O achado é resultado do primeiro sequenciamento genético do vírus SARS-CoV-2 feito na UFC
Pesquisadores da Central de Genômica e Bioinformática do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da Universidade Federal do Ceará detectaram a mutação D614G do vírus SARS-CoV-2, responsável pela covid-19, em amostras circulantes no Ceará. O achado é resultado do primeiro sequenciamento genético do vírus SARS-CoV-2 feito no Ceará.
Foram analisadas amostras coletadas de julho a dezembro de 2020 de pacientes do estado do Ceará cujos exames foram realizados nos laboratórios do NPDM. De acordo com os pesquisadores, todas as amostras possuíam a mutação. A variante D614G, encontrada no estado, segundo os pesquisadores, é a mais comum no mundo, sendo diferente da que está circulando atualmente em Manaus.
“Essa é uma importante alteração genética que resulta na substituição do aminoácido Ácido Aspártico por Glicina na posição 614 da proteína Spike (S) na superfície do vírus (D614G). Essa mutação está associada à linhagem B.1 do SARS-CoV-2, que atualmente domina a pandemia global, com base nas sequências do genoma SARS-CoV-2 compartilhadas via GISAID [sigla em inglês para Global Initiative on Sharing All Influenza Data, plataforma científica global de fonte primária para compartilhamento de dados genômicos de vírus influenza e coronavírus]”, destaca a Profª Vânia Melo, vice-coordenadora da Central de Genômica e Bioinformática (CEGENBIO) do NPDM.
Os pesquisadores apontam que a importância dessa mutação D614G reside no fato de que estudos recentes sugerem que a cepa D614G altera a conformação de ligação ao receptor, de modo que a ligação com o receptor e a fusão com a célula são mais prováveis de acontecer. A replicação aprimorada no trato respiratório superior e a transmissão acelerada da variante 614G foram demonstradas em modelos animais de infecção por SARS-CoV-2.
A análise da frequência das variantes 614D e 614G ao longo do tempo (com base em dados de sequências genômicas do vírus em banco de dados mundiais) sugere a dominância de 614G, o que pode levar a uma maior velocidade de transmissão do vírus. “Existem indícios que mostram que a variante 614G é mais prevalente em grupos de idades mais jovens, podendo explicar parcialmente as taxas de crescimento desta variante nesta população”, destaca a vice-coordenadora da CEGENBIO.
De acordo com a coordenadora do Laboratório de Farmacogenética (FARMAGEN) da UFC, Profª Raquel Montenegro, esta é a variante mais comum encontrada no mundo. “Agora vamos fazer o sequenciamento genético completo para saber todas as variantes que estão circulando no Estado. Até então, a gente só sabia que tinha o vírus circulando [detectado pelos testes], mas não sabia qual era o tipo”, comenta.
A equipe de pesquisadores acredita que outras mutações, como as observadas em Manaus, possam estar circulando entre a nossa população. Entretanto, elas precisam ser comprovadas pelo sequenciamento genético.
A Central de Genômica e Bioinformática do NPDM/UFC possui toda a infraestrutura e um grupo de pesquisadores e técnicos com treinamento e expertise que está atento à possibilidade de detecção de novas variantes do coronavírus por meio da vigilância genômica de amostras circulantes no nosso Estado.
Além das professoras Raquel Montenegro e Vânia Melo, participam das pesquisas os docentes Nicholas Barroso, do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular; Maria Elisabete Amaral de Moraes, coordenadora do Centro de Pesquisa Clínica do NPDM; Odorico de Moraes, diretor do NPDM, e os técnicos Andrea Oliveira, Luina Benevides, Maísa Barros, Mariana Castelo Branco, Laís Brasil, Carlos Paier e Caroline Aquino.
Os trabalhos de sequenciamento genético foram realizados no NPDM da UFC com o apoio da Faculdade de Medicina (FAMED) e da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP).
Fonte: Ascom da UFC
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