A Campus Party encerra e deixa expectativas para outra edição em Natal. Próxima feira acontece em Salvador, entre os dias 16 e 20 de maio
Durante quatro dias, o Centro de Convenções de Natal foi palco da Campus Party. A feira, que aconteceu pela primeira vez no Rio Grande do Norte, encerrou neste domingo (15) e superou as expectativas dos organizadores, com ingressos esgotados e mais de 60 mil visitantes. Quem esteve no local, pôde prestigiar palestras e workshops com nomes de destaque internacional, conhecer novidades da área tecnológica e presenciar impressoras 3D e robôs em ação.
Legado Include
Foi assinada uma carta de compromisso com a Prefeitura de Parnamirim, SEBRAE, UFRN e o vereador Sueldo Medeiros, presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação da Câmara Municipal de Natal, para a criação de 4 laboratórios Include na região de Parnamirim e Natal.
Os laboratórios são parte do projeto Include, do Instituto Campus Party, que consiste na criação e montagem de laboratórios de robótica para aproximar os jovens (menores de 18 anos), moradores de áreas periféricas, da tecnologia. O programa tem como objetivo, identificar talentos e criar caminhos para que possam estudar em escolas especiais, encaminhá-los ao mercado de trabalho e prepará-los em busca de soluções para a própria comunidade usando a tecnologia.
Gênero e tecnologia
O público da Campus Party é majoritariamente jovem. 74% tem entre 18 e 29 anos, destes, 62% são homens e 32%, mulheres. A presença feminina na área tecnológica também gerou debates durante o evento. Nos palestrantes principais, esteve Rosaly Lopes, pesquisadora da Nasa e primeira mulher a editora-chefe da revista Icarus. Dentre os destaques, houve a palestra “A atuação da mulher na ciência brasileira”, ministrada pela professora da Escola de Ciência e Tecnologia da UFRN, Elisama Vieira dos Santos, vencedora do Prêmio L’Óreal – Unesco para Mulheres na Ciência, em 2016.
Outras discussões envolvendo o tema ocorreram ao longo da Campus Party, em grande parte voltadas à área de computação. A professora da Universidade Federal da Paraíba, Vanessa Farias Dantas, leciona nos cursos de Ciências da Computação e Sistemas de Informação e ressaltou atividades que consistem em formação de redes de apoio, eventos voltados à atuação feminina na TI. Dantas, comenta que as mulheres tiveram papel fundamental na área da informática, enfatizando o nome da primeira programadora da história, Ada Lovelace. Em sala, a docente busca trazer a contribuição feminina na área e atua junto a grupos de alunas para combater a discriminação e evasão de garotas no curso.
Empreendedorismo
Eugenio Pacelly integra a Void3D, especializada em impressão 3D em Natal. Exibindo um protótipo para o público, comenta que “esses eventos são importantes por aproximar os clientes e desmistificar um pouco a ideia que em Natal não se faz tecnologia. A gente sempre está tentando mostrar que não é algo que só acontece na TV ou só acontece no sul do país. Existe esse grau de tecnologia aqui em Natal, como por exemplo, a robótica na educação”, finaliza.
Pacelly relata que começou em 2016, através da incubadora do Instituto Metrópole Digital, da UFRN, reunindo engenheiros mecânicos, de telecomunicações e de computação. No início, conta que a ideia era montar uma empresa voltada à robótica educacional, mas diante das dificuldades, decidiram apostar no mercado das impressoras 3D e acredita que, em breve, será possível disponibilizá-la ao consumidor doméstico. “Nós começamos com R$ 100 cada um e tivemos alguns apoios. Só conseguimos chegar nesse ponto porque tivemos pessoas que acreditaram e auxiliaram e porque tivemos orientação. Eu acredito que o papel do IMD, assim como das outras incubadoras, são de fundamental importância para que a gente consiga mudar o paradigma da nossa economia atual”, afirma.
Lucas Silva é estudante de design digital da Universidade Federal do Ceará, campus Quixadá, e trouxe o projeto de aplicativo chamado Bilíngua, voltado para o ensino de Libras e Português para surdos. “Esse aplicativo surgiu de uma pesquisa de campo que fizemos na universidade. A gente tinha um problema para identificar e resolver, e no caso dos surdos, é a falta de inclusão digital e social, com isso propomos uma solução”, explica.
Lucas nos conta que aplicativo inicialmente trabalha com crianças de 7 a 14 anos e posteriormente pretende colocá-lo para público em geral. “Vimos que alguns surdos não frequentam a escola e isso causa a falta de inclusão. Às vezes, os pais não incentivam os filhos a estudar ou nem conhecem a Libras, mas isso é previsto em lei e toda instituição pública precisa ter o recurso que ofereça suporte a esse tipo de ensino”, ressalta e complementa “temos apoio da Universidade e duas ONGs parceiras. Vamos implantar até o final do ano uma versão beta, que é a versão de teste, para avaliar como funciona e se precisa mudar alguma coisa”.
UERN
A Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), umas principais unidades parceiras do evento, teve trabalhos premiados: no Hackathon promovido pela Justiça, a equipe do Campus de Natal ficou em segundo lugar; uma aluna da UERN Natal participou da equipe mista que venceu o Hackathon da Secretaria de Segurança; a UERN ainda foi contemplada com o prêmio de terceiro lugar no desafio “Leve seu robô”, com a equipe de Ciência da Computação, do Campus Central. As duas equipes (Natal e Mossoró) contaram com o reforço de servidores técnicos: Priscila Kruger, em Natal, e Dênis Freire orientando a equipe de Mossoró.
Acampamento
Letícia Marques e Mateus Paixão passaram dois dias em um ônibus do Tocantis até Natal. Ambos são estudantes do terceiro ano de curso técnico em Informática do Instituto Federal do Tocantins (IFTO), campus Colinas. Os jovens nunca tinham viajado sozinhos e aproveitaram a oportunidade de conhecer Natal, proporcionada pela instituição que estudam. Ambos contaram que vieram em ônibus do Instituto Federal do Tocantins, sob a tutela de um professor responsável, “foi a primeira vez por isso estamos alegres, é a primeira vez em um evento tão grande, então, foram dois dias de viagem, tudo uma correria e tem o cansaço do ônibus”, comentam.
“Viemos para Natal porque teve a oportunidade, a gente agarrou essa oportunidade com toda força e estamos conhecendo o evento. Da cidade conhecemos alguns pontos turísticos, mas a maior parte do tempo ficamos aqui mesmo”, comentam. Sobre a estrutura do camping, Letícia ressalta: “é seguro, tem o acompanhamento dos bombeiros, segurança, tem a climatização e os banheiros são limpos com frequência”.
Melhorias
Entre os campuseiros, a queixa foi a falta de bebedouros nos primeiros dias de evento. Mesmo com a organização tendo providenciado, os participantes alegaram que a quantidade era insuficiente para a demanda, além de estarem concentrados em um único local. Em relação ao Open Campus, os visitantes se mostraram entusiasmados com o conteúdo e as novidades, mas relataram filas e esperam que na próxima, o espaço aberto seja mais amplo.
A alta procura causou dificuldade de circulação em determinados momentos, e requereu maior atenção, tendo em vista que havia muitas crianças. O movimento nos corredores e barulho interferiam para estava fazendo oficinas ou conversando com os integrantes das startups em exibição. A ampliação do Centro de Convenções, prometida para ser entregue antes da Campus Party, ainda não foi finalizada. Com a modernização, o espaço passa de 14 mil m² para 22,4 mil, permitindo aos organizadores estruturar melhor a área de visita gratuita em futuras edições do evento.
Luana França
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