Com apenas quatro anos de criação, o Parque Nacional da Furna Feia desponta como espaço para atividades acadêmicas e de pesquisa científica, em Mossoró (Fotos: Vitor Lunardi)
Um grande laboratório natural para pesquisas nas mais diversas áreas do conhecimento. Assim desponta o Parque Nacional da Furna Feia (Parna Furna Feia) que começa a ser utilizado para a realização de estudos científicos. A Unidade de Conservação Ambiental está localizada entre os municípios de Baraúna e Mossoró, apenas a 40 minutos do campus central da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), em Mossoró. Pesquisadores da Ufersa, principalmente dos cursos de Ecologia e Engenharia Florestal e do Mestrado em Ecologia e Conservação, além do Mestrado em Ambiente, Tecnologia e Sociedade, já desenvolvem trabalhos científicos no Parna Furna Feia.
Para o casal de professores da Ufersa, Diana e Vitor Lunardi, o parque abrange uma amostra relevante de Caatinga em bom estado de conservação, com fauna e flora bastante diversa e também abriga espécies endêmicas, raras e ameaçadas de extinção. “Como trabalhamos também com planejamento ambiental do ecoturismo, o Parna torna-se uma importante fonte de pesquisa, tendo em vista seu enorme potencial turístico para trilhas ecológicas e visitação de cavernas. O Parna Furna Feia é hoje uma das principais áreas de concentração de cavernas do Rio Grande do Norte e o único Parque Nacional do estado. Além disso, a proximidade com a Ufersa, campus Mossoró, facilita a logística de coleta de dados na área de estudo”, explica Diana, que é docente do Programa de Pós-Graduação em Ambiente, Tecnologia e Sociedade.
As pesquisas realizadas no parque são voltadas para a avaliação dos recursos ecossistêmicos, estudos ambientais na abertura de trilhas ecológicas e, também, de conflitos sociais com a intermediação de conflitos internos existentes com a população residente em áreas do contorno da unidade, que é de proteção integral. Dois exemplos bem comuns são a proibição da caça na área e o deslocamento de animais do parque para as fazendas produtoras de frutas, acarretando prejuízos para os produtores. Na área do Parna Furna Feia é proibido caçar, cortar árvores, retirar qualquer recurso natural (sementes, por exemplo), exercer atividade agrícola ou de pecuária. A entrada só é permitida com a autorização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, órgão responsável pela administração do parque.
Atualmente, o casal de pesquisadores da Ufersa tem três projetos de pesquisa em andamento: Turismo ecológico no Parque Nacional da Furna Feia; Serviços ecossistêmicos e biologia da conservação: relações entre flora e aves e mamíferos do Parna Furna Feia, além do estudo sobre Avaliação dos conflitos entre fauna silvestre e agricultores na zona de amortecimento do parque. Esse último projeto encontra-se em fase de finalização para publicação dos dados.
Primeiros resultados
Vitor e Diana atuam no parque desde fevereiro de 2013, quando obtiveram a primeira licença emitida pelo ICMBio (via SISBIO) para atividades de pesquisa no Parna Furna Feia. Hoje, eles já começam a obter os primeiros resultados de seus estudos, como por exemplo, dados resultantes da investigação dos conflitos entre a fauna silvestre e os agricultores na zona de amortecimento do Parna.“Como alternativa à escassez de recurso alimentar, especialmente na estação seca, a fauna do parque tem se deslocado para áreas de cultivo agrícola na zona de amortecimento em busca de alimento. Mamíferos como guaxinim, cachorro-do-mato e tatu-peba têm sido frequentemente associados aos ataques aos plantios de melancia e destruição de mangueiras de irrigação das propriedades agrícolas instaladas no entorno do Parna. Por outro lado, como forma de minimizar os conflitos, alguns agricultores têm desenvolvido estratégias de evitação destes ataques aos plantios. Algumas destas estratégias não são letais e inclusive têm sido efetivas na redução de conflitos entre fauna e agricultores”, detalha Vitor, que integra o Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Ufersa.
Além da preservação de um ecossistema de grande relevância ecológica, o Parque Nacional da Furna Feia também tem como objetivo a realização de atividades educacionais voltadas para a preservação ambiental. Outro diferencial importante é o potencial do lugar para o turismo ecológico de aventura. Na área do Parque Nacional, com quase 8.500 hectares, já foram cadastradas 218 cavernas, algumas delas com fendas ainda não exploradas pelo homem, um ambiente espeleológico, ou seja, ideal para pesquisas e exploração. A Gruta do Pingo, que permanece úmida o ano inteiro; o Abrigo do Letreiro, que possui inscrições rupestres; e a Caverna Furna Feia, a maior do Parque Nacional, são os pontos mais atrativos para o turismo ecológico.
Com apenas quatro anos e criado por decreto presidencial, Furna Feia é o primeiro Parque Nacional do estado do Rio Grande do Norte, mas ainda carente de investimentos para receber adequadamente pesquisadores e visitantes. Não há nenhuma infraestrutura. O acesso é difícil e não possui logística adequada, nem mesmo uma base ou alojamento para abrigar os frequentadores.
Aulas ao ar livre
Além do desenvolvimento de pesquisas no parque, os professores da Ufersa destacam o privilegio da realização de aulas de campo dos cursos de graduação e pós-graduação no que chamam de “verdadeiro laboratório ao ar livre”. Segundo eles, algumas aulas práticas sobre planejamento ambiental e biologia da conservação têm sido realizadas no Parna Furna Feia. “Tudo é feito sempre com a autorização expressa do chefe e da analista ambiental do Parna Furna Feia, Leonardo Brasil e Suiane Marinho. Os discentes dos cursos de pós-graduação em Ecologia e em Ambiente, Tecnologia e Sociedade, além dos discentes de iniciação científica dos cursos de ecologia e engenharia florestal, têm sido contemplados com estas aulas práticas”, conta Vitor Lunardi.
As atividades acadêmicas realizadas no parque reúnem uma série de vantagens são inúmeras, algumas delas envolvem oferecer aos alunos um contato direto com a diversidade da Caatinga e com uma variedade de tipos de interação entre a fauna e a flora local. “Além disso, esse trabalho externo favorece a análise de conflitos e a proposição de soluções para problemas reais na própria área de estudo e também viabilizam a incorporação de conceitos que podem ser discutidos em sala de aula, lidos nos livros, mas apenas vividos efetivamente em uma Unidade de Conservação na Caatinga como o Parna Furna Feia”, aponta Diana Lunardi.
Edna Ferreira
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