Equipamento desenvolvido na UFC pode ajudar a diminuir custos de produção no campo
Cerca de 40% dos frutos e hortaliças produzidos no Brasil são perdidos da fase de pós-colheita até a mesa do consumidor, conforme estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Para lidar com esse problema, um invento desenvolvido na Universidade Federal do Ceará (UFC) promete não apenas reduzir pela metade essas perdas como diminuir os custos da produção, otimizar o processo e melhorar as condições de salubridade dos trabalhadores da colheita. A invenção acaba de garantir a propriedade intelectual, tornando-se a 10ª carta patente certificada para a UFC.
Trata-se de um auxílio mecânico semirrobótico para colheita de frutas e frutos em ramas rasteiras. A máquina se propõe facilitar a fase de recolhimento de frutos de plantas que crescem se arrastando sobre o solo, como melão, melancia, morango e abóbora. O equipamento é uma espécie de veículo, controlado por um operador em cabine, que percorre as vias de plantação.
Hoje, a colheita de frutos rasteiros é realizada, em sua maioria, de forma manual ou semimecanizada. O invento da UFC é o primeiro equipamento semirrobótico para a atividade, informa o Prof. Daniel Albiero, que desenvolveu a máquina quando era docente do Departamento de Engenharia Agrícola, do Centro de Ciências Agrárias da UFC. “O uso de sistemas robóticos torna a máquina mais rápida, mais barata e mais segura do que todos os outros sistemas”, assevera o pesquisador, que atualmente é vinculado à Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Um dos diferenciais do invento é o fato de ele demandar pouca ação humana. Hoje, para se colher um hectare de melão com auxílios mecânicos, explica o professor, são necessários mais de 20 trabalhadores, num período máximo de seis horas diárias por pessoa. Sem auxílios mecânicos podem ser necessárias quase 80 pessoas. Com a invenção, são demandadas, no máximo, 5 pessoas em período de até oito horas.
“Hoje em dia, existe grande dificuldade para se encontrar mão de obra manual para realizar essa operação”, analisa Albiero. Ele explica que isso ocorre por conta dos baixos salários pagos pela atividade. Além disso, os colhedores trabalham em condições insalubres, em virtude dos riscos ergonômicos ocasionados por sua posição na retirada do fruto. “Com nossa máquina, o operador fica sentado em um assento ergonomicamente adequado e confortável, o que diminui muito os possíveis danos à coluna espinhal”, explica.
Mesmo pagando salários baixos, a etapa de colheita representa de 30% a 50% do custo da produção agrícola. Albiero garante que a máquina concebida, em virtude de seu uso intensivo de tecnologias digitais e robóticas, é capaz de diminuir as despesas dessa fase para 15% do custo total da produção. Além disso, ela pode gerar uma economia de até 50% no tempo de colheita.
A colheita é a última operação agrícola realizada em campo. Nela, os produtores buscam retirar os frutos em tempo adequado, de forma a haver a mínima perda quantitativa, com o maior nível de qualidade possível. A falta de pessoal habilitado, o uso de práticas inadequadas de produção e o desconhecimento de técnicas adequadas de manuseio pós-colheita, conforme pesquisas da EMBRAPA, são as principais razões para as elevadas perdas na qualidade dos frutos.
Com a maior automatização do processo, garantindo também transporte e armazenamento mais adequados dos frutos, o professor estima que possa haver uma queda de mais de 50% nas perdas causadas por danos aos alimentos.
Mercado
O professor informa que a invenção se originou de solicitação de uma grande produtora de melões do Ceará, mas a máquina existe, no momento, somente em protótipo digital. Os testes foram feitos em simulações computacionais avançadas. Em virtude da crise econômica, a empresa não pôde investir na construção do equipamento. “A princípio, nos idos de 2016, a estimativa de valor da máquina era de R$ 700 mil”, informa Albiero.
A demanda para a máquina, contudo, é grande, garante o inventor. “O mercado nacional e internacional é imenso. Somente no Nordeste brasileiro, temos mais de 20 mil hectares de melão (70% da produção nacional); na China, temos mais de 400 mil hectares, somente melão, sem considerarmos melancia, abobrinha e outras frutas de ramas”, projeta o pesquisador.
Assinam também como autores da invenção Aline Castro Praciano e Eduardo Santos Cavalcante, ambos mestres em Engenharia Agrícola pela UFC; o Prof. José Wally Mendonça Menezes, do Departamento de Telemática do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e colaborador do Laboratório de Telecomunicações e Ciência e Engenharia de Materiais (LOCEM) da UFC; e o Prof. Auzuir Ripardo De Alexandria, também do IFCE, docente dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia de Telecomunicações e em Energias Renováveis.
“A concessão da carta patente representa o esforço de toda a equipe em realizar a inovação de forma a atender os anseios da sociedade, principalmente considerando que a invenção nasceu de uma demanda dos produtores de melão do Ceará”, comemora o Prof. Daniel Albiero, adiantando que o próximo passo será realizar o licenciamento da tecnologia, procedimento que permite a comercialização do produto.
10ª patente
Com o auxílio mecânico para colheita de frutas, a UFC chega a seu 10º invento com patente reconhecida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Dessas patentes, cinco são de titularidade exclusiva da Universidade, incluindo a atual. A primeira carta patente recebida pela Federal do Ceará foi em setembro de 2019.
“Eu vejo com muita satisfação a UFC receber sua 10ª carta patente. Há dois anos, a UFC não tinha nenhuma. E, agora, nesse curtíssimo intervalo de tempo, estamos chegando à 10ª. Isso significa dizer que nós estamos no caminho certo. Investir em pesquisa, inovação e empreendedorismo é o caminho correto”, afirma o reitor Cândido Albuquerque, destacando que a gestão vem garantindo prioridade nas pesquisas da Instituição.
“Estamos resgatando os laboratórios que estavam abandonados há mais de seis, sete anos, estamos terminando as construções. Significa dizer que, em 2022, a Universidade Federal do Ceará terá um parque de laboratórios que permitirá que ela possa competir com as grandes universidades do mundo. Além disso, nós temos aí o Condomínio do Empreendedorismo, o Parque Tecnológico, temos um ambiente de pesquisa, um ambiente de inovação, um ambiente de empreendedorismo, e é isso que está fazendo da UFC essa grande universidade, ou seja, estamos construindo uma nova universidade”, conclui o reitor.
Desde o ano passado, a Coordenadoria de Inovação Tecnológica (UFC Inova) vem promovendo um trabalho de aproximação com os pesquisadores da Universidade, realizando inclusive mentoria on-line com aqueles que possuíam inventos com pedido de patente ao INPI. O objetivo da ação é resolver inconsistências na redação da solicitação dessas patentes.
“O apoio da UFC Inova foi excelente e essencial para a concretização do depósito e todas as outras fases até ser concedida a carta patente”, destaca o Prof. Daniel Albiero, que já havia garantido a nona carta patente para a UFC, em abril passado, pelo invento de uma máquina que otimiza colheita de alimento para gado.
A titular da UFC Inova, Ana Carolina Matos, afirma que as mentorias são uma das grandes responsáveis pelo bom resultado na concessão de patentes. “A carta patente é o carimbo, ela atesta que a Universidade sabe desenvolver inovação, ela consegue ser detentora de um conhecimento novo que agrega valor à sociedade, que causa o impacto que nós precisamos a partir da pesquisa”, avalia a coordenadora da UFC Inova.
Mais patentes
Ana Carolina Matos informa que há a expectativa de que, até o fim deste ano, o número de cartas patentes concedidas à UFC seja dobrado. A UFC possui, atualmente, cerca de 240 ativos de propriedade intelectual em processo de exame no INPI. A concessão dessas patentes, analisa, é o indicativo de que a Universidade está trabalhando na transferência de tecnologia, das pesquisas em laboratório para a sociedade.
“Com segurança jurídica, a partir de uma proteção intelectual bem feita e que resulte, de fato, em cartas patentes, a gente consegue chegar na transferência de tecnologia com muito mais força”, defende.
Fonte: Ascom da UFC
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