Fármaco da disfunção erétil ajuda no controle de doença infecciosa bucal Saúde

quinta-feira, 12 abril 2018
Imagem: Opas - Organização Pan-Americana de Saúde

Estudo realizado em ratos na UFPE demonstrou ação anti-inflamatória do composto químico no tratamento da periodontite

Pesquisadores pernambucanos descobriram que o composto químico citrato de sildenafila, utilizado no tratamento da disfunção erétil, pode servir no tratamento de infecções bacterianas bucais. “Esse achado mostra que a droga tem potencial para ser utilizada como tratamento no auxílio da doença periodontal, além do tratamento de outras doenças inflamatórias bucais”, esclarece Diego Moura Soares, autor do estudo, desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Odontologia (PPGOdonto) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

A pesquisa, realizada no tratamento de uma periodontite experimental, foi orientada pelo professor Danyel Elias da Cruz Pereze e avaliou os efeitos da droga na prevenção e na progressão da periodontite induzida em ratos, a partir de uma análise microtomográfica e histológica, conduzida no viveiro do Núcleo de Cirurgia Experimental da UFPE, com 36 ratos machos da linhagem Wister. A doença foi induzida nos animais através de um processo de anestesia, colocando um fio de sutura de seda estéril em volta do primeiro molar inferior esquerdo e acomodando-o no sulco gengival.

Ação anti-inflamatória

Com a investigação, Diego Soares percebeu que o citrato de sildenafila tem ação anti-inflamatória, pois o fármaco promove o equilíbrio no processo de oxidação e antioxidação, reduzindo o estresse oxidativo em eventos inflamatórios. “Por isso, achamos que pode ser um aliado no tratamento da doença periodontal, visto que a mesma apresenta um caráter inflamatório crônico”, afirma. O pesquisador administrou doses diárias de 10 mg/kg de citrato de sildenafila, percebendo que o composto reduziu o processo inflamatório, bem como diminuiu a perda óssea alveolar da periodontite experimental na região de furca, ou seja, nas áreas onde há perda do osso, entre as raízes dos dentes.

Segundo o autor do estudo, o sildenafila é inibidor de uma enzima chamada de fosfodiesterase5, que tem participação efetiva em alguns processos celulares, tais como a inflamação. “Suspeitamos que a substância atua na diminuição da produção de óxido nítrico, um mediador químico bastante associado em uma das vias de destruição dos tecidos periodontais”, explica Diego.

O resultado da tese foi verificado a partir da observação do nível do osso através da utilização de exames em todos os animais. As mandíbulas dos ratos foram submetidas à análise por microtomografia computadorizada para quantificar a perda do tecido ósseo que sustenta os dentes. Posteriormente, foram estudados os tecidos, avaliando-se a intensidade da reação inflamatória na perda do osso presente na região, que fica entre as raízes dos dentes multirradiculares, que são os dentes que têm várias raízes.

Composto reduziu processo inflamatório induzido nas cobaias. Foto: Divulgação.

Reparação dos tecidos

Segundo esclarece o autor, o processo inflamatório é importante para que se tenha reparação de tecido em qualquer tipo de doença, mas, na periodontite, essa inflamação é crônica, perdurando por muito tempo, além de ser exacerbada, fazendo com que o tecido seja destruído. “Daí o objetivo principal ser sempre favorecer a presença de células do sistema imunológico no local da infecção”, defende. Para Diego, o uso de um anti-inflamatório para o tratamento periodontal dificultaria a presença de sinais importantes para a reparação dos tecidos, dificultando o controle da doença.

O experimento foi realizado com dois grupos de animais a fim de avaliar o efeito do sildenafila na prevenção da periodontite experimental. Segundo a investigação, no Grupo 1, os ratos receberam diariamente doses de sildenafila, a partir do primeiro dia do estudo até o 30º dia do estudo. A periodontite foi induzida no 15º dia. No Grupo 2, o pesquisador objetivou analisar o efeito do sildenafila na progressão da periodontite experimental. Assim, este grupo iniciou o experimento com a indução da periodontite no primeiro dia e apenas no 15º dia os animais começaram a receber doses diárias de sildenafila.

No estudo, o pesquisador aponta que, mesmo sendo uma doença de cunho infeccioso dependente de placa bacteriana, a periodontite possui um grande fator inflamatório e imunológico associado à destruição dos tecidos que sustentam os dentes. “O uso do sildenafila entraria na tentativa de auxiliar na modulação dessa resposta inflamatória e consequentemente na diminuição da destruição desses tecidos”, conclui. O estudo foi aceito e será publicado numa importante revista da área de saúde bucal, a Wiley Online Library.

Fonte: Ascom UFPE

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