Trabalho de referência nacional e internacional gera transferência de tecnologia para o setor produtivo, cumpre papel social por beneficiar pequenos produtores e alavanca uma das principais produções de fonte de energia alternativa do Brasil.
Em maio, os pesquisadores do Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-açúcar (PMGCA), desenvolvido pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), vão apresentar mais duas variedades RB para Alagoas. “Vamos realizar uma solenidade em Maceió para lançar para os produtores a RB 961552 e a RB 991536. Cada variedade produzida tem características próprias de peso, intensidade de açúcar, resistência a dezenas de pragas, mais produtividade de safras no ano, tolerância à seca, etc. Assim, os produtores utilizam aquelas que mais se adaptam ao tipo de solo e condições de produção que eles possuem”, explica Geraldo Veríssimo, coordenador do PMGCA.
O Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-açúcar integra Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro [Ridesa]. Além da UFAL, outras três universidades federais nordestinas participam da Ridesa, a de Sergipe (UFS), a do Piauí (UFPI) e a Rural de Pernambuco (UFRPE). No total, a Ridesa, é formada por dez universidades brasileiras. Em Alagoas, as pesquisas são desenvolvidas no Centro de Ciências Agrárias (Ceca) em Rio Largo e na Estação Experimental da Serra do Ouro, em Murici, distantes da capital 30 e 54 km, respectivamente.
A História
A decisão de investir na produtividade da cana-de-açúcar no Brasil se fortaleceu na década de 1970. Já existia no país o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), desde 1933, criado no Governo de Getúlio Vargas. Em 1966, foram iniciados os cruzamentos genéticos, realizados em Alagoas, numa estação experimental criada pela Cooperativa dos Produtores de Açúcar de Alagoas. Em 1971, foi estabelecido, pelo Governo Federal, o Programa Nacional de Melhoramento de Cana-de-Açúcar (Planalsucar).
Assim, as pesquisas para o melhoramento genético da cana, visando aumentar a produtividade do setor, lançaram as bases para o Programa Nacional do Álcool, uma tentativa de criar uma alternativa energética durante a crise do Petróleo de 1973. “Mas, no Governo Collor, em 1990, o IAA e o Planalsucar foram extintos. As universidades federais que cooperavam com esses órgãos, em regiões de produção de cana-de-açúcar, absorveram a estrutura física, os recursos humanos e a tecnologia. Assim foi formada a Ridesa”, conta o pesquisador Geraldo Veríssimo.
A importância do programa
As pesquisas para o melhoramento genético da cana-de-açúcar dão visibilidade e atraem recursos para o Centro de Ciências Agrárias da Ufal. “As variedades RB representam uma grande contribuição do Ceca em termos de inovação tecnológica. A UFAL tem uma participação destacada na Ridesa porque é aqui na nossa estação experimental que são desenvolvidas as sementes enviadas às universidades da rede para o desenvolvimento de novas variedades”, destaca Geraldo Veríssimo.
Nesses 25 anos de rede, já foram lançadas 94 variedades RB, a partir de cruzamentos genéticos feitos na estação da Serra do Ouro, em Murici. “A Serra do Ouro é um local propício para o florescimento natural da cana-de-açúcar, o que favorece a produção de sementes. Em maio, teremos mais uma etapa de cruzamentos para a produção dessas sementes que serão distribuídas aos grupos de pesquisa da Ridesa. Leva-se até dez anos para a obtenção de novas variedades a partir dela”, explica o pesquisador.
Entre as variedades RB produzidas pela rede, estão 22 pela instituição alagoana, das quais 12 foram patenteadas. “Isso significa que a UFAL recebe recursos pela utilização dessas variedades no setor produtivo. Com isso, podemos continuar o trabalho, contratando pessoal de apoio e comprando insumos. Todo ano temos novos cruzamentos e mais variedades são produzidas. O Brasil tem nove milhões de hectares de cana-de-açúcar, sendo que 68% dessa área foi cultivada com variedades produzidas a partir das sementes da Serra do Ouro”, relata o coordenador do PMGCA.
Formação de pesquisadores
Mas não é só no campo científico e econômico que o PMGCA se destaca. Também existe um grande estímulo para a formação de recursos humanos. O professor João Messias dos Santos é um exemplo disso. Ele é pesquisador do Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-açúcar e gerencia o banco de germoplasma da Serra do Ouro. “Fiz aqui nesse programa o meu projeto de graduação, depois fiz mestrado e doutorado. Passei oito anos contratado pela fundação e há dois anos passei no concurso da Universidade Federal de Alagoas”, relata o pesquisador.
Assim como ele, outros estudantes escolhem o curso de Agronomia atraídos pela visibilidade das pesquisas realizadas no PMGCA. “Existe uma considerável inserção dos estudantes de graduação e pós-graduação nesse programa. Isso contribui para a formação de especialistas. Além disso, destacamos o aspecto social, já que existem em Alagoas cerca de sete mil pequenos e médios produtores de cana-de-açúcar que são beneficiados gratuitamente pelas pesquisas”, ressalta João Messias.
Novos segmentos
As pesquisas realizadas no Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-açúcar começam a assumir novos rumos. “Agora temos também a Cana Energia, ou seja, são variedades com mais fibra de celulose, para a produção de Etanol de segunda geração. Empresas como a GranBio e outras que estão se instalando em Alagoas procuraram nosso programa para desenvolver variedades para esse tipo de produção”, informa Geraldo Veríssimo.
Segundo o pesquisador, os setores produtivos buscam fontes de energia renovável, que possam substituir o petróleo na produção de combustível e de biopolímeros ou ácidos. “São materiais que podem ser utilizados na produção de fármacos, de plástico, etc. A Cana Energia também pode ser utilizada na produção de energia elétrica, que é um dos grandes custos das usinas. São várias frentes de pesquisa que podem ser abertas”, ressalta o coordenador.
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