibacteriana mais expressiva, dado os promissores resultados”, prosseguiu Carla.

Metodologia

A pesquisa foi iniciada em 2016 e, agora, os estudos in vitro estão sendo finalizados, com o isolamento dos compostos que foram eficazes e que mostraram melhores resultados ao longo do ensaio.

“O nosso estudo foi desenvolvido a partir do cultivo de macrófagos [células de defesa do organismo] denominadas de Histiocitoma canino [tumor de células] infectados com a cepa de Ehrlichia canis”, explicou a pesquisadora. Eles foram tratados com extratos botânicos e óleo essencial de Ageratum conyzoides L.

“Foram realizados testes de viabilidade celular, bem como caracterização química dos compostos naturais utilizados”, prosseguiu Carla Rebouças. “Também houve a determinação do índice de redução da concentração da dose do antimicrobiano já usado como tratamento e confirmamos os resultados por softwares especializados”, assinalou.

Parcerias

O projeto de tese intitulado “Efeito anti-Ehrlichia canis de Ageratum conyzoides L. e sua associação com doxiciclina em cultura de células DH82” não obteve financiamento direto.

Ele contou com a parceria com o Laboratório de Estudos Avançados em Química de Produtos Naturais da UFMA, coordenado pela professora. Claudia Quintino da Rocha, e com o o Laboratório de Virologia e Rickettsioses da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), sob coordenação do professor Daniel Moura de Aguiar.

Houve, ainda, o apoio do Laboratório de Imunodiagnóstico da UEMA, coordenado pelo professor Ferdinan Almeida Melo, e do Laboratório de Farmacognosia II da UFMA, sob coordenação da professora Denise Fernandes Coutinho.

“A atuação do meu orientador, o professor Ferdinan Melo, foi de extrema importância tanto na execução do experimento como na articulação dos meios necessários para realização, por sua experiência na área de doenças infecciosas e parasitárias e de biotecnologia”, ressaltou Carla Rebouças. “A coorientadora professora Denise Coutinho agregou muito com os seus conhecimentos em Farmacologia”, prosseguiu.

“O Prêmio FAPEMA tem sido o reconhecimento do mérito e dos esforços dos pesquisadores maranhenses”, finalizou.

Fonte: Fapema

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