Fátima Ximenes, pesquisadora do RN comenta descoberta e afirma que ainda há grandes desafios pela frente
Um estudo de pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) foi publicado na revista Infection and Immunity mostrando que estimular a produção de interleucina 17 A (IL-17A) – uma das citocinas liberadas por células do sistema imune – pode ser uma estratégia eficaz no tratamento da leishmaniose visceral (LV), considerada uma das seis parasitoses mais importantes em humanos.
Segundo os resultados descritos pela equipe da FMRP-USP coordenada pelo professor João Santana da Silva, a elevação dos níveis de IL-17A no organismo infectado não só ajuda a diminuir a carga parasitária como também protege os órgãos contra lesões provocadas pela resposta inflamatória exacerbada – quadro comum nesses casos.
Para a entomologista Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes, professora do Departamento de Microbiologia e Parasitologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) esse é um importante trabalho que aponta para possibilidades de tratamento para as leishmanioses. No entanto, ela alerta quanto a outros desafios a serem enfrentados no combate a doença.
“É necessário conter o avanço da degradação ambiental por meio da educação para o desenvolvimento sustentável, seja na caatinga, mata atlântica ou outro bioma. A urbanização da leishmaniose visceral observada ao longo dos últimos trinta anos resulta também da degradação ambiental e adaptação de espécies aos novos ambientes”, destaca.
Com experiência na área de Parasitologia, Bioecologia de Parasitos e Vetores, Fátima Ximenes fez doutorado em Ciências Biológicas (Entomologia) no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). “Leishmanioses no Rio Grande do Norte-Aspectos bioecológicos da cadeia de transmissão de Leishmania e distribuição geográfica de flebotomíneos”, foi o título de sua tese defendida em 2000.
O grupo de Ribeirão Preto usou no estudo parasitos da espécie Leishmania infantum, transmitido para o homem por meio da picada de insetos – sobretudo os da espécie Lutzomyia longipalpis, popularmente conhecida como mosquito-palha (foto). Em indivíduos suscetíveis, o protozoário se dissemina para o fígado, baço, medula óssea e linfonodos, causando inchaço e inflamação nos órgãos, além de anemia, febre e imunossupressão. Sem tratamento, a doença pode evoluir para óbito em mais de 90% dos casos.
Atualmente trabalhando sobre os vetores e aspectos socioambientais, a pesquisadora da UFRN revela que a incidência de LV no RN é bem mais elevada do que de leishmaniose cutânea. “Nos últimos dez anos se constata a expansão da doença para áreas sem registro anterior, com aumento crescente de casos humanos e adaptação do seu vetor, Lutzomyia longipalpis, a ambientes modificados pela ação humana, com ampla distribuição nas áreas geográficas estaduais. O inseto tem comportamento alimentar eclético e oportunista resultando em aumento do risco de transmissão de Leishmania nos diferentes locais. Temos analisado essas relações em áreas distintas do Estado, tanto em relação aos vetores de LV quanto de leishmaniose cutânea”, explica.
Próximos passos
Para tentar compreender os fatores genéticos que determinam a progressão da leishmaniose visceral, o grupo de São Paulo sequenciou o genoma de pacientes resistentes e suscetíveis e realiza no momento análises comparativas em busca de genes diferencialmente expressos. Os pesquisadores também investigam as bactérias presentes nas lesões agudas, para descobrir se influenciam de alguma forma a resposta do sistema imune.
O artigo dos pesquisadores da FMRP-USP publicado na Infection and Immunity pode ser lido aqui.
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