A tecnologia vem sendo estudada desde 2020 e recebeu carta-patente do INPI
Uma equipe de pesquisadores do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica da Universidade Federal do Ceará tem investigado o uso de nanotecnologia para o combate a uma das zoonoses mais preocupantes do Estado: a leishmaniose.
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Os cientistas desenvolveram uma formulação com nanopartículas contendo uma substância da classe dos nitrosilo complexos de rutênio, que pode potencializar o tratamento da doença, resultando em menos efeitos colaterais nos pacientes. A tecnologia vem sendo estudada desde 2020 e recebeu carta-patente do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
Popularmente conhecida como calazar, a leishmaniose é uma infecção causada por protozoários do gênero Leishmania. A transmissão ocorre através da picada de insetos hematófagos conhecidos como flebótomos ou mosquitos-palha. A doença se apresenta em dois tipos: tegumentar, que provoca feridas na pele e mucosas; e a visceral, que atinge órgãos internos como fígado, baço e medula óssea.
Além de serem poucos, os tratamentos atuais disponíveis contra a patologia possuem limitações como toxicidade cardíaca e hepática, bem como são contraindicados a mulheres grávidas, lactantes, e pacientes com insuficiência renal ou hepática grave.
Eduardo Sousa ressalta a importância das instituições públicas de pesquisa voltarem esforços sobre as doenças negligenciadas (Foto: Ribamar Neto / UFC Informa)
Com base em estudos anteriores que mostraram a eficácia, em modelos animais, do complexo de rutênio contra o protozoário da leishmaniose, a equipe da UFC elaborou uma fórmula com menor capacidade de gerar reações adversas e com potencial para uso oral e tópico (na pele). “Em nossos estudos preliminares, o complexo de rutênio não demonstrou toxicidade, e, atualmente, estamos avaliando com nossos colaboradores científicos seu impacto nas funções hepática, cardíaca e renal para atestar sua segurança”, explica o professor Eduardo Sousa, que assina como inventor principal da patente.
A pesquisa sobre a formulação está na fase pré-clínica e segue com estudos quanto à sua eficácia sob a coordenação do professor Nilberto Nascimento, da Universidade Estadual do Ceará (UECE). A previsão é que a próxima etapa de análise seja realizada até o início de 2026, com a testagem em cães infectados.
Caso demonstre bons resultados nesse momento da pesquisa, o composto poderá ser avaliado também para fins veterinários. “Com os testes em cães naturalmente infectados, teremos a oportunidade de avaliar a atividade do composto contra a espécie Leishmania infantum, responsável pela forma visceral da leishmaniose no Brasil — a manifestação clínica mais letal da doença, caracterizada por hepato e esplenomegalia (aumento do fígado e do baço), podendo evoluir, nos casos mais graves, para hemorragias e insuficiências renal e hepática”, detalha Sousa.
O estudo é resultado da dissertação de mestrado de Antônio Caian Rodrigues, que atualmente cursa doutorado no Programa de Pós-Graduação em Química da UFC. O pesquisador investiga o tratamento de doenças tropicais negligenciadas e destaca a relevância de trabalhos nesse campo. “Como pesquisador vindo da periferia, vejo na ciência uma forma de contribuir e direcionar meus esforços ao enfrentamento de doenças que atingem, de forma desproporcional, populações vulneráveis e historicamente marginalizadas”, comenta.
Reitera o professor Eduardo Sousa a importância das instituições públicas de pesquisa voltarem esforços sobre as doenças negligenciadas. “Apesar de a leishmaniose acometer a milhões de pessoas no mundo, não recebe a devida atenção por parte das grandes indústrias. Como o lucro é um fator decisivo para as multinacionais, as universidades e os institutos de pesquisa públicos são o núcleo formador de ideias e produtos que resgatam a importância do cuidado com as populações marginalizadas”, avalia.
Colaboraram ainda com o desenvolvimento da patente os pesquisadores Luiz Gonzaga de França Lopes, Judith Pessoa de Andrade Feitosa e Ana Cláudia Silva Gondim.
Na avaliação da Organização Mundial de Saúde (OMS), a leishmaniose é uma das principais doenças negligenciadas do planeta. Atualmente, mais de 1 bilhão de pessoas vivem em áreas endêmicas para a infecção, e estima-se que, no mundo, cerca de 30 mil casos da forma visceral e 1 milhão de casos da forma tegumentar ocorram todos os anos.
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Agência UFC
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