Como resultado, o trabalho identificou a dinâmica viral e forneceu biomarcadores para prevenir futuras pandemias.
Durante o pico da pandemia de Covid-19, a doutoranda Júlia Firme Freitas conduziu um estudo inovador, coletando amostras de águas residuais em Natal/RN para investigar a microbiota presente e suas potenciais implicações na saúde pública. Publicado na revista Environmental Pollution, o estudo destacou a vigilância epidemiológica baseada em esgoto, identificando a dinâmica viral, incluindo o SARS-CoV-2 e outros patógenos. As descobertas fornecem novos biomarcadores para o monitoramento de surtos de doenças, oferecendo uma ferramenta promissora para prevenir futuras pandemias.
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A pandemia de Covid-19 estava no pico, as notícias sobre mortes ocupando os noticiários e a vida das pessoas. Nesse mesmo período, entre junho de 2021 e maio de 2022, Júlia Firme Freitas ia uma vez por semana a três estações de águas residuais da Caern coletar amostras para estudar a microbiota presente nas águas e tentar compreender sua estrutura, relações e potencialidades. O resultado desse trabalho foi publicado na revista científica Environmental Pollution, uma das principais revistas da área ambiental.
Em entrevista ao Nossa Ciência, Freitas explicou que foi feita uma vigilância epidemiológica a partir das amostras de esgoto e que essa em relação à vigilância genômica, já realizada pela Caern, consegue avaliar toda a população. O estudo foi realizado no Programa Renorbio (Rede Nordeste de Biotecnologia), na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
“A vigilância genômica via águas residuais permite detectar a presença de patógenos, mesmo ainda com indivíduos assintomáticos, o que permite você antever futuros surtos”, complementa a orientadora do estudo, Lucymara Fassarella Agnez-Lima.
De acordo com as pesquisadoras, o propósito é que a Caern e os órgãos de saúde, consigam monitorar se as doenças que ocorrem em Natal estão estáveis ou não. Para a orientadora, conhecendo-se essa comunidade microbiana, a ocorrência de qualquer perturbação nesse ecossistema pode ser um indicativo de um evento, quer seja para a saúde humana, saúde animal ou mesmo para a agricultura. “Então, é uma estratégia que pode ser bastante interessante para evitar, ou pelo menos tentar mitigar, futuras pandemias, epidemias ou surtos de doenças” sugere Agnez-Lima.
Freitas, que é aluna de doutorado, esclarece que foram avaliados microrganismos, como bactérias e archaeas, e alguns elementos, como genes bacterianos, além da virosfera, que é o elemento principal do artigo. “Extrai o DNA genômico total e identifiquei bactérias, vírus e archaeas e também identifiquei genes de resistência a antimicrobianos (ARG), que são genes que conferem resistência a antibióticos à bactéria, e genes de fatores de virulência (FVG)”, explica.
“O diferencial do trabalho foi a coleta semanal ao longo de um ano em meio a pandemia de COVID-19, o que permitiu identificar os vírus circulantes e as flutuações nessa comunidade ao longo do tempo, contribuindo para um melhor conhecimento da dinâmica da virosfera” garante a orientadora. As coletas foram realizadas nas Estações de Tratamento de Efluentes (ETE), da Caern, no Baldo, em Ponta Negra e Beira Rio, localizada em Igapó.
As pesquisadoras informam que os achados do estudo apontam para a rica diversidade e complexidade da comunidade viral nas amostras de águas residuais, com vírus conhecidos e não classificados desempenhando papéis críticos na virosfera.
A primeira autora do artigo explicou o caminho trilhado para chegar às conclusões. “Fizemos o procedimento para extrair DNA viral e RNA viral separadamente e sequenciamos duplicatas destes; analisamos os dados por bioinformática; identificamos todos os possíveis vírus presentes mensalmente; classificamos os vírus com base nos possíveis hospedeiros (animais, plantas e microrganismos); e analisamos as possíveis correlações que os vírus realizam”, enumera.
Desse modo, foi possível desenvolver potenciais biomarcadores para identificar vários grupos monitoramento de vírus patogênicos para plantas, animais e humanos, informou Agnez-Lima. O artigo indica ainda que em relação ao SARS-CoV-2, identificamos ocorrência simultânea com vírus não classificados e vírus gastrointestinais que afetam indivíduos imunossuprimidos.
Freitas afirmou que o estudo contribui para a saúde pública de Natal/RN, fornecendo informações dos principais patógenos existentes nas águas residuais da cidade. “Apontamos biomarcadores que podem ser usados para monitoramento e prevenção de surtos de doenças. As descobertas podem auxiliar na criação de estratégias mais eficazes para o controle de infecções e a proteção da população contra ameaças emergentes”, finaliza.
O estudo teve ainda a participação de Thais Teixeira Oliveira e contou com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), por meio das bolsas das duas alunas de doutorado e do edital Capes Epidemias. A professora Agnez-Lima tem bolsa de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).
Mônica Costa
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