Pesquisadores descobrem artefato em  pedra de mais de 24 mil anos na Serra da Capivara

quinta-feira, 18 março 2021

Pesquisa conta com a participação de equipes da UFPI, dentro de um acordo de cooperação internacional 

Por meio de pesquisas realizadas na Serra da Capivara, dentro do acordo de cooperação internacional entre o Museu de Arqueologia e Paleontologia da UFPI e a Université de Paris X Nanterre (Missão Franco-Brasileira de Arqueologia no Piauí), foi encontrado um instrumento de pedra datado de 24.000 anos. Segundo os pesquisadores, é a primeira vez que um artefato como esse é encontrado em um contexto tão antigo.

As análises realizadas detalham a forma com a qual foi ele foi elaborado, muito complexo para esta idade (tratamento em duas faces da pedra para obter um fio cortante, entre outros aspectos).
“Trata-se de um registro único para o continente sul-americano, que faz avançar mais as pesquisas para ocupações humanas na região, e em particular no Piauí, e reforça décadas de pesquisas realizadas aqui com a participação da UFPI”, explica o Prof. Grégoire van Havre, que realiza a pesquisa juntamente com dois alunos do Programa de Pós-graduação em Arqueologia da UFPI, Lucas Costa e Iderlan de Souza, além de uma egressa do referido programa, Carolina Borges.
Escavado pela Missão Franco-Brasileira do Piauí desde 2011, o sítio pleistocênico do Vale da Pedra Furada é atualmente objeto de pesquisas com importantes resultados sobre as primeiras ocupações humanas da América do Sul, contendo evidências arqueológicas de ocupações humanas entre 40.000 e 50.000 anos.
A pedra encontrada tem caráter excepcional pois se trata de uma placa de arenito siltoso que apresenta características técnicas até então desconhecidas em sítios paleo-americanos. Essa nova descoberta adiciona informações preciosassobre uma ocupação humana durante o Último Máximo Glacial (26,500- 19,000 anos), contradizendo, assim, a teoria comumente admitida de uma ocupação humana pós-glacial da América do Sul.
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 A pesquisa foi divulgada na revista científica PlosONE. O Prof. Eric Boeda, da Université Paris X, destaca a importância do trabalho desempenhado pelo professor Grégoire para o desenvolvimento das pesquisas e a parceria com a UFPI.
“Antes do meu encontro com Grégoire van Havre e da integração dele na Missão Arqueológica, é preciso saber que a UFPI já trabalhava há anos no Parque da Serra da Capivara, principalmente na questão das técnicas de pinturas rupestres. Neste período, a Professora responsável desta pesquisa nos enviava, cada ano, estudantes da UFPI para as escavações da Missão Arqueológica. Há mais de quatro anos agora, trabalhamos com Grégoire van Havre em diversos projetos da nossa missão. Ele está encarregado, entre outros, de todos os aspectos informáticos. Mas é preciso saber que tudo ainda está por fazer nessa área. Por isso a importância dele na equipe, para criar programas informáticos específicos. Ele mesmo tem uma sólida formação em Arqueologia e um interesse nas questões científicas da missão. Esta presença é essencial. Por outro lado, temos também em comum estudantes de Mestrado, sob orientação dele, e que trabalham com material proveniente das nossas escavações. Temos um Acordo de Cooperação entre o Departamento de Antropologia da Université de Paris X Nanterre e o Museu de Arqueologia e Paleontologia da UFPI”.
Ele destaca ainda que a Covid-19 os impede de impulsionar esse programa, mas já possuem uma reserva de estudantes dispostos para intercâmbio. Finalmente, receberam nas escavações outros estudantes selecionados pelas suas competências.
“A missão é uma equipe interdisciplinar que se apoia nas competências de colegas brasileiros e de Universidades. Temos uma relação privilegiada com a UFPI pelo dinamismo de seus professores. Estamos preparando uma nova publicação que deverá ter grande repercussão e da qual Grégoire van Havre cuida de um dos mais importantes aspectos”, afirma.
Segundo o Prof. Grégoire, participar da Missão Arqueológica na Serra da Capivara representa inserir-se em décadas de pesquisas arqueológicas no Piauí. Desde a década de 1980, a UFPI participa destes trabalhos, seja diretamente nas escavações, seja nas pesquisas desenvolvidas pelo Núcleo de Antropologia Pré-Histórica.
“A relação estreita com a Missão é também a oportunidade para os alunos de Arqueologia da UFPI de ter um contato com uma equipe internacional de alto nível de conhecimento. Cada ano, nossos alunos têm a chance de fazer parte desta grande história. Se a pandemia paralisou temporariamente as atividades de campo, uma série de outras pesquisas de laboratório podem continuar. A cooperação entre a UFPI e a Université de Paris Nanterre é também um forte elemento interinstitucional que participa do fortalecimento do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia no Piauí”, finaliza.
Confira a publicação na revista aqui.

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