Pesquisadores da UFRN estudam formulações cosméticas contendo o extrato das folhas da Kalanchoe laciniata, conhecida popularmente como saião
José Alves nasceu em setembro de 2020. É o primeiro filho de Regina Alves (nomes fictícios), nascida em 2001. Embora nascidos em décadas vizinhas, filho e mãe terão uma expectativa de vida com diferença de quase dez anos: ele 76 anos, ela 69 anos. Já as pessoas que nascerem em 2040 viverão em média 79,9 anos, e as em 2060, até 81,2 anos. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam uma excelente notícia: as pessoas estão vivendo mais tempo, o que requer reflexão e, em muitos casos, mudança de atitude.
Uma dessas é no cuidado relativo ao envelhecimento cutâneo ou intrínseco, aquele decorrente da passagem natural do tempo e influenciado por fatores genéticos, estado hormonal e reações metabólicas diversas. Especificamente em relação à pele, são exemplos do resultado do envelhecimento as linhas de expressão, a diminuição da espessura da pele e o ressecamento cutâneo. Tal situação foi uma das que moveu um grupo de cientistas da área de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) a desenvolver novas formulações para prevenção dos sinais do envelhecimento cutâneo.
O cientista Márcio Ferrari pontua que trata-se de formulações cosméticas contendo o extrato das folhas da Kalanchoe laciniata, conhecida popularmente como saião, folha da fortuna ou coraima branca. Segundo ele, a nova tecnologia é na forma de nanoemulsão, o que segue uma tendência do mercado cosmético, e já há uma avaliação de que o extrato tem ação antioxidante, através de diferentes metodologias e até mesmo com concentrações variáveis do ativo. “Na realidade essa proposta de patente é de segundo uso, pois já foi concedida uma patente ao grupo no último mês de dezembro com esse mesmo extrato, mas as formulações eram com o foco na atividade hidratante”, esclareceu Ferrari.
Por sua vez, Silvana Maria Zucolotto Langassner destaca que a nova tecnologia tem como ativo uma matéria-prima natural de origem vegetal presente no bioma Caatinga. A pesquisadora acrescenta ainda que a Kalanchoe laciniata é uma planta nativa do Brasil e constitui uma espécie de pequeno porte, fácil cultivo e bem adaptada a região Nordeste e outras regiões do país. “Essas características favorecem a obtenção de matéria-prima abundante durante o ano inteiro, que pode ser utilizada no desenvolvimento de um insumo para a indústria de cosméticos”, frisa a pesquisadora. Como efeito colateral positivo da viabilidade do uso desse extrato em composições cosméticas estáveis, estão a possibilidade de desenvolvimento socioeconômico regional com o plantio dessa espécie e a inserção de valor a cadeia produtiva da planta através do seu uso como insumo e produto acabado na área cosmética.
“O próprio produto, por ter a característica de ser nanotecnológico, apresenta vantagens com uma maior absorção, fácil aplicação na pele por ser fluída, apresenta sensorial agradável e boa espalhabilidade”, realça Márcio Ferrari. As formulações são resultantes da pesquisa do mestrado desenvolvido por Samara Vitória Ferreira de Araújo, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da UFRN, e a nova tecnologia está atualmente na fase de um protótipo. Além dos três, completam o grupo de inventores Stella Maria Andrade Gomes Barreto e Anderson Wilbur Lopes Andrade, ambos doutorandos da UFRN.
O que é um pedido de patente?
Este foi o primeiro depósito de pedido de patente da UFRN em 2021. O registro de propriedade intelectual é um título de propriedade temporária sobre uma invenção ou modelo de utilidade, outorgado pelo Estado aos inventores, autores ou outras pessoas físicas ou jurídicas detentoras de direitos sobre a criação. Assim, o depósito de pedido de patente é o primeiro passo para garantir direitos de comercialização exclusiva, por um determinado período, de uma nova invenção com aplicação industrial.
Sâmara Araújo ressaltou que o caráter desafiador e esclarecedor de redigir uma patente. “A importância em escrever uma patente permeia o entendimento sobre os direitos de proteção da atividade inventiva. É também gratificante pensar no impacto que um produto, resultado de um projeto desenvolvido na Universidade, pode gerar para a instituição, mediante a possibilidade de benefício financeiro caso haja a comercialização, como também pensar no reconhecimento dos envolvidos”, colocou.
Nesse primeiro momento, o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) “guarda” o documento por 18 meses em sigilo. Em seguida, o estudo é publicado e fica o mesmo período aberto a contestações. Após os três anos, o Instituto parte para a análise em si e, se não encontrar nada parecido, faz a concessão. Por causa disso, a concessão costumeiramente acontece após cinco anos do depósito.
O depósito do pedido desta patente passa a integrar o portfólio de ofertas tecnológicas da UFRN, disponível para acesso em www.agir.ufrn.br. Embora a pandemia, as orientações a respeito dos aspectos para patentear uma determinada invenção são dadas pela Agência de Inovação através do e-mail patente@agir.ufrn.br.
Fonte: ASCOM- Agência de Inovação da Reitoria/UFRN
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