Estudo revela aspectos da resposta imune ao vírus zika Pesquisa

segunda-feira, 26 agosto 2019

 Os resultados da pesquisa desenvolvida na Fiocruz-PE podem auxiliar os médicos na escolha de medicamentos capazes de interromper o avanço dos danos neurológicos nos pacientes infectados

Uma infecção pelo zika vírus durante a gestação pode resultar em danos ao longo do desenvolvimento do sistema nervoso central do bebê levando à microcefalia, fato que já está bem estabelecido pela ciência. Porém um trabalho inédito desenvolvido na Fiocruz Pernambuco veio trazer novas informações sobre como se processam essas alterações. De acordo com o novo estudo, não é apenas o vírus em si, mas também a resposta imunológica descontrolada, provocada pelo vírus no nosso organismo, que pode causar danos ao sistema nervoso central. Especificamente em relação aos casos de microcefalia, documentados primeiro na região nordeste do Brasil, os autores observaram que a cepa do vírus que infectou as gestantes em Pernambuco, na epidemia de 2015/2016, desencadeia um perfil inflamatório bastante específico, persistente e crônico.

O estudo foi realizado em duas frentes. Primeiro in vitro, com células tronco neuronais humanas (semelhantes a mini cérebros em desenvolvimento), para verificar qual o perfil inflamatório induzido pela infecção nestas células, e posteriormente através de análises de amostras de líquor (líquido cefalorraquidiano – LRC) de crianças que tiveram microcefalia confirmada. “Com base na assinatura dos genes (ou seja, quais genes que estão desligados ou acionados, e em que intensidade) e moléculas inflamatórias, descobrimos uma assinatura específica característica da cepa viral que causa microcefalia”, explica o pesquisador da Fiocruz Pernambuco Rafael França, coordenador da pesquisa.

França esclarece que, a partir da identificação dessa assinatura, torna-se possível pensar em novas estratégias terapêuticas e medicamentos para combater esse processo inflamatório – que permanece de forma crônica no organismo, ampliando os danos iniciais – e obter uma atenuação no quadro do paciente. “Na medida em que se detecta e faz um tratamento baseado nesse mecanismo inflamatório, abre-se a possibilidade de bloquear esse processo, proporcionando a uma criança que tenha sido infectada pelo zika vir a ter um desenvolvimento do sistema nervoso central melhor”.

Artigo publicado

O artigo com esses achados acaba de ser publicado na revista científica Frontiers in Immunology, com o título The Transcriptional and Protein Profile From Human Infected Neuroprogenitor Cells Is Strongly Correlated to Zika Virus Microcephaly Cytokines Phenotype Evidencing a Persistent Inflammation in the CNS. Além de França, o texto tem como autores principais o pesquisador Antonio Rezende e as doutorandas Morganna Lima e Leila Mendonça, todos da Fiocruz Pernambuco.

Duas cepas do vírus zika foram utilizadas no estudo. Uma que teve origem no Camboja em 2010 e uma de Pernambuco, isolada na Fiocruz PE. “A comparação entre os processos inflamatórios causados pelas duas cepas permitiu observar que a intensidade da resposta à cepa ancestral (Camboja) é muito mais exacerbada e curta, em relação ao tempo. Provavelmente o sistema imune consegue eliminar o vírus de forma rápida, o que não causa esse prolongamento no processo inflamatório, que prossivelmente está causando a microcefalia”, explica o pesquisador Antonio Rezende. Já a cepa coletada em Pernambuco induz uma inflamação de magnitude menor e mais continuada, o que favorece a permanência do vírus e pode resultar em danos ao sistema nervoso central.

Para chegar aos resultados, a equipe da pesquisa utilizou equipamentos da Fiocruz PE com tecnologia de ponta em relação a sequenciamento de DNA e RNA. Foram realizadas também parcerias técnicas com as universidades de Pittsburgh (EUA) e Glasgow (Reino Unido).

Confira a íntegra do artigo.

Fonte: Ascom Fiocruz-PE

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