Metais essenciais contra o câncer Pesquisa

sexta-feira, 14 fevereiro 2025
Em compostos utilizando zinco e cobre, os testes in vitro indicaram maior eficácia e menos efeitos adversos (Foto: Agência UFC)

Pesquisadores da UFRN, UFC e USP desenvolvem compostos metálicos antitumorais promissores, com maior eficácia e menos efeitos colaterais que a cisplatina

O emprego de metais essenciais ao corpo humano em compostos de coordenação tem se revelado uma promissora alternativa na produção de medicamentos para tratamento de câncer. Um desses novos complexos, que pode utilizar cobre ou zinco e ligantes orgânicos com atividade antitumoral, teve sua patente concedida, pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), junto com a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Universidade de São Paulo (USP).

Os pesquisadores das três instituições desenvolveram a invenção com base na síntese de complexos que contêm um centro metálico de zinco ou cobre, um ligante diimina e dois ligantes vaniloides, modificados quimicamente ou não. Combinadas, essas características fazem com que, a menor custo, sua ação seja mais eficaz e com menos efeitos colaterais do que compostos à base de platina – utilizados desde a década de 1970 e presentes até hoje em cerca de 50% de todo tratamento contra o câncer feito no mundo.

Reduzir os efeitos colaterais

Embora ainda muito usados e eficientes para alguns tipos de câncer, os compostos à base de platina apresentam limitações. Devido a sua baixa seletividade, entram na mira dos medicamentos tanto as células cancerígenas quanto as saudáveis, o que pode ocasionar uma nova mutação celular e diversos efeitos colaterais adversos, como danos aos rins, no caso da cisplatina. Além disso, estão associados à reincidência de tumores anos após o primeiro tratamento.

Já em compostos utilizando zinco e cobre, os testes in vitro indicaram maior eficácia e menos efeitos adversos porque o arcabouço enzimático existente na célula já está habituado a atuar na presença desses metais essenciais ao organismo. Já os ligantes orgânicos que os rodeiam, além de contribuírem na estabilidade do composto, apresentam atividade antitumoral. A vanilina, por exemplo, é um vaniloide reconhecido como composto bioativo, com atividade antioxidante, antimutagênica, anti-inflamatória e potencial efeito de proteção contra o câncer.

Atuação de metais e espécies orgânicas

Daniel de Lima Pontes, professor do Instituto de Química da UFRN (Foto: Agência UFRN)

Daniel de Lima Pontes, professor do Instituto de Química da UFRN, explica que a equipe elaborou a tecnologia ao unir as propriedades do cobre ou do zinco com espécies orgânicas específicas, permitindo que atuem sinergicamente para obter as propriedades químicas e biológicas observadas. “Algumas das moléculas desenvolvidas se mostraram fortemente citotóxicas frente a diferentes linhagens celulares tumorais”, completa.

O professor Pontes destaca que os complexos com zinco ou cobre como princípio ativo têm efeito citotóxico em células tumorais mesmo em concentrações muito baixas, o que também contribui para redução de potenciais efeitos colaterais.Outra vantagem é o custo inferior, pois os pesquisadores projetaram os compostos com uma estrutura simples, acessível para escalonamento de produção em larga escala e que utiliza reagentes mais baratos.

Para alcançar o consumidor final, os cientistas ainda precisam testar o uso de compostos de cobre ou zinco como princípio ativo em animais, inicialmente, como parte dos ensaios pré-clínicos.

De acordo com o professor Eduardo Henrique Silva de Sousa, do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica da UFC, os estudos e a patente concedida mostram que há potencial para o avanço da tecnologia e sua chegada ao mercado. “Entretanto, se faz necessário, não somente o apoio financeiro, mas a conexão com outras equipes”, pontua.

Ação antitumoral

Professor Eduardo de Sousa (à direita) e o pesquisador Edinilton Carvalho, ambos da UFC (Foto: Agência UFC)

A principal contribuição da UFC na pesquisa foi a elucidação das propriedades do complexo e suas potencialidades biológicas, fundamental para a compreensão de seu mecanismo de ação antitumoral. “Mostramos que esse composto tem uma promissora capacidade de danificar o DNA, estratégia essa empregada em certos medicamentos anticâncer”, conta Silva de Sousa.

Edinilton Muniz Carvalho, que participou da pesquisa como aluno de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em Química da UFC, detalha o diferencial do mecanismo de ação, se comparado ao composto de cisplatina: “A cisplatina se liga à fita de DNA (da célula cancerosa) e impede sua replicação. Já o nosso composto quebra o DNA, então o danifica. Essa danificação é responsável por inibir essa replicação e, supõe-se, leva à apoptose, que é a morte da própria célula”.

Texto: Agência UFC

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