Grupo de estudos da UFAL revisa História do Brasil Colônia Pesquisa

sexta-feira, 27 novembro 2015

Estudo das relações de poder e atos administrativos do período colonial brasileiro indicam que flexibilidade da Coroa ajudou a forjar identidade e garantiu a durabilidade do império português nas colônias

O aprofundamento da análise das relações políticas entre Brasil e Portugal e dos atos de governo no período colonial (1500 até 1882) pode contribuir para a compreensão das especificidades que hoje caracterizam cada lugar desse país. O que diferencia Alagoas de Pernambuco, Pernambuco da Paraíba ou o Ceará do Rio Grande do Norte pode estar escondido na formação histórica, no desenvolvimento econômico, nas relações políticas, nos aspectos culturais que foram forjados, criados e desenvolvidos durante esse período. Por muito tempo essas diferenças foram ignoradas pela historiografia brasileira, por dificuldade de acessos a fontes ou mesmo por se tentar compreender o Brasil como um bloco único. Essa é a opinião do professor Antônio Filipe Caetano, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

O que os historiadores nos revelam do período colonial pode até ajudar a explicar nosso jeito de ser contemporaneamente. Antônio Caetano, que é coordenador do Grupo de Estudos da América Colonial (GEAC), propõe que as redes de poder, as alianças políticas, os tentáculos estendidos supracapitanias ajudaram a manter uma concepção do império colonial português com seus súditos espalhados pelas conquistas.

Alianças

Os tentáculos a que se refere são as relações e alianças muitas vezes proibidas por lei, mas permitidas na prática, estabelecidas entre autoridades e súditos. As constantes transferências de agentes administrativos, fosse nas colônias (Bahia, Rio, Angola), no Conselho Ultramarino ou no próprio reino, garantiam a estes uma bagagem de conhecimento da experiência colonial e também lhes davam a oportunidade de estabelecer relações no âmbito da economia, relações matrimoniais, articulação de alianças de casamento, que mesmo sendo proibidas, ocorriam de uma forma muito gigantesca.

“Então essa frouxidão – talvez seja a grande palavra – nas relações ajudaram e muito a construir a identidade desse império português, que era extremamente vasto territorialmente, e a manter sua durabilidade muito maior, se comparada com a experiência das coroas espanhola, francesa e até mesmo a coroa inglesa.”

O local como determinante

Caetano defende que a grande contribuição desses estudos é a revelação das especificidades das localidades e talvez a partir desses elementos se possa pensar na configuração dos atuais estados nordestinos. Ainda que reconheça os elementos comuns cuja causa mais significativa eram os modelos trazidos pela população portuguesa que atravessou o Oceano Atlântico, o pesquisador ressalta que as apropriações locais foram determinantes na adaptação desses modelos.

Em sua argumentação, sustenta que até numa mesma capitania como a de Pernambuco, que agregava os atuais estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte e Ceará, cada uma dessas localidades tiveram especificidade de formação, de população, de relação com a sociedade, de estruturação econômica e de trâmites políticos.

A historiografia colonial, que durante um bom tempo teve como foco principal de investigação os aspectos econômicos da formação brasileira (açúcar, pau brasil ou a escravidão), tem voltado sua atenção para aspectos mais sociais como a história das mentalidades, a história cultural ou a história das revoltas.

O que tem se buscado com o estudo da administração, do poder, das relações políticas e das culturas políticas coloniais é a explicação sobre como se forjam os estados, como as elites políticas se perpetuam no poder até os tempos atuais. A intenção é entender como essas relações políticas atravessaram várias capitanias e possibilitaram que os grupos, mesmo com prejuízos econômicos e dificuldades sociais, conseguiam manter uma máquina estatal funcionando.

De que modo são construídas as relações políticas, como essas localidades estão conectadas por redes de poder é o que se quer entender, esclarece o professor do Programa de Pós Graduação em História da UFAL. A compreensão do funcionamento dessa lógica administrativa revela como certas trajetórias deixavam teias que se estendiam da América até a Ásia. Essa virada metodológica, que de certo modo abandona a história tradicional, positivista voltada à valorização de heróis e de personagens famosos, se dá quando a historiografia passa a observar como determinados personagens, como governadores, ouvidores, provedores, juízes passavam por determinados territórios e criavam o que hoje se poderia chamar de redes.

Mais uma revisão historiográfica emerge do olhar sobre a relação da Colônia com a Coroa Portuguesa. Durante muito tempo acreditou-se que a Monarquia Portuguesa determinava os elementos de comportamento para os súditos que estavam do outro lado do Atlântico, numa relação de cima para baixo. “Mas hoje a gente vê que o caminho dessa relação também é de baixo para cima, há aspectos de negociação, barganha para a própria sustentabilidade e durabilidade desse governo português na América”, afirma.

Colóquio

Contando com a participação de pesquisadores de várias universidades do país, o Grupo de Estudos América Colonial realiza nos dias 26 e 27 de novembro, em Maceió o 4º Colóquio Nacional, que esse ano tem como temática as Dinâmicas Sociais, Políticas e de Justiça na América Lusa – Hierarquias, Poderes e Governo (Séculos 16-18).

O evento terá duas conferências. No primeiro dia o tema será “Hierarquias de Poder, Dinâmicas Sociais e Práticas Governativas”, a ser ministrada pela professora Carmen Margarida Oliveira Alveal, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. A do segundo dia será ministrada pelo professor Francisco Carlos Cosentino, da niversidade Federal de Viçosa, sobre “Governabilidade, Negociação e Ações de Poder nos Trópicos Brasílicos”.

A programação conta ainda com duas mesas redondas com os temas “Trajetórias Políticas, Perfis Administrativos e Agentes Coloniais” e “Ações de Governo, Ofícios Administrativos e Representações Políticas”.

Mais informações sobre o GEAC no site  do grupo. 

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