Descoberta chama a atenção pela grande diversidade genética dos coronavírus em morcegos
Uma colaboração entre pesquisadores dos estados do Ceará, de São Paulo e da Universidade de Hong Kong resultou na descoberta de um novo coronavírus em morcegos, o primeiro na América do Sul intimamente relacionado ao causador da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS, na sigla em inglês).
No total, os pesquisadores identificaram sete coronavírus em amostras de cinco morcegos coletadas pelo Laboratório Central de Saúde do Ceará (Lacen), em Fortaleza, destacando a grande diversidade genética de coronavírus encontrada. Os animais pertenciam a duas espécies diferentes (Molossus molossus e Artibeus lituratus), sendo uma insetívora e outra frugívora.
“Ainda não podemos afirmar se ele tem a capacidade de infectar humanos. No entanto, encontramos partes da proteína spike do vírus [que se liga à célula de mamífero e inicia a infeção] que sugerem uma potencial interação com o receptor utilizado pelo MERS-CoV. Para saber mais, planejamos realizar experimentos em Hong Kong ainda este ano”, conta Bruna Stefanie Silvério, primeira autora do estudo.
Em outro estudo realizado pelos grupos do Lacen-Fortaleza e da Unifesp, foram encontradas variantes de vírus da raiva de saguis em morcegos.
“Os morcegos são importantes reservatórios de vírus e, por isso, devem ser alvos de vigilância epidemiológica contínua. Esse monitoramento permite identificar os vírus em circulação, antecipar potenciais riscos de transmissão para outros animais e até mesmo para os humanos”, lembra Ricardo Durães-Carvalho, professor da EPM-Unifesp e orientador de Silvério, no doutorado.
O coronavíus causador da MERS foi identificado pela primeira vez em 2012, na Arábia Saudita, e provocou mais de 800 mortes, com casos registrados em 27 países.
Os pesquisadores brasileiros conseguiram identificar uma sequência genética com 71,9% de similaridade ao genoma do MERS-CoV. O gene que codifica a proteína spike apresentou 71,74% de identidade com a spike do MERS-CoV, isolado de humanos na Arábia Saudita em 2015.
Para verificar se ela pode se ligar às células humanas, será necessário fazer experimentos em laboratórios com alto nível de biossegurança. Esses testes estão programados para acontecer na Universidade de Hong Kong ainda este ano.
O estudo está publicado no Journal of Medical Virology
Agência FAPESP
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