Trabalhos desenvolvidos na UFPB e UFCG vencem o Prêmio Ciser de Inovação Tecnológica, que conta com o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC), Fapesc, Anpei e Fapemig, e com a parceria de empresas privadas.
Três equipes paraibanas levaram as três primeiras colocações no Prêmio Ciser de Inovação Tecnológica (PCIT), concorrendo com outros 237 projetos de todo o país. Enquanto o primeiro e o terceiro colocados foram desenvolvidos na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o segundo lugar ficou com um projeto desenvolvido na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). O Prêmio, lançado em 2008, segundo os organizadores tem como objetivo identificar e reconhecer jovens talentos e aproximar o meio acadêmico do mercado.
“A gente sempre quer o primeiro lugar, mas sinceramente, eu não esperava ganhar porque o sistema de travamento é bem simples. E foi justamente o que eu escutei dos engenheiros da empresa, que a melhor qualidade do meu projeto era a simplicidade.” A afirmação é de Mickael Messias Rodrigues da Silva, aluno do 7° período de Engenharia Mecânica na UFPB, autor projeto Fixador polimérico com travamento fixo e montagem manual, que conquistou o primeiro lugar e teve a orientação do professor Danniel Oliveira.
Plástico
Comparável a um parafuso, mas de plástico, o fixador de polímero pode ser travado com as mãos, dispensando uso de chaves e ferramentas de fixação e como tem o travamento fixo, uma vez que é travado, não se solta mais. Mickael explica o porquê da utilização manual: “a gente tentou fazer isso para ganhar tempo, porque numa linha de montagem é mais rápido você montar com as mãos do que com ferramentas e também para uso doméstico, muitas pessoas não têm chaves em casa e às vezes usam facas para apertar um parafuso e pode causar acidentes. Travando com as próprias mãos, evita esse risco de acidente doméstico.”
Premiado na competição pela terceira vez, o aluno defende a característica da irreversibilidade da fixação. “Por exemplo, se sabe de criança que já engoliu parte de brinquedos ou casos de parafuso se soltar dentro de um paciente depois de uma cirurgia e a pessoa ficar tetraplégica. Com o travamento fixo, nenhuma dessas situações aconteceria.” Além das aplicações já mencionadas na área médica e em brinquedos de crianças, o fixador pode também ser utilizado na área automotiva, em móveis, na linha branca (eletrodomésticos) e em aplicações domésticas.
Ciência Sem Fronteiras
Bolsista do programa Ciências Sem Fronteiras na University of Guelph, em Ontario no Canadá, Mickael garante ter utilizado conhecimentos adquiridos naquela instituição para o desenvolvimento do projeto, que ocorreu em quatro meses. “Lá eu cursei disciplinas de design de produtos e impressão 3D, que eu usei bastante nesse projeto e que foram fundamentais para eu conseguir ter as ideias e saber trabalhar o produto.”
O valor do prêmio (R$ 6.400) será investido no retorno ao curso de Francês, que tinha se tornado inviável em função do custo e na compra de livros para as disciplinas do próximo semestre.
Aperta e afrouxa
O segundo colocado é o projeto do Parafuso multifuncional para prevenção e monitoramento de pré-carga em junta, desenvolvido pelos alunos de Doutorado, Jackson de Brito Simões e de Mestrado, Francisco Fernando Roberto Pereira na UFCG. Jackson é professor de Engenharia Mecânica, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa).
O professor Carlos José de Araújo, do Departamento de Engenharia Mecânica, da UFCG, orientador da equipe, informa que o projeto é um protótipo de parafuso de alto desempenho, fabricado com uma liga metálica especial de níquel e titânio, de uma classe conhecida por ligas com memória de forma (LMF). Essas são também classificadas como materiais inteligentes por serem sensíveis à temperatura e à carga mecânica aplicada. A redução da perda de aperto em parafusos convencionais, por vibração ou temperatura, não poder ser obtida com aços, bronzes, alumínios e outros metais comumente usados na fabricação desses elementos de fixação.
Aquecimento
De acordo com o docente, que também ficou na primeira colocação na primeira edição do Prêmio, em 2009, fato de não existirem no mercado parafusos com essa característica multifuncional de prevenir a perda de aperto devido a vibrações mecânicas e ainda aumentar o aperto nas juntas aparafusadas se forem submetidas a um aquecimento é a principal característica de inovação do projeto. “No geral, aquecimento causa dilatação térmica que leva a afrouxamento da junta. No nosso caso, é o contrário, ou seja, aumento de temperatura e aquecimento leva à contração do parafuso e aumenta o aperto da junta aparafusada em que o nosso parafuso estiver montado.”
O impacto esperado na indústria seria de que a utilização desses elementos de fixação possa reduzir a perda de pré carga ou aperto, que normalmente ocorre em uniões aparafusadas que utilizam parafusos convencionais quando são submetidas à vibração mecânica e ao aumento de temperatura. “Essa perda de aperto pode causar, por exemplo, vazamento de fluídos tóxicos e consequentemente danos ambientais e a saúde em algumas áreas.”
Para o orientador do projeto, o resultado já esperado. “Trata-se de um conceito bastante inovador, de alto valor agregado, que poderia ser incorporado na linha de parafusos de alto desempenho de qualquer indústria de fixadores, como a própria Ciser, por exemplo.” O projeto vencedor deriva de projetos maiores desenvolvidos pelo professor Carlos Araújo, nos últimos 10 anos, como o projeto Mini Atuadores de Ligas com Memória de Forma para Aplicações Avançadas em Estruturas Inteligentes, no Laboratório Multidisciplinar de Materiais e Estruturas Ativas (LaMMEA), do qual é coordenador.
Fibra ótica
Arruela Inteligente de Baixo Custo, desenvolvido pelos alunos de Engenharia Elétrica, David Souza Facina dos Santos e Joébert de Oliveira Maia, sob a supervisão do professor Euler Cássio Tavares de Macêdo, todos do Centro de Energias Alternativas e Renováveis (CEAR) da UFPB foi terceiro colocado na competição. O projeto foi co-orientado por Francisco Fechine Borges, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB).
O professor Euler explicou que foram usados conceitos de fibra ótica na resolução do problema decorrente da falta de conhecimento acerca da necessária precisão para fixação de um equipamento. O grande diferencial de inovação do projeto é a sua capacidade de reduzir o custo e a margem de erro do que atualmente é feito pelo torquímetro. “O equipamento custa até 30 mil Reais e tem margem de erro de 30%, enquanto no nosso projeto o custo é da ordem de centavos e o erro é de 4%”, garante.
Paraibanos de sucesso
De acordo com o professor Juscelino de Farias Maribondo, coordenador de Pesquisa e Extensão da Unidade Acadêmica de Engenharia Mecânica da UFCG, durante o evento de premiação os oradores ficaram entusiasmados e curiosos em conhecer o Estado da Paraíba que conquistou os três primeiros lugares na competição.
“Essa conquista é importante não só para os alunos, professores e instituições participantes como, também, para a divulgação da Ciência e Tecnologia desenvolvida no Estado da Paraíba. Ressaltamos no evento que Campina Grande é conhecida como a ‘cidade dos inventores’, possui a maior proporção por habitantes no país de doutores, ou seja, capacitação e investimento em educação. Eis a razão para o sucesso do estado da Paraíba nas cinco últimas edições”, disse.
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