Efluentes menos tóxicos Pesquisa

terça-feira, 15 março 2022
Foto: Cícero Oliveira/UFRN.

Pesquisadores da UFRN criam alternativa para remoção de corantes na indústria têxtil

A indústria têxtil tem uma relevante representação econômica no país, superior a 5% do valor total da produção da indústria brasileira de transformação. No mundo, o Brasil está entre os dez maiores produtores mundiais de têxteis, com produção de quase US$ 13 bilhões em 2020.  No Rio Grande do Norte, há tradição na área, bem como, algumas das principais empresas do país têm fábricas instaladas no estado.

Se, por um lado, produtos têxteis movimentam a economia, por outro, trazem a preocupação quanto ao impacto ambiental. Isso porque os resíduos da produção são caracterizados com alta carga poluidora de diversidade e complexidade química, sobretudo em virtude da presença de corantes, devido às etapas de tingimento e estamparia. A situação impede que esses efluentes produzidos pela indústria têxtil possam ser descartados no meio ambiente sem um tratamento prévio.  Pensando nisso, um grupo de cientistas da UFRN desenvolveu uma forma de tratamento alternativa para esses efluentes, a partir de matéria-prima natural.

A invenção, inclusive, recebeu o patenteamento do Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI) no mês de fevereiro. Tereza Neuma de Castro Dantas, coordenadora do grupo, explica que a remoção de corantes acontece a partir de efluente têxtil através da Floculação Iônica, processo que tem os tensoativos como agente de separação. “Esses tensoativos são obtidos de matéria-prima natural como gordura animal ou vegetal, e são de fácil produção”, pontua.

Tereza Neuma explica que projeto pensou em reduzir impacto ambiental da indústria têxtil – Foto: Cícero Oliveira/UFRN.

Ela esclarece também que o processo tem como principais vantagens: um curto tempo de desenvolvimento, cerca de cinco minutos de contato, para efetuar a remoção do corante do efluente, o uso de baixas  concentrações de tensoativo em comparação a outros processos que o aplicam como agente de separação, e proporciona uma eficiência de remoção de corante de 97%. “Muitos pesquisadores têm trabalhado para desenvolver processos que proporcionem bons resultados na remoção de corantes aliado a um baixo custo. Nesse contexto entra a contribuição desta patente, pois a floculação iônica alia uma ótima eficiência de remoção de corante com a utilização de matéria-prima de baixo custo, que são os tensoativos originados a partir de gordura animal ou vegetal. Assim, o presente invento objetiva solucionar os inconvenientes dos tratamentos apresentados através do desenvolvimento de um processo de tratamento para o efluente têxtil que consome pouca energia, aplicando materiais biodegradáveis, requerendo um curto tempo de operação e utilizando materiais de baixo custo”, destaca a ex-professora do Instituto de Química que, apesar de aposentada, ainda contribui com o desenvolvimento de pesquisas científicas.

O método de tratamento criado é resultado de um trabalho vinculado ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Química (PPGEQ), ao Laboratório de Tecnologia de Tensoativos (LTT), e ao grupo de pesquisa Tecnologia de tensoativos e processos de separação, que conta com a participação de Afonso Avelino Dantas Neto, Eduardo Lins de Barros Neto, Shirley Katia da Silva Nunes e Ricardo Paulo Fonseca Melo.

Sugestão de legenda: Invenção recebeu patenteamento do Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI) em fevereiro – Foto: Cícero Oliveira/UFRN.

O grupo explica que, até o momento, os processos que utilizam tensoativos, e foram avaliados no tratamento de efluentes têxteis contendo corantes, trabalham em um sistema composto por duas fases líquidas. Como exemplos, há a extração por ponto de nuvem e a extração por microemulsão. Na floculação iônica ocorre a formação de flocos com caráter hidrofóbico, ou seja, com afinidade a matéria orgânica do resíduo. Essa afinidade faz com que os flocos se “liguem” facilmente e consigam remover o corante através da adesão da sua molécula à superfície deste floco. Segundo os pesquisadores, este novo cenário ainda tem muito a ser explorado.

“No nosso grupo, os estudos a respeito da floculação iônica continuam, visando a avaliar mais parâmetros que podem influenciar na remoção de corantes. Além disso, outros trabalhos que estão em desenvolvimento visam aplicar a floculação iônica no tratamento de diferentes tipos de compostos, como os produzidos na indústria do petróleo, e também avaliar a floculação iônica conjugada com outro processo de tratamento, como é o caso da extração líquido-líquido”, realça Teresa Neuman.

Fonte: ASCOM- Agência de Inovação da Reitoria/UFRN

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