Pesquisadores identificam nova espécie de cobra d´água Pesquisa

sexta-feira, 15 janeiro 2021
Espécie tem grande probabilidade de estar ameaçada de extinção. Foto: Divulgação.

O estudo contou com a participação de pesquisadores da UFPE, UFMT e USP

Artigo científico de autoria principal do doutorando do Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal da Universidade Federal de Pernambuco (PPGBA-UFPE) Antonio Moraes da Silva, publicado na revista Zootaxa, descreve Helicops phantasma, uma nova espécie de cobra d’água, identificada a partir da análise de amostras preservadas pós-captura na Bacia do Tocantins-Araguaia. Fruto de um trabalho colaborativo, que contou com a participação de pesquisadores da UFPE, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Universidade de São Paulo (USP) e com orientação do professor da UFPE Pedro Nunes, a pesquisa revela diferenças entre indivíduos que começaram a ser identificados há aproximadamente 20 anos e cujas características de coloração eram assemelhadas a uma espécie bastante conhecida e amplamente distribuída pelo Brasil, denominada Helicops leopardinus.

A possibilidade de demonstrar que essa era, de fato, uma nova espécie decorre da identificação de características que comprovam as diferenças identificadas entre esses indivíduos do mesmo gênero Helicops, com base na análise de um grande número de espécimes e apoio de técnicas de biologia molecular. O nome “phantasma” está relacionado ao fato de a maior parte dos habitats onde os indivíduos dessa espécie foram encontrados estar hoje inundada pela represa construída pela Usina Hidrelétrica Luís Eduardo Magalhães e Usina Hidrelétrica de Estreito. “Ou seja, é bastante provável que a espécie esteja altamente ameaçada de extinção; portanto, talvez tenhamos uma espécie que dificilmente veremos”, afirma o professor Pedro Nunes.

De acordo com o artigo “Long known, brand new, and possibly threatened: a new species of watersnake of the genus Helicops Wagler, 1828 (Serpentes; Xenodontinae) from the Tocantins-Araguaia River Basin, Brazil”, o que chamou a atenção dos pesquisadores e que sugeriu a distinção entre as espécies foi a ausência das manchas típicas de Helicops leopardinus na nova espécie, que no caso do Helicops phantasma são substituídas por bandas transversais. Além disso, a nova espécie apresenta um órgão sexual masculino (hemipênis) único no gênero.

Os primeiros indivíduos de Helicops phantasma (e a maioria dos indivíduos conhecidos) foram coletados durante os trabalhos de resgate de fauna que antecederam à construção da Usina Hidrelétrica Luís Eduardo Magalhães, no Rio Tocantins, no início dos anos 2000. “Na época, apesar de muitos pesquisadores concordarem que os indivíduos eram diferentes do que já conhecíamos para as cobras d’água brasileiras, ainda não existiam evidências suficientes para a atribuição de um novo nome”, afirma Nunes.

Segundo Antonio Moraes da Silva relata no trabalho, três anos atrás, ao examinar uma grande amostra de Helicops leopardinus, os pesquisadores tiveram acesso a alguns espécimes conhecidos com um padrão dorsal incomum em que as manchas tendem a se fundir lateralmente umas às outras, formando um padrão dorsal com bandas irregulares. “A maioria dos indivíduos analisados vieram de resgates de vida selvagem associados à Usina Hidrelétrica Luís Eduardo Magalhães e de Estreito, na depressão do Rio Tocantins, porção norte do Cerrado brasileiro”, ressalta. O artigo também aponta que herpetólogos (estudiosos dos répteis) já suspeitavam que essas populações “parecidas com leopardinus” do Tocantins-Araguaia poderiam representar uma espécie independente, “mas depois do incêndio que consumiu as coleções do Instituto Butantan em 2010, o problema foi relegado para a enorme pasta de ‘coisas a fazer’ aguardando novas evidências”.

Mais informações

Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal da UFPE (PPGBA-UFPE)
ppgba@ufpe.br

Laboratório de Herpetologia

Fonte: Ascom da UFPE

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