Estudantes da UFRN entrevistam jornalistas que viveram o pré-internet
O Jornalismo conta a história do tempo presente. No futuro, as notícias publicadas em jornais ou em seus sucedâneos serão grandes fontes para historiadores e outros estudiosos entenderem os fatos e suas implicações. Mas quem conta a história do Jornalismo?
Em Natal, capital do Rio Grande do Norte, estudantes de Jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob a coordenação da professora Maria do Socorro Furtado Veloso, vão preenchendo essa lacuna.
Com lançamento marcado para terça-feira, o e-book Depoimentos para uma História da Imprensa Potiguar – Volume 2 ouviu 19 jornalistas de várias gerações sobre suas experiências profissionais. Eles narram como era a rotina produtiva nas redações dos jornais impressos, das emissoras de rádio e das emissoras de TV. Além da profissão, todos os entrevistados começaram a trabalhar em redações no Rio Grande do Norte antes da chegada da internet comercial ao Brasil, que ocorreu em 1995.
Estudantes de Jornalismo participam de todas as etapas da realização do e-book (Foto: Cedida)
O portal Nossa Ciência conversou com a coordenadora do projeto sobre esta obra e as anteriores, que têm um forte caráter na preservação da memória do Jornalismo potiguar. Sobre o e-book atual, Veloso afirmou: “Nos interessavam vivências, histórias, relatos de jornalistas que acompanharam o processo de informatização dos jornais, que estavam em redações ainda nos tempos das máquinas de escrever, no tempo das impressoras offset, e que acompanharam esse processo de informatização e a migração para uma nova ambiência, para uma nova realidade, no que se refere à produção de jornais impressos.”
Ela explicou que todas as etapas do livro são pensadas em conjunto, incluindo os 42 estudantes da disciplina Jornalismo Literário, os monitores, o estagiário docente e a professora. Desde a definição das temáticas, reunião de pauta, passando pelos procedimentos de apuração, escrita, edição, checagem e revisão final. “Em todas essas etapas, os alunos estão sempre envolvidos, de uma forma ativa, de uma forma entusiasmada”, garante.
Para a professora, o processo oferece aos jornalistas em formação a oportunidade de conhecerem as experiências de profissionais que estavam nas redações há 40, 50 e até 60 anos — e isso é de grande importância. “Uma das coisas bacanas desse projeto é a capacidade que a gente tem de reunir gerações mais antigas, com mais experiência no jornalismo local, e essa nova geração que está em processo formativo. Então, promover esse encontro geracional e essa troca de ideias, de partilhas, é outro aspecto que eu acho virtuoso desse projeto”, opina.
Jornalista Célia Freire (Foto: Facebook)
A jornalista Célia Freire é uma das 19 jornalistas ouvidas para a publicação. Celinha, como era conhecida entre os colegas de profissão, concedeu apenas uma entrevista às estudantes Gabrielle Borges e Marina Layssi. O segundo depoimento acabou não ocorrendo devido a graves complicações de saúde. “Isso afetou muito a todos nós, mas imediatamente tivemos a ideia de que o livro precisava trazer, além do depoimento da Célia, uma homenagem a essa jornalista, porque percebemos o quanto era querida, respeitada entre os colegas. Na última parte do livro, um capítulo chamado Memória, tem um conjunto de depoimentos dados por amigos e colegas jornalistas da Célia”, lamenta a professora.
Na página 38, depois de ler o perfil da jornalista Célia Freire, que foi também presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RN e trabalhou em assessorias de imprensa, o leitor encontra a seguinte informação:
“No dia 5 de outubro de 2024, com muita tristeza, recebemos a notícia da morte de Célia Freire. Ela sempre será lembrada por nós como a excelente profissional que foi e que marcou o jornalismo potiguar, mas, acima de tudo, por sua gentileza e humanidade. Agradecemos a oportunidade de tê-la conhecido e de contarmos um pouco de sua história, que também segue viva na memória dos amigos e amigas que deixou.”
O livro é dedicado à memória de Célia Freire.
Professor aposentado de Jornalismo da UFRN Marcos Aurélio de Sá (Foto do e-book Depoimentos para uma História da Imprensa Potiguar)
Na publicação, o leitor vai encontrar o depoimento dos jornalistas Ana Cadengue, Célia Freire, Cézar Alves, Cid Augusto, Ciro Pedroza, Conceição Almeida, Diógenes Dantas, Itamar Ciríaco, Jomar Morais, Juliano Freire, Maralice Freitas, Osni Damásio, Simone Silva, Vicente Neto e Virgínia Coelli . Também foram ouvidos os professores de Jornalismo da UFRN, Francisco Duarte, Marcos Aurélio de Sá, Edilson Braga e Ricardo Rosado. Os três últimos foram professores da jornalista que assina essa matéria.
O e-book Depoimentos para uma História da Imprensa Potiguar – Volume 2 é o mais recente integrante da Coleção Jornalismo Potiguar, criada em 2017. A coleção visa contribuir para a construção, sistematização e circulação de memórias da imprensa do Rio Grande do Norte. Os outros títulos são: Jornalistas Escritores do RN (2017), Depoimentos para uma História da Imprensa Potiguar (2018), Fotojornalistas do RN (2019) e Vozes do Jornalismo Cultural no Rio Grande do Norte, lançado depois da pandemia de Covid-19, em 2023. Todas as obras estão disponíveis no Repositório da Biblioteca Central Zila Mamede (UFRN).
Além de Socorro Veloso, compõem o grupo de organizadores da publicação a professora Alice Oliveira de Andrade, da Universidade Federal de Sergipe; a pesquisadora Jadeanny Arruda S. dos Santos, estudante de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco; e John Willian Lopes, que é doutor em Estudos da Mídia e publicitário. Ele foi o idealizador do primeiro e-book da coleção.
(A foto que abre essa matéria é do acervo da jornalista Conceição Almeida, que está entre os 19 jornalistas perfilados no e-book Depoimentos para uma História da Imprensa Potiguar – Volume 2. A imagem mostra um grupo de jornalistas de Natal com o astronauta norte-americano Vance DeVoe Brand (de terno), durante entrevista coletiva na Barreira do Inferno, nos anos 1980. Da esquerda para a direita estão na foto os jornalistas Sávio Hackradt, Iranilton Marcolino, Liszt Madruga, Aldemar de Almeida, Rosemilton Silva e Conceição Almeida. Na frente, de cócoras, o jornalista Flamínio Oliveira)
LANÇAMENTO
Dia: 08 de abril de 2025
Horário: 19h
Local: Auditório do Departamento de Comunicação da UFRN (Campus Central)
Mônica Costa
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