Mulheres Racializadas: a luta das vozes que ainda ecoam pelo tempo Dicas do Nossa Ciência

segunda-feira, 14 setembro 2020
Logomarca do projeto Mulheres Racializadas, criação de Clara Duque.

Para contar histórias que foram sistematicamente apagadas, surge a primeira mídia racializada, feminista e interseccional do Departamento de Comunicação da UFRN.

Por Francisca Pires*.

Mulheres Racializadas (@racializada) é um projeto, surgido em julho deste ano, resultante do trabalho final da disciplina Mídia, Identidade e Cidadania, um componente curricular optativo do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), ministrada no semestre suplementar de 2020.5 pelo professor Antonino Condorelli. 

A página no Instagram contou como avaliação dos alunos – majoritariamente do curso de Jornalismo – responsáveis por produzir conteúdos para feed e Stories contando e recontando a história de mulheres negras e indígenas importantes para a construção da nossa sociedade, mas que foram invisibilidades sistematicamente ao longo dos anos pelo patriarcado e pelo racismo.

“A turma se esmerou na construção da plataforma, conseguiram fazer conteúdos realmente primorosos, sempre pensados jornalisticamente, baseados em muita pesquisa e adequados a linguagem da rede social”, conta Antonino Condorelli, idealizador do projeto. O professor explica que o trabalho de organização do feed, escolha da paleta de cores e qualidade dos conteúdos apresentados chamou a atenção de muitas pessoas – de dentro e de fora da comunidade acadêmica –  fazendo com que estas fossem lhe parabenizar e perguntar mais sobre a iniciativa.

Mulheres Racializadas é a primeira mídia interseccional desenvolvida por estudantes do Departamento de Comunicação Social da UFRN. Imagem: Clara Duque.

O feedback dos seguidores e do Departamento de Comunicação Social (DECOM) da UFRN foi tão positivo que o perfil tornou-se fixo e foi cadastrado como um projeto de extensão. A partir desta segunda-feira, 14 de setembro, a página contará com uma produção contínua de conteúdos – construídos por uma equipe fixa de dez pessoas – que visem dar visibilidade à luta de mulheres racializadas do Brasil e do mundo.

Para Cecília Costa, graduanda do curso de Jornalismo e uma das colaboradoras do projeto, o tipo de comunicação feminista e antirracista que a iniciativa propõe é importante porque vai contra a hegemonia, uma vez que a grande mídia não visibiliza essas pautas. “Só sabemos o que contam para gente e não temos acesso a outra perspectiva da nossa história. Informação revoluciona e o fato desses conteúdos estarem sendo feitos no Instagram faz com que o projeto revolucione a informação de maneira acessível, muita gente pode ter acesso” conclui.   

Vanessa Islany, também colaboradora da página e estudante de Jornalismo, ressalta a importância de não apenas pautar mulheres racializadas, mas também dar espaço para que essas mulheres produzam, incentivando esse movimento de criação. “Só a gente sabe o quanto somos marginalizadas e colocadas para escanteio, não é?” relata. 

Comunicação como artifício para a emancipação de mulheres

Uma pesquisa divulgada em 2018 pelo IBGE aponta que sete de cada dez brasileiros estão conectados à rede. Os dados consideram 181,1 milhões de brasileiros. Esses números surpreendentes ilustram a proporção que os conteúdos publicados nas redes sociais podem tomar sendo, assim, um ambiente poderoso na disseminação de ideias.

O perfil Mulheres Racializadas no Instagram.

Perfis como @leiamulheresindigenas, @mulheresnegrasdecidem e @descomufrn – este último também um projeto do DECOM – são páginas que se empenham em dar voz à luta de mulheres racializadas e de outros grupos subalternizados. Através da informação e da produção de conteúdo para a internet é possível criar uma rede de fortalecimento dessas histórias, além de evitar o seu apagamento. A comunicação tem, sem dúvidas, papel fundamental na disseminação de discursos empoderadores para as mulheres, especialmente para as mulheres negras e indígenas.

Segundo Antonino Condorelli, a página, agora como projeto de extensão, segue com a mesma proposta de desconstruir representações inferiorizadoras que foram socialmente construídas e que são fortemente enraizadas no imaginário coletivo. Também são objetivos da iniciativa promover a reflexão crítica sobre mecanismos que produzem estruturalmente violências de diferentes naturezas (físicas, simbólicas, sexuais, psicológicas) contra mulheres racializadas, bem como divulgar o pensamento, a arte, a literatura, a ciência, o audiovisual produzido por mulheres pertencentes a estes grupos.  “Os posts visam recontar histórias, antes únicas, do ponto de vista de mulheres pertencentes a grupos definidos racialmente, colaborando assim para melhorar sua autoestima. Empoderando-as”, completa o professor. 

O @racializada é, sobretudo, um espaço de acolhimento, escuta e aprendizado mútuo. Buscando sempre reverberar vozes que por muito tempo foram silenciadas. É de suma importância, principalmente na atual conjuntura em que vivemos de intolerância e misoginia, que projetos como esse existam para encorajar, acolher e dar força à todas as mulheres. Nossas histórias merecem ser contadas. Precisamos ser ouvidas. Agora, finalmente, é nossa vez! 

*Francisca Pires é estudante de Jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Francisca Pires

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