Pesquisa, com levantamento feito nos últimos 30 anos, demonstra impacto das mudanças climáticas
Um Acordo de Cooperação Técnica entre a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e o Centro Integrado de Estudos Georreferenciados (Cieg) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) vem proporcionando uma pesquisa sobre os possíveis impactos das mudanças climáticas nos corpos hídricos superficiais no sertão alagoano.
Para realizar o mapeamento dos corpos hídricos em períodos secos na área de caatinga em Alagoas, foram utilizadas séries históricas de imagens da família de satélites norte-americano Land SAT. O Cieg também desenvolveu um novo método para comparação de imagens de 1988 e 2018. Foi identificado um crescimento de açudes e barragens, passando de 2.003 unidades em 1988 para 3.133 unidades em 2018.
No âmbito da UFAL, participam da pesquisa a professora Débora Cavalcanti e a mestranda Flávia Michelle Sampaio pela FAU, e o professor Odair Moraes, do Campus Arapiraca. Pela Fundação Joaquim Nabuco, o estudo é liderado pelo pesquisador Neison Freire e conta com a colaboração de Vinícius Queiroz e Guilherme Oliveira. Flávia Michelle é orientanda da professora Débora e concluirá o mestrado em 2021, onde em seu estudo de caso sobre as lagoas de Maceió vai utilizar metodologia semelhante à aplicada na caatinga.
Objetivo
“A pesquisa tem o objetivo de estudar a eventual influência das mudanças climáticas para as populações vulneráveis de Alagoas, especialmente as que moram no bioma da caatinga e nas grotas de Maceió. A ideia é sugerir políticas públicas que minimizem os impactos que as mudanças climáticas produzam nas comunidades afetadas”, reforçou Débora Cavalcanti (foto), que lidera o Núcleo de Estudos do Estatuto da Cidade (NEST) e coordena o Núcleo de Documentação em Arquitetura e Urbanismo da FAU.
Segundo os pesquisadores, ao analisarem o perfil dos corpos hídricos no sertão alagoano foram encontradas três situações bem distintas. A primeira delas identificou que 1.349 açudes/barragens/lagoas desapareceram do mapa entre uma data e outra, sendo que a maioria (1.288) eram menores que 1 hectare. O segundo grupo revelou que surgiram 2.472 novos corpos hídricos, mas, novamente a maioria (2.325) com área inferior a 1 hectare.
Corpos vitais
O terceiro e último grupo (660, sendo 489 menores que 1 hectare) refere-se aos corpos hídricos que se mantiveram entre uma data e outra. Ou seja, a dinâmica dos espelhos d’água na caatinga alagoana se refere, essencialmente, aos pequenos açudes, vitais às populações de alta vulnerabilidade social presentes no semiárido alagoano.
No transcorrer da pesquisa, que é contínua, foi constatado que, pelo menos, em três dessas lagoas/ barragens (Açude do DNOCS em Delmiro Gouveia, Lagoa Santa Maria em Pão de Açúcar e Lagoa Funda em Belo Monte), há evidências de que as mudanças climáticas vêm alterando as recargas hídricas, ocasionando o desaparecimento de algumas lagoas, mesmo no período chuvoso da pesquisa de campo.
Aprender e ensinar
Sobre a importância da UFAL ao participar do estudo científico, Débora Cavalcanti enfatiza: “A Universidade Federal de Alagoas, por meio do convênio, beneficia-se da experiência internacionalmente conhecida da Fundação Joaquim Nabuco em sensoriamento remoto, mas também contribui com o conhecimento da região e dos temas urbanos e estatísticos por parte dos pesquisadores da instituição alagoana”.
A pesquisadora informa que a conclusão dos trabalhos está prevista para março de 2020 e as ações têm como dinâmica entrevistas com secretários municipais de meio ambiente, moradores e trabalhadores rurais, combinadas com imagens de satélites e dados censitários e revisão de políticas de açudagem na região. Os pesquisadores, de posse destes dados, vêm traçando uma análise das possíveis causas e suas consequências, impactos para assim propor recomendações às políticas públicas setoriais com relação à mitigação dos efeitos das mudanças climáticas na Caatinga.
Débora Cavalcanti acrescentou que o produto principal da pesquisa é a elaboração de um artigo a ser publicado em revistas de excelência, mas com possibilidades de outras publicações, além da realização de eventos e exposições.
O andamento do estudo científico pode ser acompanhado no site da Fundação Joaquim Nabuco
(Fonte: UFAL)
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