Exposição de Ângela Paiva, durante o Nossa Ciência em Debate, reafirmou importância da academia para o desenvolvimento do estado e do país
Íntegra da fala da professora Ângela Paiva, na primeira edição do Nossa Ciência em Debate, no Dia Nacional da Ciência.
Quero agradecer o convite para estar aqui hoje com vocês. A UFRN em férias. Prefiro ficar em pé porque eu aproveito melhor o momento e os olhares, eu acho que a gente fica mais próximo, fica uma conversa mais intimista. Sentada, eu vou ficar mais confortável mas não vejo vocês. Eu acho que essa é a grande saudade, é um registro que eu faço aqui, é a saudade que eu tenho de sala de aula. De ver os alunos, as pessoas que estão ávidas por conhecimento. Eu quero iniciar cumprimentando todos vocês pesquisadores e os divulgadores da ciência e aqui à Nossa Ciência, quero agradecer pelo convite, e aos pesquisadores, nossos parabéns. Hoje é um dia muito especial para nós, no Brasil, o Dia Nacional da Ciência e o dia da fundação da nossa Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e por isso o meu cumprimento e o meu abraço, minha admiração e é como gestora que fui, muitas vezes tive a oportunidade de agradecer pelo desempenho, pela coragem nunca desanimarem diante de tantas coisas que acontecem em décadas, anos, ciclos, ciclos históricos da universidade e da ciência e vocês estão sempre lá. Então tive muitas oportunidades de expressar a gratidão mas hoje é um dia especial por isso inicio com o agradecimento como colega e como gestora que fui pelo não desistir nunca. Nós estamos hoje também no dia 8 julho comemorando o dia do panificador e por que digo isso? Por que começo com isso Gilton (Sampaio, presidente da Fapern)? Quero parabenizar também a Fapern, a SBPC pela celebrações desse dia. Poderíamos estar fazendo uma marcha, mas talvez a marcha não tenha sido possível por que nós estamos no período de férias, creio que em várias instituições, mobilizar pessoas para uma marcha, para ir pra rua, pra ir pra algum lugar, dizer que o que nós fazemos é importante e não precisa ser no dia 8, pode ser um outro dia, esse é um dos pontos que eu quero citar, eu faço alusão a essa questão, cito também o dia do panificador por que eu vim ouvindo rádio no carro e o locutor estava falando que hoje, felizmente ele disse que hoje era o dia da ciência, mas ele disse depois que era o dia do panificador. E de que mais ele falou depois? Do panificador. Então eu quero aproveitar esse lado, eu pensei ele vai falar do panificador, mas ele vai falar da ciência, mas naturalmente ele só falou do panificador e vocês vão escrever algumas coisas e vão tecer algumas considerações sobre isso, mas o que eu tiro de bom de ter ouvido isso dessa forma é que nem o panificador existiria sem a ciência e que bom que tem pão e se tem pão e porque tem ciência, se tem pão, se tem café, se tem água saborizada, se tem suco, se tem a maquininha que a gente apresenta para as crianças assim de uma maneira muito ingênua, mas só tem isso por que tem ciência. Então, eu até me inspirei um pouco criticando o radialista mas aproveitando pra pensar o quanto nós temos que enfatizar nesse dia e trabalhar a cada dia pela valorização das ciência.
Nós estamos vivendo um momento, mais um de um ciclo histórico em que educação, conhecimento vamos falar conhecimento de uma maneira geral, conhecimento está sendo colocado para trás. Por que é o conhecimento que gera cidadania e em certos momentos da História, a cidadania pouco importa. Há muito tempo que a gente escuta isso que há interesses de que as pessoas não compreendam o mundo não saibam ler criticamente o mundo, coisa que só se faz quando nós temos conhecimento. Conhecimento científico no sentido de todas as áreas. Olhar um mecanismo desse e não imaginar o quanto se estudou pra ter isso aqui, mas também fazer as avaliações e sobre o viver, o ser gente, o ser humano e daí valorizar no momento em que nós estamos sendo criticados e querendo que esqueçam as Ciências Humanas e Sociais exatamente porque é aquela que mais estimula o ser, o ter também, mas o ser humano, o ser social. Esse é o momento para que a gente se mexa, se mova do lugar e além dos nossos laboratórios, nós tenhamos um diálogo mais efetivo com o cidadão com a sociedade, com as instituições. Por isso que esse momento aqui, mesmo que tenha uma representação aqui, Belchior (Rocha) IF ex-reitor, a nossa Fapern, a SBPC, representada aqui pelo professor (John Fontenele), a nossa Comperve, Ridalvo (Oliveira), nosso Instituto Humanitas, que acabamos de criar, Alípio (DeSouza Filho) e tantos outros representações que nós temos aqui.
Acho que a gente falar de números é muito, repetindo jornal, mas é impossível não pensar, não lembrar, até para que a gente reproduza essas informações e sensibilize as pessoas também, pela questão dos números Renan (Medeiros), por que não é essa a sua entrevista belíssima sobre as pesquisas na Astronomia, não é só UFRN, o Rio Grande do Norte ter uma pessoa como você na Academia Brasileira de Ciências nos representando, é preciso que fale de números também, por que as pessoas contam o dinheiro e têm que saber onde e como vai se aplicar com mais responsabilidade. É preciso falar de números sim. Desde 2014 que o orçamento da educação, da ciência e da tecnologia vem em decadência. Quando não é cortado no início do ano na pela lei orçamentária, a LOA, ele é contingenciado, cortado durante o ano. Isso imprime para as instituições, os pesquisadores a obrigação de fazer um planejamento muitas vezes menor do que aquele que você faria com um orçamento mais largo ou sem o contingenciamento. Então é muito importante saber, lembrar, registrar nos panfletos mesmo. Um Ministério que dá o fomento para ciência, tecnologia, inovação e até para as comunicações, que absorveu comunicações, ele tinha 5 bilhões para o orçamento de 2019 e agora restam 2 bilhões e alguma coisa, ameaçando inclusive a partir de outubro o não pagamento de bolsas, isso antes do contingenciamento dos 42%! Antes disso, o presidente do CNQq já dizia que possivelmente de outubro em diante não pagaria (as bolsas) se não houvesse uma suplementação e descontingenciamento.
Isso é fato e nós temos que lidar com isso. Acrescente-se o Ministério de Educação, que nós tivemos mais cerca de 40% de contingenciamento porque tem algumas rubricas que realmente ficam em 40%, outras em menos de 30 e na média, dá mais da cerca de 34% para manutenção das atividades da universidade. Isso vai replicar e nosso reitor, o professor Daniel, está sendo obrigado, vai levar pro Consad certamente uma proposta de aprovação do custeio da UFRN desse ano com pelo menos 10% a menos, por que é irresponsável não fazer isso. Nós estamos em julho com 48% do orçamento. Em algum momento no seu laboratório você pediu o insumo, você pediu o que precisava pro laboratório funcionar e você não vai receber por que a universidade não tem como pagar, não tem como comprar, portanto. Então tudo isso vai de maneira contínua estar no nosso dia a dia e o grande prejuízo na área da ciência, da produção científica, esse prejuízo não para, ele se alarga por décadas porque aquilo que você não fez hoje pode refletir por exemplo que você não receba alunos de mestrado e doutorado, que vão estar lá na ponta, produzindo com você, que eles estejam preparados para fazer um concurso e já também produzindo conhecimento e formando recursos humanos na área de ciência e tecnologia.
E pra gente ter uma percepção da última década ou pelos menos dos últimos 15 anos, a produção científica cresceu no Brasil, principal e majoritariamente, mais de 90%, da produção científica brasileira é gerada, construída pelas instituições públicas, pelas federais, estaduais e algumas municipais. É meio paradoxal, inclusive, que depois de 2014 nós tenhamos crescido na produção cientifica com esse sofrimento, ou seja, cortando na carne, mas a gente foi sobrevivendo. Só que a gente não vai sobreviver por muito tempo com uma produção cientifica crescente por que pesquisas estão sendo minimizadas, o número de pesquisadores, de alunos que a gente vai receber vai ser menor. No RN, nós já temos instituições com distribuição de bolsas da Capes muito abaixo do que qualquer estado do Brasil. Nós fizemos esse estudo com as instituições no Fórum dos Reitores, quanto nós temos de pós-graduação, 122 programas de pós-graduação nas quatro instituições públicas , nós temos já 48 ou 50 doutorados. Crescemos no tamanho da pós-graduação no últimos anos, apesar desse sufoco, mas nós melhoramos também na qualidade da pós-graduação. Nas avaliações, (temos) três programas com conceito 6, sendo um da Ufersa e dois da UFRN; e o 7 de Ciência e Engenharia de Materiais, da UFRN; e subimos significativamente em muitos, do (conceito) 4 pro 5 e do (conceito) 3 pro 4 também, mas esse crescimento vai parar. Por que vai parar? Por que está faltando o que nos move, que é o financiamento. Coragem, ideias, gente pra fazer nós vamos ter, só que a gente não produz ciência sem o laboratório funcionando, sem as pessoas com oportunidade de estarem dialogando conjuntamente, construindo seminários, mesas-redondas, discutindo pra poder construir conhecimento segundo a metodologia científica nos permite e viabiliza. Então mesmo que nós tenhamos tido crescimento na produção e na qualidade acadêmica, apesar do decréscimo do financiamento, isso tem um limite. Já este ano já temos as primeiras evidência sobre os limites do corte de orçamento. Quais são? Aqueles programas que estão 3×3 ou 3×4 (com conceito 3 ou 4 nas três últimas avaliações), não mais receberão bolsas da Capes. Ou seja, aquela formação que a gente está fazendo e que está com pouca bolsa, ela vai acabar por que quando terminarem esses cursos, essas turmas, esses alunos, esses pesquisadores que estão com essas bolsas, esses programas não receberão mais? Se um programa já está frágil, como é que você tira o apoio? Você deixa de dar apoio? Ele vai ficar mais frágil.
Esse é um cenário de nós precisamos olhar de frente. Mas não só entre nós da Academia, das universidades, dos institutos. Nós não podemos estar só entre nós conversando sobre isso. Aqui no Rio Grande do Norte, nós fizemos o debate com os candidatos a governador, eu estou até com o documento que nós construímos, com as quatros instituições públicas, entregamos e dialogamos com cada candidato, claro com aqueles que quiseram receber, os que não quiseram receber ou conversar conosco foi enviado para a equipe lá da campanha deles. Nós fizemos esse levantamento e mostramos aos candidatos ao governo que, por exemplo, a nossa política de ciência e tecnologia no estado precisa ser aperfeiçoada. Nós temos uma Fapern – não é Gilton? E o professor Umbelino também foi um dirigente da Fapern no momento já de grande sofrimento – existe uma lei de incentivo à ciência e tecnologia do estado, mas ela sequer, eu digo de pé com toda clareza, que ela não é respeitada. Ela tem lei, mas a Fapern não tem autonomia porque na hora que a economia do estado sofre qualquer dificuldade, para onde não se repassa o orçamento? De onde se tira o orçamento? Da Fapern, que tem um percentual bastante pequeno. Quando eu digo isso aqui de pé com toda franqueza, é por que fizemos isso, enquanto gestora e gestores do IFRN e da Ufersa e da UERN, nós fomos, fizemos provocamos a Assembleia Legislativa do estado, pedimos audiência pública, nos reunimos com a comissão de ciência e tecnologia lá da Assembleia Legislativa, pedindo providências para que a Fapern fosse saneada. Fosse saneada, primeiro garantindo que esse orçamento não seja aquele que seja retirado e depois que fosse garantido o financiamento. Professor Umbelino sabe, vários professores aqui sabem, inclusive os presentes que nós do Rio Grande do Norte, o próprio Rio Grande do Norte perdeu projetos importantíssimos pra o desenvolvimento econômico e social do estado por que aquela mínima contrapartida que seria dada pela Fundação de Apoio do estado não foi possível dar. Tivemos alunos em programas importantíssimos para fazer sanduiches, pedaços, formações fora do Brasil com apoio; perdemos também instituto nacional de ciência e tecnologia, nós tínhamos 3 institutos, o último que a gente ainda se esforçou pra garantir a permanência de novo foi para o Rio de Janeiro, que já tem cerca de 20 institutos nacionais. Nós perdemos por que? Porque a Fundação não tinha o percentual, que é mínimo considerando os valores do projeto, para que o recurso viesse para o nosso estado.
Então o primeiro aspecto pelo qual a gente precisa lutar na rua, na praça, quando eu digo na praça é sair de dentro da universidade, sair de dentro do instituto, ir pra comissão de ciência e tecnologia da Assembleia, ir pra dentro da Assembleia Legislativa, o gabinete da governadora. Nós temos que falar com essas pessoas para que a gente mude a Lei de Ciência e Tecnologia. Ela já existe, mas precisa ser aperfeiçoada e quem faz lei e quem governa que incentive, cumpra, pelo menos cumpra e coloque um diferencial para o apoio à ciência e à tecnologia.
Meu primeiro slide dessa apresentação seria – e eu gostei da informação que seria informal por que eu estou doida por coisa informal nesse momento, estava muito cansada do formalismo e falar assim é muito melhor – mas o primeiro slide da minha apresentação, por que é uma apresentação típica já um padrão que a gente faz é da dependência que o desenvolvimento econômico e social tem de uma nação, de um estado, de qualquer região da ciência e da tecnologia e das inovações. Então esse é o 1ª slide, se puder usar o termo, a tautologia, já está tão experienciado, que não precisa mais de corroborações, é direto.
Quais os desafios que nós temos aqui no estado do RN? Primeira coisa a Fundação. Esse é um aspecto que a gente precisa trabalhar. O que é nós temos de estudo se mostra e nós necessitamos do avanço cientifico e tecnologia e a gente vai pensar nas grandes demandas que nós temos por projetos do estado e nós temos muitos setores que requerem conhecimento, conhecimento e não aventuras para que eles deslanchem. Vamos falar de turismo, já que a gente falou do Festival de Gastronomia de Martins. Turismo é um arranjo produtivo, me permitam falar assim, do estado do RN, incomensurável. Mas não se faz turismo, como um motor da economia do estado, nas simples impressões que as pessoas de como trabalhar turismo. Aqueles que têm oportunidade de viajar e ver alguma cidade, algum país, como realmente movimenta a economia daquele estado, cidade, país ainda vem com alguma ideia e tenta implantar aqui, mas não dá pra ser assim, vamos experimentar isso, vamos experimentar aquilo, vamos formar os guias turísticos. Só isso não dá. Tem que haver uma política forte baseada em fundamentação cientifica pra que a gente tenha essa condição do ter o turismo de uma forma melhor aproveitada no âmbito da economia.
Vamos falar agora mineração. A mineração já foi um arranjo produtivo, algo bastante arrojado no estado e todo mundo foi embora. Acabaram os minérios no RN? Alguns de vocês sabem que o estado é riquíssimo de minérios. As últimas notícias da semana, Currais Novos vai voltar a produzir toneladas de ouro! Tava onde isso? Por que essas coisas acontecem? Então, a conjugação do movimento político de quem ocupa os cargos políticos e da academia precisa ir junto. Os governantes precisam acreditar, ter projetos baseado no que tem disponível na região, no estado e buscar as instituições para favorecer esse desenvolvimento. Mineração: nós paramos de produzir conhecimentos sobre mineração? sobre turismo? Absolutamente. Recursos hídricos? Também não. Ciências climáticas, também não. Ciências humanas e sociais, exatas, tecnológicas, biociências, comunicação. Nós perdemos o bonde da história? Não. Os dados, os poucos dados que eu falei aqui no início mostram que a própria UFRN, o IFRN, a UERN a Ufersa e algumas instituições particulares têm se debruçado, tem feito suas pesquisas olhando o que está acontecendo, o que nós temos disponível no estado. Agora, para que, para quem? Alguns governos – eu tive a condição de passar pela gestão de alguns governadores do RN e alguns deles, todos eles dizem a nós, gestores, que o estado não tem quem faça projeto, o estado não tem projetos. Todos! e eu lembro bem de Wilma (Faria), de Rosalba (Ciarlini), por que a gente na UFRN, a gente sempre se portou assim, os dirigentes e eu sei que vocês também são assim, se conhece alguém no governo ou mesmo que não conheça, a gente diz, olhe a UFRN quer uma reunião por que nós queremos apresentar projetos, áreas, pesquisas. E a gente quer ouvir o estado para saber de vocês, quais as coisas mais importantes que você está priorizando que a gente possa ajudar, que a universidade possa ajudar. Muitas vezes fizemos isso. Agora, muitas vezes nós somos ouvidos ali, alguns dos nossos professores são convidados para dar contribuições lá dentro, isso já é uma participação importante, mas sobre projeto a b c d, na área de segurança, na área de mineração, na área de recursos hídricos, na questão ambiental… Alguns ainda chamam, venham pra cá, vamos trabalhar. O Governo Fátima está começando agora, continua com um número muito significativo de pessoas das instituições de ensino e pesquisa pra ajudar, pra alavancar, até o momento nós temos uma grande demanda de projetos. O governo municipal também. Algumas prefeituras do estado do RN buscam a universidade pra desenvolver algum projeto, como por exemplo, o saneamento básico.
Nós estamos com mais de 80 municípios com projetos, com apoio da Funasa, pra o saneamento básico nesses municípios. O desafio, no final da gestão com a Funasa, é que a gente chegasse a 100 municípios em 2018 com o projeto de saneamento. Porque não é um projeto para levar o saneamento, é ensinar, trabalhar com os servidores daquele município para eles saberem planejar e fazerem o plano de saneamento a ser implementado pela prefeitura. A Funasa segue financiando e ajudando o município a implementar o plano, mas as pessoas precisam saber como fazer por que sai a universidade e fica o papel. Então a gente trabalha formando as pessoas, construindo aquele conhecimento. Em muitas áreas esses projetos estão em andamento.
Eu aqui só falei um pouco das potencialidades do estado do RN e dos desafios que esse estado apresenta para o desenvolvimento econômico e social, mas há um estudo que eu quero referenciar, se vocês não conhecerem. É um estudo que foi feito (entre o) governo do estado, Fiern, as federações, mas basicamente quem puxou essa carruagem foi a Fiern com o governo do estado, mas foi financiado pelas federações, um estudo chamado mais RN. Eu não sei se o Mais RN está na página da Fiern ainda com o nome Mais RN, mas ele apresenta o setor na economia, a situação como está, os desafios, que metas, que ações poderiam ser realizadas para aquele desenvolvimento acontecer. Há também naquele estudo atribuições, demandas pra academia. Aquelas coisas só irão se desenvolver se tiver o apoio, o desenvolvimento científico, tecnologia e inovação, muitas vezes inovação para aquela meta, aquela ação se consolidar. Esse é o estudo que guia, tem guiado ou movimentado o governo Robinson Faria, eu acompanhei, digo assim iluminado, não sei o que movimentou, acho que pouco e ele continua sendo olhado pela UFRN, pelas instituições porque desde o governo Rosalba, nós no final do ano, acho que quem estava lá na Fapern era a professora Bernadete (Cordeiro), quando foi proposto um parque tecnológico entre aqueles projetos que o Banco Mundial iria financiar. Naquela época, a gente falava de um parque tecnológico em muitas áreas, incluía mineração, piscicultura, tecnologia da informação, muitas áreas, meio ambiente, isso foi trabalhado e foi assinado um acordo de cooperação em dezembro de 2014. O governo Robinson andou um pouquinho nesse projeto, foi proposto um parque tecnológico lá em Pitangui, embora também tivesse sido solicitado à UFRN, o espaço lá em Macaíba. (Uílame) Umbelino passou um tempo na Fapern nesse período e ai o projeto foi se encaminhando. No final do governo Robinson, o projeto pra esse parque ser lá em Pitangui foi desencaminhado, não foi aprovado por um parecer do Banco Mundial e voltou a demanda para que o parque seja lá no Campus do Cérebro, que é terreno cedido pela UFRN. A governadora Fátima ao assumir em janeiro, a sua equipe de transição já vinha conversando com a equipe de Robinson sobre a continuidade desse projeto… Esse acordo do Banco Mundial vai cessar nesse ano ou no próximo ano de 2020 mas ela está encaminhando, conseguiu mais um ano e pouco, alguma coisa, até março de 2021 para utilizar o recurso que de 50 milhões, 40 milhões que se falava em 2014, hoje restam 8 milhões para obras do parque. Nós, instituições estamos juntas IFRN, Ufersa, UERN e UFRN estamos juntas para que a gente ajude o estado do Rio Grande do Norte no desenvolvimento.
Todos sabem que um parque tecnológico é uma tríplice, tem que ter o setor governamental, o apoio deste parque será o governo do estado, mas a Prefeitura de Macaíba está bastante engajada nisso, nós teremos Sebrae e Fiern já signatários do protocolo de intenções e as quatros instituições públicas. Esse parque será – espero – nós esperamos, estamos planejando isso, que ele seja implantado lá na Escola Ligia Laporta, que faz parte do Campus do Cérebro, mas que em 2017 foi dito à Universidade e ao Instituto Santos Dumont, que faz a gestão do Campus do Cérebro, que o MEC não financiará a escola e que portanto o Instituto devolvesse aquela escola para a UFRN e UFRN vai receber – ainda não recebeu formalmente, vai receber um equipamento de 17 mil metros quadrados e um equipamento daquele custou caro. Nós temos que utilizá-lo com os projetos de interesse das instituições e de interesse do RN. Por fim, houve esse entendimento desde o final do Governo Robinson, começo do Governo Fátima pra que esse parque tecnológico seja implementado na escola e atualmente nós estamos trabalhando e eu digo nós por que é um trabalho ingrato e grande que tem pela frente e (o reitor da UFRN) Daniel me convidou para uma assessoria, mas tentar implantar esse parque por que não é uma coisa fácil, a gente tem que transitar com a legislação do estado, com a prefeitura de Macaíba, com os parceiros, com o Banco Mundial e se ela conseguiu mais um ano e pouco para utilização desse orçamento de 8 milhões, nós estamos agora, depois que eu voltei a trabalhar depois de 10 dias de férias que tirei, eu voltei, a gente está trabalhando intensamente. A Fapern participa, a Sedec participa, o secretário (Fernando) Mineiro, (da Secretaria) de Articulação, também participa, Gustavo Rosado, que é Secretário de Infra-Estrutura hoje do estado, também participa.
E o que a gente está trabalhando? Na reelaboração do projeto do parque lá na Escola Lígia Laporta, em Macaiba. Há muito o que resolver, há muito o que fazer. Lá tem uma estrutura que foi preparada para uma escola e ela vai ser utilizada agora para um parque tecnológico. A gente tem que mudar algumas salas para receber incubadoras, aceleradoras de empresa, laboratórios etc. Eu acho que a gente tem ali uma redefinição de áreas do parque por que não dá pra ser, pra iniciar um parque tecnológico numa conjuntura como nós estamos vivendo agora, a gente tem que redimensionar as áreas. Nós prospectamos com as quatro instituições as áreas fortes pelo menos em que incubadoras já estejam aparecendo. Mapeamos pelo menos três grandes áreas; uma é em reabilitação em saúde. Qual é o primeiro parceiro da reabilitação em saúde? O centro de pesquisa do Campus do Cérebro, que está funcionando ao lado. Ele trabalha reabilitação do ponto de vista neurológico, neurociências etc. Eu diria que quase todas as áreas dão contribuições para reabilitação em saúde inclusive algumas áreas de Humanas também. Saúde não é só saúde do osso, nem do olho, não é só o fisiológico, saúde é muito mais global. Então reabilitação em saúde é uma das áreas que a gente vai colocar. Não foi uma decisão da UFRN, isso é uma discussão das instituições e do Governo do Estado. Também a área da tecnologias da informação. Nesta área nós já temos inclusive um parque que a âncora é a UFRN, é o Metrópole Digital. O Metrópole será uma célula para o parque tecnológico, sem remover o IMD para Macaíba, assim como Ufersa, IFRN e UERN podem ter células desse parque lá em Pau dos Ferros, lá em Mossoró, lá em Caicó, Ipanguaçu, dependendo do órgão, dependendo daquele arranjo produtivo, serão células desse parque e o maior será lá em Macaíba. A outra área é energia. E vem a energia renovável, mas também as renováveis que é uma das potencialidades do estado do Rio Grande do Norte na questão de eólica. Acreditamos que as primeiras empresas que a gente atraia vai atrair para cá e lá para Macaíba, não só as de tecnologia da informação, será também as de energia eólica mas também petróleo, biogás e biocombustíveis. Nós temos expertises das nossas instituições pra desenvolver pesquisa. Já temos uma rede de laboratórios bastante grande. Energia, reabilitação e tecnologia da informação são as áreas que a gente vai iniciar nesse parque. O que nós imaginamos? Vai ser muito difícil por que estamos num momento singular da história, da economia e da política no Brasil. Mas e aí vem outro aspecto que eu gostaria de ressaltar nessa fala é que nesse momento de crise, de grande sufoco que nós temos que ter projetos fortes, grandes e importantes.
Por isso que é enquanto gestora da UFRN não teve – uma das gratas alegria que eu tenho é de pensar que o menor, mais simples projeto que me foi apresentado, que a gente entendeu, se a equipe entendeu que foi bem apresentado, bem fundamentado, o que a gente entendeu que é importante, nós apoiamos. Apoiar no sentido de alavancar, de dar força, de dar institucionalidade ao maior e o mais importante, mais importante de envergadura, de tamanho de investimento. Se é muito caro, ah, não vamos fazer, pare de fazer esse projeto! Nunca dissemos isso. Ao contrário, eu acho que é nesse momento em que a gente tem que olhar pra frente e pensar no seguinte: as instituições têm que ser fortes, mas não existe instituição parede, existe instituição mente, pessoas que fazem a instituição. A instituição que nós dirigimos até meses atrás, essa instituição são vocês, somos nós. Se fizemos bem, se não fizemos bem, se fizemos crescer, qualificar, não fui eu e minha equipe, foram todas as pessoas que fazem a universidade. Então as instituições tem uma responsabilidade muito grande nessa hora e quando eu estou falando instituição, eu estou falando de cada membro desta comunidade, dessa instituição. A gente tem que olhar para frente e olhar que nessa hora se faltou tempo pra você, faltou dinheiro no orçamento, o financiamento, o edital da Capes, do CNPq, do Ministério da Ciência e Tecnologia, o edital internacional etc, não vai faltar a sua criatividade, a sua condição de criar, de prospectar, mas prospectar para quê e para quem? Nesse aspecto, a gente precisa também se motivar, se iluminar com os dados dos desafios locais e também dos desafios internacionais.
Nesse sentido é importante a gente lembrar as grandes agendas mundiais. Aquelas que a ONU constrói, não é que ela manda, ela constrói com as nações e uma delas é a agenda do desenvolvimento sustentável – os ODS – os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável é a agenda 2030 do planeta. Ela não é uma agenda do governante que assinou aquele pacto com a ONU naquele momento. Essa é uma agenda da humanidade, é uma agenda do cidadão, do território, visa a paz, a prosperidade, as parcerias… Então, essa é uma agenda que as instituições podem olhar. Na hora que você está cuidando do seu município, fazendo um projeto do Trilhas Potiguares, fazendo um projeto de pesquisa, escolhendo temáticas no seu pós-doc, escolhendo temáticas, trabalhando com seus orientandos de graduação, de pós-graduação, a gente tem que se perguntar – e eu sei que vocês fazem isso com base em toda fundamentação teórica que vocês tem, mas tem que olhar como é que aquilo vai dar envolvimento, aplicabilidade no caso das aplicabilidades, mas tudo é aplicável e a gente pode passar para a discussão do que é aplicabilidade, mas tudo tem uma finalidade. E eu acho que se a gente olhar agendas como a ONU, do desenvolvimento sustentável, que está pisoteada por esse governo, principalmente por que a comissão nacional que cuida das ações junto à ONU, a comissão praticamente foi desfeita por aquele decreto que elimina os conselhos e comissões com participação da sociedade civil. A comissão é paritária, são oito membros governamentais e oito membros da sociedade civil. A Andifes (Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior) estava representada, representando a sociedade civil agora até julho eu estava, enquanto reitora na comissão representando a Andifes, portanto, as universidades, disseminando junto aos pró-reitores de planejamento, de assistência estudantil, de pesquisa a agenda 2030 para que o planejamento institucional olhe pros grandes compromissos, como a redução da desigualdade, a educação de qualidade, a igualdade de gênero, a questão da água potável e da segurança climática, as energias renováveis, todas essas questões a gente estava tentando levar pros pró-reitores. Essa comissão nunca mais se reuniu, nem sei se vai reunir, por que mudou o presidente, o general Santos Cruz. Ele ainda fez duas reuniões conosco, disse que a agenda iria continuar, mas depois o próprio decreto que extinguiu os conselhos com participação de sociedade civil, a comissão não se reuniu mais. Entretanto, como eu disse, a agenda não depende de governos, a agenda é das pessoas, a agenda é dos cidadãos, a agenda é do estado brasileiro e dos estados signatários que participam da ONU.
Eu cito a agenda 2030 como um dos referenciais para iluminar aquilo que a gente escolhe pra desenvolver e para realizar como projeto, as responsabilidades são imensas, acho que vocês sabem, se não sabem procurem trabalhar com as Pró-Reitorias, por que o planejamento estratégico no nível da administração e que chegará gradativamente em todas as unidades, as nossas grandes ações se balizam, se vinculam, a gente faz o planejamento vinculando com os objetivos do desenvolvimento sustentável. É preciso fazer isso, o estado já implementou a comissão, está fazendo planejamento (PPA), fazendo a vinculação das ações e metas aos objetivos do desenvolvimento sustentável por que fazendo isso a gente está considerando uma agenda maior, uma unidade para que em 2030, nós estejamos numa situação melhor.
Em termos de Brasil, como eu já vou encerrar, penso que aquela expressão que a gente usa – olhe pra palavra crise e tire o s – eu acho que ela nunca foi tão utilizada, mas tão importante para nós. Isso não é clichê, isso é o que a gente tem que fazer mesmo, por que nesse momento nós precisamos estar trabalhando, fazendo escolhas mais severas, muito mais críticas e muito mais preocupados com o nosso entorno, o nosso ambiente social, nossos grupos sociais, nosso estado, nosso território, os problemas que estão afetando a população. São esses problemas que precisam motivar cada vez mais a nossa missão como professor, como pesquisador, que está formando recursos humanos, está produzindo conhecimento e também produzindo coisas novas, produtos e processos novos, por meio da inovação tecnológica, para que a gente faça com que o conhecimento chegue lá na casa do cidadão.
Agora para de fato encerrar, não dá pra fazer isso sem divulgar. Essa importância muito grande deste evento e dar amplitude ao que nós fazemos na academia. Muitas vezes a gente recebe algumas críticas de que a universidade, vocês estão lá e falava até de um olimpo, eu não pensava que as pessoas pensavam isso, mas a gente precisa dar a cara a tapa em alguns momentos. Nós somos tão ocupados e nós trabalhamos tanto, o dia todo, o mês todo, o ano todo numa universidade e a gente sabe que o conhecimento que a gente está gerando vai gerar benefício, mas não basta fazer isso. A gente tem que estar com o cidadão do lado, dizendo pra ele, olha aqui, você está financiando isso, você está demandando isso. Cura de doença, quantas pessoas tem famílias com Alzheimer, com Parkinson, com depressão, com tanta doença social, socialmente causada e não sabe que é você que está fazendo ciência e está movendo esse moinho. Então, a divulgação cientifica é essa sensibilização da sociedade, desafios da ciência como propulsora do desenvolvimento humano, do desenvolvimento econômico. As pessoas não sabem, a começar do rapaz da Rádio 96, que ficou falando do panificador e uma palavra de ciência não falou. Nós temos culpa neste cartório, culpa no sentido da responsabilidade, ninguém vai falar por nós, somos nós mesmos que fazemos e que temos que aprender a divulgar mais pra sensibilizar a sociedade, o cidadão e ele vai estar no nosso lado na marcha pelo financiamento da ciência não como gasto e sim investimento.
Eu finalizo agradecendo novamente esse espaço na Nossa Ciência, da Fapern e se possível vamos avançar e criar outros mecanismos da divulgação e vários em andamento, tem muitas ideias pra gente fazer a divulgação cientifica, a divulgação daquilo que nós fazemos. A Pró-Reitoria de Pós-Gradução tem algumas ideias, implementando. Doutores do conhecimento já é uma sementinha pra você traduzir, agora como é que essa coisa chega lá concorrendo com vídeo das coisas terríveis que a gente vê circular em rede social? A gente precisa saber fazer essa comunicação, pra gente competir. Uma coisa é como os doutores do conhecimento competir com o que eu não tenho nem palavra pra dizer o que está em 99% das redes sociais no dia a dia das pessoas que tem tempo de estar numa vida social e se alimentando daquelas informações. Como é que a gente faz essa transformação? Eu creio nos colegas das comunicações eu creio que este é um grande desafio da área de comunicação. Jornalismo cientifico nunca foi, eu conheço poucas instituições que tem essa área mais forte. São poucas, pelas minhas experiências a gente não vê isso muito forte no Brasil, nas instituições brasileiras. Nosso desejo aqui é que vocês, nós todos nos mantenhamos firmes por que nós somos realmente as instituições, as pessoas que dão a maior contribuição socialmente os fatores humanos a vida e a gente se desenvolva e desenvolvimento depende de ciência, que é o que a gente faz, produção cientifica e tecnologia.
Muito obrigada
Leia também: Homo cientificus quer pensar o Rio Grande do Norte
Mônica Costa
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