Estudo indica que quase 100% dos municípios cearenses tiveram registro de bicho de pé Pesquisa

terça-feira, 13 agosto 2024
A infestação grave com o bicho-de-pé pode levar a sérias complicações porque a área afetada do corpo fica sujeita a infecções bacterianas, que podem levar ao tétano, à ulceração e à deformação dos dedos das mãos e dos pés. (Foto Ribamar Neto / Agência UFC)

Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará fizeram o primeiro estudo sistemático já realizado no mundo sobre a ocorrência da doença

Um total de 98,3% dos municípios do Ceará já registrou relatos de incidência do bicho-de-pé, nome pelo qual é popularmente conhecida a tungíase. O Estado foi investigado no primeiro estudo sistemático já realizado no mundo sobre a ocorrência da doença, cobrindo uma área geográfica ampla e completa, feito por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC). Apesar da gravidade da situação, não existe nenhum programa de controle em território cearense. A doença foi incluída na lista de doenças tropicais negligenciadas pela OMS em 2020.

Dados sobre a ocorrência e a gravidade da tungíase são escassos em todas as áreas em que a doença se desenvolve: América Latina, Caribe e África subsaariana. Para poder planejar medidas de controle baseadas em evidência, os pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública, da Faculdade de Medicina da UFC, desenvolveram e aplicaram um método de avaliação rápida no Ceará, baseado em um questionário on-line aberto para profissionais de saúde e outros agentes envolvidos, que permitiu obter dados básicos sobre o bicho-de-pé no Estado.

Dos 184 municípios, 181 relataram já ter registrado casos de bicho-de-pé, ficando de fora apenas os municípios de Iracema, Lavras da Mangabeira e Várzea Alegre. Entretanto, como os dados coletados desses três municípios foram considerados escassos, os pesquisadores assumem que a tungíase ocorre em todos os municípios do Estado.

Ocorrências

Os municípios costeiros são aqueles com maior ocorrência de bicho-de-pé, incluindo Fortaleza. Na capital, bairros como Praia do Futuro e Vicente Pinzón agregam mais casos. Isso porque a prevalência da tungíase está associada especialmente a más condições de vida e de moradia. Portanto, ela está mais presente em bairros com comunidades pobres da capital.

Dados sobre a ocorrência e a gravidade da tungíase são escassos em todas as áreas em que a doença se desenvolve: América Latina, Caribe e África subsaariana

A infestação grave com o bicho-de-pé pode levar a sérias complicações, aponta a pesquisa. Isso acontece porque a área afetada do corpo fica sujeita a infecções bacterianas, que podem levar ao tétano, à ulceração e à deformação dos dedos (das mãos e dos pés). Os entrevistados no estudo relataram casos de amputação de dedos das mãos e dos pés, perdas das unhas, lesões nas nádegas, pessoas com dificuldades de locomoção, internação e, inclusive, casos de morte.

Apesar da significativa ocorrência da doença no Ceará, não existe nenhum programa específico de controle no Estado. “O único do Brasil com um programa do tipo, até onde sei, é o Rio Grande do Sul”, afirma o professor Jorg Heukelbach, coordenador da pesquisa. Segundo ele, é necessário, para controlar a doença, um programa de saúde integrado e multidisciplinar, com ações que envolvam as condições de moradia das pessoas, de saúde, de cuidado com os animais domésticos e de conscientização para que se evitem comportamentos de risco.

Cerca de 80% dos infectados são crianças

Condições

Os parasitas, pulgas chamadas cientificamente de Tunga penetrans, encontram-se tanto em áreas rurais quanto em urbanas, como favelas de grandes cidades e comunidades pesqueiras. Mas o estudo realizado no Ceará comprovou que a doença está distribuída por todo o Estado, inclusive no semiárido e nos municípios localizados em serras, e com casos graves em todas as regiões. Como o parasita necessita de condições favoráveis de temperatura e umidade, há mais incidência próximo ao litoral. Em regiões secas, as pulgas surgem após os períodos chuvosos.

Ciclo da Pulga. (Imagem: Agência UFC)

A condição de habitação que favorece a infestação com o bicho-de-pé é especialmente o piso arenoso no interior das casas. Além disso, a presença de animais que podem atuar como reservatórios dos parasitas, como gatos e cachorros, é outro agravante, juntamente ao pouco acesso à água e a condições higiênicas e aos baixos níveis socioeconômico e de escolaridade.

Cerca de 80% dos infectados são crianças, evidencia outro estudo com a participação do professor. Isso ocorre porque elas têm o maior costume de andar descalças, em casa e na rua. O costume de socializar em áreas com chão de areia, como embaixo de árvores, também favorece a infestação. Heukelbach destaca, contudo, que o estudo feito no Ceará revela uma redução na prevalência dos casos de bicho-de-pé no Estado ao longo dos últimos anos. “Isso tem a ver com a melhoria das condições de vida da população. Há uma parcela maior de famílias com piso de concreto em casa, há mais casas de cimento na área urbana, em lugares onde eram de papelão. Também teve uma melhoria no sistema de saúde, com o Programa de Saúde da Família. Tudo isso influencia a redução das infecções com a tungíase”, explica

Com informações da Agência UFC de Notícias

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