Natal pode se tornar a capital aeroespacial do nordeste Geral

terça-feira, 29 setembro 2015

Implementar uma estrutura de ensino e pesquisa, através da criação de cursos de extensão e pós-graduação, e atrair empresas para a instalação do Polo Aeroespacial do Nordeste (PAN), em Natal. Esses são os objetivos da parceria que está sendo firmada entre a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o Centro de Lançamento Barreira do Inferno (CLBI), o Instituto de Estudos Avançados do Centro Técnico Aeroespacial (IEAv/CTA) de São José dos Campos (SP), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Centro Regional do Nordeste (INPE/CRN) e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).

Representantes dessas instituições estiveram reunidos no dia 20 de agosto, na UFRN, para discutir as responsabilidades dos parceiros e definir uma agenda de ações para que até o final deste ano seja iniciada a fase operacional. De acordo com o professor George Marinho, da UFRN, que coordenou o encontro, Natal reúne uma série de características favoráveis à instalação de um polo aeroespacial. “Entre outros aspectos temos aqui um centro de lançamento, uma grande universidade federal, um Batalhão de Engenharia, além de um enorme interesse pela área espacial. Isso qualifica Natal para se tornar a capital aeroespacial do nordeste”, explicou o professor.

Uma etapa importante desse processo de transformação será a instalação de uma Plataforma Hipersônica de Lançamento Orbital (PHiLo), projeto que vem sendo desenvolvido pelos pesquisadores do IEAv, entre eles o professor Antônio Carlos Oliveira, presente ao evento. Ele explicou que, dentro da parceria, a meta do seu instituto é transferir o atual acelerador hipersônico linear montado em São José dos Campos para a UFRN. “Nosso compromisso também inclui criar um ambiente acadêmico propício para a capacitação de recursos humanos aqui em Natal, apoiar na construção da plataforma hipersônica no CLBI e estabelecer rotinas de lançamento afinadas aos interesses da UFRN, ITA e IEAv”, detalhou Oliveira.

O professor Oliveira explicou que a propulsão hipersônica é uma tecnologia disruptiva, isto é, fora dos padrões convencionais, de lançamento de veículos espaciais. Em vez de motor-foguete, utiliza-se gás a altíssimas pressões (maiores do que 3000 atm) para gerar ignição por onda de choque e, assim, impulsionar o veículo a velocidades hipersônicas, ou seja, cinco vezes maiores que a do som, que é de aproximadamente 1.224 km/h. Atualmente, o IEAv consegue, com essa tecnologia, fazer veículos de teste de 200 g atingirem cerca de 10.800 km/h. “O desafio é chegar aos 28.800 km/h, velocidade necessária para colocar um objeto em órbita”, comentou.

Todos ganham

Com a parceria, Oliveira reforça que haverá vantagens e benefícios para todas as partes. “Começando pelo IEAv que aumentará sua capacidade de pesquisa com a construção de um novo acelerador hipersônico; a UFRN que será inserida no cenário aeroespacial do país e receberá do IEAv uma estrutura laboratorial de alto valor tecnológico; o CLBI terá lançamentos de nano e microssatélites e poderá conquistar parceiros nacionais e internacionais; o ITA poderá incluir lançamentos reais na formação de seus alunos e o INPE/CRN poderá fazer testes de componentes eletrônicos e realizar experiências de obtenção de dados da atmosfera a baixo custo”, afirmou. Para que tudo saia do papel, os especialistas estimam um investimento em torno de R$ 46 milhões, ao longo de seis anos.

Pelo lado potiguar, o próximo passo é a definição de um espaço, dentro do CLBI, para a construção de uma estrutura que vai receber parte dos equipamentos que foram disponibilizados para a UFRN pelo IEAv. Segundo o professor George Marinho, da UFRN, os entendimentos já começaram. “Devido a questões de segurança esses equipamentos não podem ser operados na UFRN, isso deve ser feito em locais que tem experiência com os riscos desse tipo de aparelhagem. O local vai ter que ser estudado, pois envolve o acesso de civis da universidade e de outras instituições ao CLBI. O próximo passo é definir esse local e começar a construir para recebermos esses equipamentos”, afirmou Marinho.

A UFRN também tem tarefas a cumprir, segundo o professor. “Aqui na universidade temos que começar a fazer o dever de casa, que é formar um grupo interessado em trabalhar nessa área, pois a gente não pode trabalhar sozinho, e dentro desse grupo criar essa base de pesquisa em C&T aeroespaciais. Depois disso vamos ter que trazer o pessoal do IEAv para complementar a parte de estudos, eles vão nos ajudar. E já está avançada a questão da criação de um curso de pós-graduação aqui na UFRN, com isso o papel da academia estará resolvido”, resumiu.

Gargalos

Para que o projeto vire uma realidade já em 2016, Marinho afirma que alguns obstáculos devem ser vencidos. “O gargalo está na burocracia das instituições. Esse ano, ainda teremos uma posição do comando aéreo, a quem o CLBI está subordinado, quanto a essa questão do espaço. Depois disso, essa parte burocrática tem que ser vencida para que os pesquisadores do IEAv venham ministrar o curso de extensão aqui na UFRN. A universidade deve começar a trabalhar para formalizar a criação dessa pós-graduação, respondendo aos colegiados e às direções dos centros, pois esse projeto tem que ficar pronto no ano que vem”, aposta.

Ainda segundo Marinho, criação do Polo Aeroespacial do Nordeste será a ponta final do projeto. “Se a gente tiver feito tudo o que mencionei antes, quando estiver tudo pronto e a gente começar a interagir, isso naturalmente vai chegar, pois vamos precisar de empresas aqui. A meta final é criar esse polo aqui em Natal”.

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