Óleo extraído do fruto pode atender à produção de dois combustíveis de origem renovável: o biodiesel e o bioquerosene de aviação, um produto com grande potencial de mercado
Produzir agroenergia e alimentos na mesma área pode ser um negócio lucrativo e viável. É o que tem demonstrado experimentos utilizando a macaúba conduzidos em Parnaíba, no litoral do Piauí, e em Barbalha, no Ceará, interior do Nordeste. A macaúba gera frutos com volume de óleo comparável ao do dendê, que é campeão em produtividade. Esse óleo pode atender à produção de dois combustíveis de origem renovável: o biodiesel, já presente no Brasil, e o bioquerosene de aviação, um produto ainda em consolidação, com grande potencial de mercado.
A pesquisa feita por meio de parceria entre a Embrapa e o World Agroforestry Centre (Icraf). estuda o cultivo da macaúba em consórcio com grãos e leguminosas para obter alimentos e matéria-prima de qualidade para biocombustíveis. A ideia é, no futuro, incluir a pecuária no sistema, a fim de demonstrar que a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) também pode atender o mercado de agroenergia, conferindo ainda mais sustentabilidade ao setor e gerando renda para a agricultura familiar.
Ampla adaptabilidade
Para o pesquisador da Embrapa Agroenergia (DF) Alexandre Cardoso, líder do projeto, estabelecer esse sistema de produção agroflorestal tem como pontos favoráveis a diversificação e a regionalização da produção de biomassa para biocombustíveis, contando com uma espécie nativa, com ampla adaptabilidade em diferentes regiões.
Outro fator importante é o incremento da renda de comunidades locais proporcionado pelo cultivo que toma o lugar da atividade extrativista. “O extrativismo é importante para dar oportunidade de trabalho e renda, mesmo que temporariamente, em algumas populações. Mas, geralmente, o produto extrativista tem pouco valor agregado e, por isso, é pouco valorizado. As pessoas trabalham muito e recebem pouco”, observa o pesquisador Humberto Umbelino de Sousa, da Embrapa Meio-Norte (PI).
Ele acredita que, com o cultivo da macaúba, pode ser organizada uma cadeia produtiva que melhore as práticas de obtenção e processamento da matéria-prima, dando origem a produtos com mais qualidade e que resultem em maior renda para os produtores.
Parceria
O projeto da Embrapa e do Icraf no Nordeste faz parte um programa internacional para desenvolvimento de cultivos alternativos para produção de biocombustíveis, com ações também na África e na Ásia. As atividades são lideradas pelo Icraf, com financiamento do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Ifad). No Brasil, a Embrapa conta, na condução do projeto, com o apoio da Secretaria de Desenvolvimento Agrário, em esfera federal, do Instituto Federal, Emater, e Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Estado do Ceará, além da interação com comunidades extrativistas locais.
De acordo com Shantanu Mathur, representante do Ifad, a instituição está investindo na produção de matérias-primas para biocombustíveis como forma de fortalecer o combate à pobreza. “Em quatro décadas trabalhando para a redução da pobreza, descobrimos que a produção de alimentos sozinha não é suficiente”, conta.
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