Inovação da UFC no combate ao câncer de próstata
Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) desenvolveram uma inovação que combina duas substâncias de origem natural em uma nanoemulsão para combater o câncer de próstata. Essas nanoemulsões são misturas de óleo e água com gotículas microscópicas, medindo entre 20 e 500 nanômetros – para referência, um nanômetro equivale a um milionésimo de milímetro. A pesquisa resultou na concessão de uma carta-patente.
A primeira substância utilizada é o ácido betulínico, proveniente do metabolismo de várias plantas, especialmente da bétula branca, conhecida como vidoeiro-branco. O ácido é amplamente estudado por seus efeitos antitumorais em diversos tipos de câncer, incluindo melanoma, mama, próstata, colorretal e pulmão. Contudo, sua baixa solubilidade tem limitado sua aplicação como medicamento anticâncer.
Para superar esse desafio, os cientistas encapsularam o ácido betulínico em uma nanoemulsão utilizando o óleo da planta Calotropis procera, popularmente chamada de “bombardeira”, “algodoeiro de seda” ou “bom-dia”. Essa planta, comum no semiárido nordestino, é amplamente utilizada na medicina tradicional e possui propriedades anti-inflamatórias.
“A associação do óleo fixo da Calotropis procera com substâncias citotóxicas foi investigada como alternativa terapêutica mais segura e eficaz para o tratamento do câncer”, explica a professora Nágila Ricardo, do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica da UFC, uma das autoras do estudo.
A formulação foi desenvolvida no Laboratório de Polímeros e Inovação de Materiais e testada no Laboratório de Oncologia Experimental da UFC. Os experimentos realizados em 2023 analisaram os efeitos citotóxicos da nanoemulsão em diferentes tipos de células tumorais. O maior destaque foi observado no câncer de próstata, onde os resultados se mostraram especialmente promissores.
Assim como outros avanços em nanotecnologia desenvolvidos pela UFC, essa nanoemulsão oferece uma abordagem mais direcionada, atacando preferencialmente células tumorais e preservando as células saudáveis. “A nanotecnologia possibilita a criação de sistemas que prolongam o tempo de circulação do medicamento na corrente sanguínea, liberam o fármaco de maneira controlada e reduzem a dosagem necessária, diminuindo, assim, os efeitos colaterais”, detalha Nágila Ricardo.
O diferencial do estudo é a combinação seletiva de um ativo anticâncer e um óleo anti-inflamatório, ambos naturais, em uma plataforma nanoestruturada. Esse modelo pode inspirar o desenvolvimento de novos medicamentos. “Ainda precisamos determinar se a nanoemulsão será mais eficaz isoladamente ou em combinação com a quimioterapia convencional, o que será investigado em futuros testes pré-clínicos e clínicos”, acrescenta a professora.
Além de Nágila Ricardo e André Luiz Sousa, autor da tese que originou o projeto, participaram da pesquisa os cientistas Pedro Mikael da Silva Costa, Louhana Moreira Rebouças, Claudia do Ó Pessoa, Ícaro Gusmão Pinto Vieira, Francisco Marlon Fontenele Lemos, Victor Borges Fernandes e Deyse de Sousa Maia.
A UFC vem se destacando em estudos que aplicam nanotecnologia para criar terapias mais precisas e personalizadas contra o câncer. “As nanopartículas oferecem vantagens significativas, como uma entrega mais eficiente de fármacos, redução de efeitos colaterais e maior concentração do medicamento no tumor”, explica a professora Cláudia do Ó Pessoa, coordenadora do Laboratório de Oncologia Experimental. Segundo ela, o uso direcionado de nanopartículas é um passo importante para minimizar a toxicidade em tecidos saudáveis, aumentando a eficácia do tratamento oncológico. A pesquisa reflete o compromisso da UFC em explorar o potencial da nanotecnologia para revolucionar o tratamento de doenças graves como o câncer, trazendo esperança para terapias mais seguras e eficazes.
Redação Nossa Ciência, com informações da UFC
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