Espaço Ciência de Recife é exemplo de divulgação e educação científica Geral

quarta-feira, 18 maio 2016
Simpósio ocorre no Espaço Ciência. (Foto Nossa Ciência)

No Dia Internacional dos Museus, contamos a história desse ilustre representante nordestino

Todo dia é dia de museu, mas hoje é um dia especial, 18 de maio é o Dia Internacional dos Museus. Para comemorar a data, o Nossa Ciência conta a história de um ilustre representante do Nordeste: o Espaço Ciência, de Recife. A exemplo de outros museus da região , o Espaço Ciência tem sua trajetória marcada por muito trabalho e dedicação de suas equipes. Na direção do Espaço está Antônio Pavão, professor do Departamento de Química da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e personagem principal dessa história.

Criado em setembro de 1994, o Espaço Ciência nasceu como um programa da Secretaria de Ciência e Tecnologia do governo do estado de Pernambuco. A criação foi basicamente estimulada por um edital da Capes, o SPEC – Subprograma de Educação e Ciência da Capes que propunha a montagem de museus de ciência no Brasil.

Antônio Pavão, diretor do museu, está no espaço desde a fundação e lembra de todos os detalhes desse surgimento. “Esse edital contemplou três projetos, todos de sucesso hoje. O museu da PUC do Rio Grande do Sul, o Museu da Vida da Fiocruz (RJ) e o Espaço Ciência de Pernambuco foram os três que ganharam o edital. Ele foi criado como um programa no final do governo, do governador João Francisco, foi em setembro, em dezembro ele saiu. Em janeiro entrou o Miguel Arraes e o secretário de C&T dele era o Sergio Rezende e ele me convidou para redigir o projeto do Espaço Ciência”, conta Pavão.

Instalado numa área de 120 mil m² entre as cidades de Recife e Olinda, o Espaço Ciência é um dos poucos museus no Brasil que combina exposições montadas em ambientes fechados ao lado de centenas de experimentos interativos a céu aberto. Além de exposições de alta qualidade museográfica, possui Planetário, Auditório, Anfiteatro, Hall de Exposições e Centro Educacional. Destaque para o Manguezal de 5rara beleza e interesse científico que faz parte da propriedade, um ambiente para contemplação, estudos e aprendizagens.

Antes de ocupar a área do antigo Memorial Arco Verde, como era conhecido o local, Pavão conta que o museu funcionava num casarão próximo do centro da cidade de Recife. “Sem condições de permanecer no casarão que tinha muitos problemas, resolvi mudar. Esse parque estava abandonado e só tinha um prédio bonito, do ponto de vista arquitetônico, um prédio cujo projeto era do arquiteto Acácio Gil Borsoi e os jardins eram assinados por Roberto Burle Marx. Em abril de 1996, nós viemos para cá”, revela Pavão.

O Memorial era da Secretaria de Assuntos Extraordinários e para driblar a burocracia Pavão contou com a ajuda do então secretário de C&T, Sergio Rezende. “Pegamos um caminhão que nem fechado era, botamos tudo dentro e viemos pra cá. Nos mudamos e abrimos as portas no mesmo dia, não tínhamos ar condicionado e faltavam tantas outras coisas. Era um matagal, um local abandonado, mas aos poucos nós fomos ocupando o espaço”, relembra.

Um museu vivo

Com um orçamento perto de R$ 2 milhões por ano e registrando uma média de 300 mil visitantes/ano, sendo 120 mil só na sede, o Espaço Ciência conta com várias atrações dentro e fora de suas instalações. Basicamente, o museu é custeado pela Secretaria de C&T do estado, mas também conta parcerias, convênios com empresas privadas e contrapartidas de diversos projetos que tem sido aprovados em editais do MCTI/CNPQ, Capes, Finep.

Entre as atrações estão o edifício da pirâmide – Pavilhão de Exposições, além de duas trilhas – a Ecológica e a das Descobertas que engloba cinco áreas: Água, Movimento, Percepção, Terra e Espaço. Também possui um Observatório Astronômico localizado no Alto da Sé, em Olinda, que recebe mais 50 mil visitantes por ano. Numa concepção de educação que vai além dos limites da sua sede, o Espaço Ciência desenvolve os programas itinerantes Ciência Móvel e Caravana Notáveis Cientistas Pernambucanos,que promovem oficinas, exposições e apresentações em vários municípios de Pernambuco e de estados vizinhos.

No entanto, o destaque de Pavão vai para o manguezal onde os visitantes fazem passeio de barco movido a energia fotovoltaica conhecendo e explorando o ambiente. “Quando vimos o manguezal, lembrei que o museu de ciência La Villette, em Paris, tem um manguezal, só que é artificial! E nós aqui com um manguezal natural, de verdade! Esse é um manguezal que restou dos aterros da área, é um manguezal no meio da cidade. Começamos a estudar e desenvolver o conceito de integrar essa característica muito própria nossa, que poucos lugares do mundo tem: integrar exposições em ambientes fechados com exposições no parque, um ambiente aberto, ao ar livre. Isso foi aos poucos, mas o diferencial sem dúvida é o manguezal, esse ambiente de rara beleza e interesse científico”, orgulha-se Pavão.

As atrações e exposições do museu estão sempre em movimento como forma de atingir seus objetivos centrais: popularizar a ciência e apoiar o ensino. “O museu de ciência é um organismo vivo e tem que estar sempre se renovando”, define Pavão. Ainda segundo o diretor do Espaço Ciência, além de ser um local onde as pessoas podem explorar diversos aspectos da ciência, o projeto tem uma forte atuação social através dos programas sociais: CLI Cidadão (curso de informática e cidadania para comunidades), Projeto Gepetto (fabricação de jogos e brinquedos educativos com jovens de comunidades) e Jardim da Ciência (curso de jardinagem voltado para a formação de jovens de baixa renda).

Divulgação e educação científica

O Espaço Ciência é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva, investiga, difunde e expõe os testemunhos materiais das descobertas científicas e tecnológicas do homem e de seu entorno, para educação e deleite da sociedade.

A tarefa central do Museu Espaço Ciência é a divulgação e a educação científica, que constitui-se em um conjunto de procedimentos voltados à comunicação da ciência para estudantes, professores e o público em geral, através de suas narrativas expositivas capazes de promover diálogos e reflexões acerca das relações entre ciência e sociedade.

Pavão explica que entre os professores e o museu há um contato muito bom, eles têm consciência da importância do Espaço Ciência. “Entretanto, os secretários não tem essa visão. Falta aos nossos gestores uma consciência maior, compreensão do papel que os museus de ciência têm dentro do processo educacional, não apenas na educação científica, mas uma visão geral, uma cultura geral. O aluno que nos visita sai mais motivado para na escola aproveitar suas atividades”, detalha.

De acordo com o diretor do museu pernambucano, o objetivo principal do Espaço Ciência não é ensinar. “Nosso objetivo é o estimulo, é a pessoa sair daqui motivada a aprender mais na escola. Dessa forma ele vai facilitar o trabalho do professor, vai produzir mais na escola, apesar de não termos estudos sobre isso, nossa percepção é essa”, analisa Pavão. Segundo ele, os monitores são treinados para fazer uma única pergunta ao visitante: por que? “Combatemos a postura professoral, ficar ensinando. Aqui o visitante diante de um experimento, ele mexe, toca e pergunta por que? Devolvemos a pergunta para que ele nos diga o que entendeu, o que acha. Isso estabelece um diálogo, a gente trabalha com isso. Aqui se torna um espaço de conversação, diálogo, estímulo. Você não vê muitas explicações aqui, fazemos perguntas e não trazemos respostas. Todo experimento tem uma interrogação. Esse conceito também se reflete nos cursos de formação de professores que realizamos aqui”, esclarece.

Pavão explica que o Espaço Ciência não é como os muitos museus que existem pelo mundo. “Aqui não é um grande livro aberto. No Museu de Ciência de Londres, por exemplo, os experimentos são de apertar botões. O visitante tem a resposta e sai satisfeito. Não pode! Tem que sair com mais interrogações, esse é o nosso conceito”, completa.

O futuro

Novas exposições e experimentos estão nos planos do diretor Pavão que se orgulha de o Espaço ter atingido um padrão internacional. “Temos melhorado muito nossa museografia, já desenvolvemos aqui um trabalho de padrão internacional. É evidente que não temos os mesmos recursos que outros museus, mas nós temos experimentos aqui que não existem em canto nenhum do mundo. E vamos ter novidades como um experimento de curva de nível, que não é tão comum nos museus do mundo e outras coisas tradicionais que tem em todo museu e todos querem ver, por exemplo, o Van der Graaf, aquele experimento que arrepia o cabelo”, revela.

Ainda segundo Pavão, o futuro é sinônimo de desafio, aperfeiçoamento e inovação. “É um desafio montar um museu de ciência, mas é um desafio ainda maior manter esse museu. Somos um organismo vivo, então nossas novas ações estão ancoradas em ações anteriores, vamos nos aperfeiçoando. Nosso futuro é esse: permanecer na ponta, top, como já somos, e com inovação. Se você tiver dinheiro você monta um museu do dia para noite, mas esses que a gente já conhece por aí. Mas aqui nós criamos o novo que não tem em nenhum outro lugar. O futuro não nos pertence, mas queremos continuar fazendo o que estamos fazendo agora”, afirma.

Até 22 de maio o Instituto Brasileiro de Museus – Ibram promove a Semana Nacional de Museus. Confira a programação completa no link

2 respostas para “Espaço Ciência de Recife é exemplo de divulgação e educação científica”

  1. Luiz Mendes disse:

    Estamos para lançar um projeto que contempla temas relacionados à missão do Espaço Ciência.
    Gostaríamos de conversar com a direção do Espaço.

    • NossaCiencia disse:

      Prezado Luis, o contato do Espaço Ciência é (81) 3241.3226 ou 3183.5524 e você também pode procurar nas redes sociais.
      abs

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