Entre os dez primeiros colocados, cinco são de instituições sediadas no nordeste. Primeiro lugar da competição (foto) é da UFPE.
Mais do que uma competição entre estudantes de graduação e pós graduação, a Maratona de Programação da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), realizada todos os anos desde 1996 é uma vitrine onde as grandes empresas mundiais da área de informática encontram os seus futuros programadores. Cerca de 70% dos medalhistas dos últimos 10 anos trabalham no Vale do Silício americano, em empresas do porte da Microsoft, Facebook ou Google.
A Maratona é composta pela fase regional, que esse ano teve a participação de 639 times em 41 sedes e pela final brasileira, com 62 equipes, em São Paulo, nos dias 13 e 14 de novembro. Em 2015, das dez equipes que receberam medalhas de ouro, prata e bronze, cinco são oriundas de universidades localizadas no nordeste. A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) teve duas equipes entre as melhores, uma no primeiro lugar geral da competição e outra na sexta colocação (foto 2). As outras instituições nordestinas com equipes medalhistas são a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Universidade Federal a Bahia (UFBA) e Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Os seis primeiros colocados participam da etapa mundial do concurso de programação do International Collegiate Programming Contest, que vai ocorrer de 15 a 20 de maio de 2016, na Tailândia.
Para o coordenador da competição, Carlos Eduardo Ferreira, professor do Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo, os times nordestinos têm bom desempenho, mas neste ano, de fato surpreenderam positivamente. “A UFBA, por exemplo, classificou-se pela primeira vez para a final mundial da competição. A UFPE é a maior vencedora da competição e o bom desempenho é tradicional. A UFCG e a UFRN vêm melhorando nos últimos anos.”
A fórmula para estar entre os melhores tem sido executada com mais ou menos eficiência pelas instituições e competidores. A instituição deve bancar o projeto, oferecendo as condições necessárias à participação dos alunos e estes tem que dedicar horas e horas aos exercícios. A preparação começa com a oferta de uma disciplina, cujo conteúdo é majoritariamente a simulação do ambiente da competição, levando os alunos à tentativa de resolução de problemas similares aos da Maratona. Outro tipo de treinamento muito realizado pelos alunos são as competições realizadas na internet.
Octacampeã
Os números alcançados pela UFPE impressionam. Nas 20 edições da Maratona, os alunos do Centro de Informática (CIn) ficaram em primeiro lugar oito vezes e obtiveram classificação para o mundial em 11 edições. Na opinião de Liliane Rose Benning Salgado, que coordena o projeto desde 2007, para estimular a participação dos alunos na competição, o CIn cria o contexto favorável, mas tudo ao final é mérito do talento, disciplina e resiliência dos alunos que aceitam o desafio da preparação para esta competição. (Veja entrevista completa com a professora Liliane Salgado).
A preparação é contínua e anual, com seletivas para renovação dos times. A participação no projeto, que consiste em simulações semanais das provas da maratona, é revertida em crédito para as disciplinas cursadas. A troca de experiências e informações entre antigos e futuros competidores é considerada pela professora como um diferencial da universidade. “No formato aplicado na UFPE é muito importante o compartilhamento de informações e experiências dentro do grupo. Os veteranos, participantes de anos anteriores, são estimulados a contribuir com o conteúdo a ser ministrado e partilhado durante o ano. Os próprios maratonistas são os maiores responsáveis pela manutenção da história vitoriosa da UFPE.”
Projeto olímpico
Com dois times na final, a UFCG (foto 3) ganhou medalha de ouro com um (segunda colocação) e obteve o 25º lugar com o outro na última edição. O técnico é o professor Rohit Gheyi, do curso de Ciência da Computação. Ghey explica a boa atuação como resultado de uma ação de longo prazo na universidade. Desde 2008, ele coordena a Olimpíada Paraibana de Informática, que teve a participação de 50 times na última edição. Da preparação dos alunos consta a disciplina Algoritmos Avançados, que faz parte da grade curricular do curso.
Desde que criou o projeto olímpico, a UFCG, que nunca tinha ganhado nada em competições de programação, já conquistou 25 prêmios. Entre os quais, o título de campeão latino americano em 2012, três medalhas de ouro e uma de bronze na Maratona da SBC, explica o professor. “Além disso, quatro vezes fomos convidados para disputar a fase mundial da competição.”
O time vice campeão é formado pelos alunos Felipe Abella de Souza, Árysson Figueiredo e Manoel Lucas Urbano de Barros Lins. Com 22 anos, Manoel está na elite dos competidores. Por dois anos seguidos ficou na vice liderança da competição e segue para sua segunda participação na competição mundial. No ano passado, a final foi realizada em Marrakesh, no Marrocos. Para o aluno de Ciência da Computação, o fato de fazer parte desse grupo é uma motivação para continuar estudando, aprendendo e buscando novos conhecimentos.
“Estar ali com os melhores do mundo inteiro, essas pessoas que são como com os ídolos para os competidores, estar ao lado deles é uma coisa que não dá pra explicar.” Essa é a definição do aluno acerca da etapa mundial. Para o futuro, ainda não sabe o que fará, acha que vai procurar estágio nas gigantes do setor.
Medalha de bronze
O time potiguar ganhador da medalha de bronze é formado por alunos de três cursos e departamentos diferentes. Hélio Bezerra Duarte Filho faz Bacharelado em Tecnologia da Informação no Instituto Metrópole Digital; Hugo Cavalcanti Cabral é aluno de Ciência e Tecnologia na Escola de Ciência e Tecnologia (ECT); e Zailton Sachas Amorim Calheiros, que é bacharel em C&T, cursa o mestrado no Programa de Pós Graduação em Sistemas e Computação, todos na UFRN (Foto 4). Eles tiveram como técnicos os professores Sérgio de Queiroz Medeiros, da ECT e Carlos Augusto Prolo, do Departamento de Informática e Matemática Aplicada.
“Ficar entre os 10 melhores times nos coloca num bom patamar no Brasil e para ficar entre os melhores é um processo de longo prazo. Como dois (alunos) são novatos, já sabemos que o time vai ter continuidade para o próximo ano.” Essa é a avaliação de Sérgio Medeiros sobre a participação da UFRN na Maratona.
Os novatos são Hélio e Hugo, que pelas regras do evento ainda podem concorrer na etapa nacional. Os dois alunos também acreditam que vão melhorar sua colocação. Hugo se definiu como inexperiente e reconheceu que ficou muito nervoso durante a competição. Hélio teve dor de cabeça durante a prova e precisou ser medicado. “Estar com os melhores do Brasil, sabendo quem são, é muita pressão”, avaliou Hugo, que tem 24 anos e se considera velho para a Maratona.
Embora estivesse há 10 anos sem alcançar uma medalha, a UFRN tem melhorado sua performance na competição. Na etapa nacional de 2013 alcançou o 15º lugar; na de 2014 melhorou para 14º e agora chega na 10ª colocação. Zailton certamente é um dos responsáveis por esses resultados. Em sua segunda participação nacional, o mestrando afirma que o significado da medalha é a recompensa de um trabalho construído desde 2011, quando começou a competir. Confirmando o interesse das grandes empresas pelos maratonistas, ele recebeu proposta que poderia resultar em trabalho no Facebook, nos Estados Unidos. “Na época eu era muito novo e estava ainda sem saber o que eu queria, mas agora eu não descarto essa opção”, justifica a recusa hoje com 23 anos. O grupo informa que atualmente, um ex integrante do time da UFRN trabalha no Google, em Belo Horizonte.
O time foi convidado para participar da Escola de Verão na Unicamp, no final de janeiro. O curso é realizado todos os anos e é uma espécie de prévia da maratona, com a realização de aulas teóricas e competições durante duas semanas ministradas pelos campeões mundiais das edições anteriores. “Os campeões do ano que vem vão estar nessa Escola de Verão”, reconhece o técnico do time, que ainda não tem certeza de conseguir junto à UFRN os recursos para as passagens e hospedagem dos alunos em Campinas. A verba para a Maratona foi consumida com a ida dos alunos para a etapa nacional. A medalha de bronze garantiu a isenção na inscrição e alimentação da equipe.
Sobre a Maratona*
É destinada a alunos de cursos de graduação e início de pós-graduação na área de Computação e afins como Ciência da Computação, Engenharia de Computação, Sistemas de Informação e Matemática, entre outros. A competição promove nos alunos a criatividade, a capacidade de trabalho em equipe, a busca de novas soluções de software e a habilidade de resolver problemas sob pressão.
Os times são compostos por três alunos, que tentarão resolver durante cinco horas o maior número possível dos oito ou mais problemas que são entregues no início da competição. Estes alunos têm à sua disposição apenas um computador e material impresso composto por livros, listagens e manuais.
Os competidores do time devem colaborar para descobrir os problemas mais fáceis, projetar os testes e construir as soluções que sejam aprovadas pelos juízes da competição. Alguns problemas requerem apenas compreensão, outros conhecimento de técnicas mais sofisticadas e alguns podem ser realmente muito difíceis de serem resolvidos. O time que conseguir resolver o maior número de problemas (no menor tempo acumulado com as penalidades, caso haja empate) é declarado o vencedor.
*informações do site do evento.
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