Tecnologia simples e barata desenvolvida por pesquisadores da Ufal diminuiu o nível do composto químico tóxico, o ácido cianídrico, em 80%
A macaxeira, bastante consumida pelos nordestinos, é um alimento rico em sais minerais como o cálcio, mas possui alta concentração de ácido cianídrico, uma substância bastante tóxica. A exposição à essa substância pelos trabalhadores das casas que processam a mandioca tem gerado preocupação da Organização Mundial de Saúde (OMS) devido às complicações que pode causar. Uma pesquisa da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) demonstrou os riscos da exposição ao composto químico pelos trabalhadores do Agreste Alagoano, constatando que mais de 26 mil pessoas convivem com essa situação que gera uma série de problemas à saúde.
O projeto ácido cianídrico presente nas casas de farinha no Agreste Alagoano: avaliação da exposição ocupacional e riscos aos trabalhadores e população avaliou, por meio de questionários, o conhecimento da comunidade acerca dos males causados pelo cianeto ou cianureto de hidrogênio (HCN). No questionário, trabalhadores de 18 a 55 anos e também a população que vive no entorno das casas de farinha citaram dores de cabeça e problemas na respiração, que se agravam principalmente quando estão próximo aos fornos, onde o nível de HCN emitido é elevado.
Tecnologia barata
O ácido cianídrico além de causar problemas como dores de cabeça, tonturas e falta de ar, pode afetar o sistema nervoso central. Na natureza, essa substância contamina o ambiente aquático e todo o ecossistema ali presente. Mas quais seriam as soluções para esse problema? O professor Wander Botero, coordenador do projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas (Fapeal) e pelo Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS), explicou que uma das estratégias avaliadas para diminuir os riscos foi a do tratamento da manipueira, líquido amarelo que sai quando a mandioca é prensada, que possui alto teor de cianeto.
“Desenvolvemos uma tecnologia barata, no qual se armazena a manipueira em tanques expostos ao sol por 24h. Esse mecanismo simples reduz o nível de cianeto de hidrogênio (HCN) em 80%”. Outra proposta é adaptar as casas de farinha, acrescentando mais janelas e abertura que favoreçam a circulação do ar.
Resultados publicados
A pesquisa foi realizada no Agreste Alagoano, nos municípios de Limoeiro de Anadia, Arapiraca, Coité do Nóia e Junqueiro, que fazem parte do Arranjo Produtivo Local (APL) da mandioca. O APL é um aglomerado de empresas e produtores de um mesmo setor, localizados num mesmo território, com vínculos de articulação, cooperação e aprendizagem.
O estudo também fez parte do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) durante os anos de 2014 e 2016, dando suporte a dois bolsistas que contribuíram com o desenvolvimento da pesquisa. Os resultados foram relatados em um livro, Resíduos cianogênicos em casas de farinha: avaliação da exposição nos diferentes compartimentos ambientais do agreste alagoano, da editora Novas Edições Acadêmicas. Os autores são Shenia de Oliveira Souza, aluna de Doutorado do Programa de Pós-graduação em Química e Biotecnologia (PPGQB/IQB/Ufal); Luciana Camargo de Oliveira, professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), Campus Sorocaba e Wander Gustavo Botero, professor da Ufal, Campus Arapiraca.
Deixe um comentário