Pesquisadores da UFC encapsularam nas nanopartículas a anfotericina B, importante remédio antifúngico, reduzindo efeitos colaterais
Uma das principais medicações com atividade antifúngica já descobertas, a anfotericina B (AmB) é usada no mundo inteiro contra leishmaniose e diversas infecções por fungos. Porém, o fármaco tem desvantagens consideráveis: alta toxicidade, o que resulta em efeitos colaterais relativamente agressivos, e baixa solubilidade, prejudicando a eficiência de sua administração.
Para superar essas adversidades, a nanotecnologia pode ser uma aliada, como mostra nova pesquisa da Universidade Federal do Ceará, cujo foco está no desenvolvimento de partículas que podem servir como nanocarreadores da AmB. Elas atuariam para “transportar” o medicamento e liberá-lo no organismo de forma controlada.
O estudo, publicado no periódico Carbohydrate Polymer Technologies and Applications, baseia-se na síntese de um copolímero, uma grande estrutura formada por dois diferentes polímeros (que, por sua vez, são estruturas compostas por moléculas menores).
Nesse caso, o copolímero foi produzido pela junção de um polímero natural extraído de árvores de cajueiro (goma) a um polímero sintético (a N-isopropilacrilamida), que possui propriedade termo-responsiva, ou seja, que muda suas características de acordo com a temperatura.
Uma vez sintetizado, esse copolímero foi utilizado para encapsular a AmB, funcionando justamente como um nanocarreador do fármaco, para facilitar e melhorar sua administração, na intenção de reduzir os efeitos colaterais e deixar o medicamento menos agressivo ao organismo, além de mais eficiente.
Isso porque, ao invés de uma administração livre do fármaco, que normalmente ficaria “solto” no organismo, com um encapsulamento há uma liberação do composto farmacológico ao longo de horas com um nanocarreador servindo como cápsula.
Para avaliar a funcionalidade desse encapsulamento, os pesquisadores fizeram um teste: usaram a anfotericina B encapsulada com os copolímeros e o modelo comercial do fármaco contra quatro diferentes cepas do fungo Candida albicans, conhecido por causar infecções orais e vaginais em seres humanos, e compararam a eficiência de ambos.
Com os testes, viu-se que uma das fórmulas encapsuladas de AmB inibiu o crescimento fúngico de todas as quatro cepas, com uma importante vantagem: uma toxicidade consideravelmente menor.
“Na nossa formulação, essa toxicidade [da AmB] foi reduzida, mantendo-se sua ação fungicida. O encapsulamento da anfotericina B em nanopartículas reduz uma agregação natural desse fármaco, que provoca uma série de efeitos colaterais, como nefrotoxicidade [que prejudica os rins]”, explica a Profª Regina Célia Monteiro de Paula, uma das coordenadoras do Laboratório de Polímeros da UFC e uma das autoras do estudo.
Outro aspecto positivo resultante do uso dos copolímeros como nanocarreadores está relacionado a um efeito colateral conhecido como hemólise, que se caracteriza pela ruptura de parte das células sanguíneas (mais especificamente da parede da hemácia), fazendo com que as hemoglobinas se misturem com o plasma.
Ou seja, com a hemólise, componentes do interior da célula são liberados para o meio extracelular, o que pode trazer uma série de consequências negativas, inclusive doenças como a anemia. No estudo da UFC, esse processo se mostrou bem menos agressivo com o uso dos copolímeros, quando comparado ao uso da anfotericina não encapsulada.
“Nos experimentos de hemólise, observa-se a ação dos fármacos na destruição das células sanguíneas. No nosso estudo, enquanto a anfotericina B [comercial], a uma concentração de 250 mg/mL, apresenta 100% de hemólise das células sanguíneas, as nanopartículas com anfotericina B encapsulada apresentam menos de 10% de hemólise”, detalha a Profª Regina.
Fármacos
Além da anfotericina B, outras fórmulas farmacológicas importantes podem acabar se beneficiando por métodos de encapsulamento como o desenvolvido na pesquisa da UFC.
“Vários fármacos podem ser encapsulados em nanopartículas. Nosso grupo já demonstrou a eficiência do uso de nanopartículas como carreadores de fármacos como doxorrubicina e epirrubicina (para tratamento de câncer), cloroquina (para tratamento da malária) e de anti-inflamatórios, como a indometacina”, aponta a Profª Regina.
Fonte: Agência UFC
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