É natural, mas não muito Pesquisa

sexta-feira, 2 maio 2025
Os fitoterápicos são registrados na Anvisa, com comprovação de segurança, eficácia e qualidade. Esse tipo de produto acaba prejudicando a imagem dos fitoterápicos.

Pesquisa identifica produtos vendidos como naturais contendo substâncias sintéticas sem aviso no rótulo

(Juliana Estevam)

Uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) expõe um alerta sobre a segurança de produtos vendidos como naturais: muitos podem conter substâncias sintéticas sem aviso no rótulo. É o caso do Infinity 12, um suplemento oral indicado para dores crônicas, cuja fórmula inclui ingredientes como cálcio de ostra, dolomita, canela-de-velho, castanha-da-índia e chapéu-de-couro.

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A estudante Maria Isabel Dutra Fonseca, do curso de Farmácia da UFRN, realizou o estudo, cujo título é Infinity 12: mais um produto dito natural adulterado que contém substâncias sintéticas não declaradas, como trabalho de conclusão de curso, e identificou a presença de paracetamol no produto — composto sintético com potencial hepatotóxico, quando consumido em excesso por longos períodos. O grupo Produtos Naturais Bioativos (PNBio) conduziu a pesquisa no Laboratório de Farmacognosia.

O produto contem ainda o piroxicam, anti-inflamatório não esteroidal (AINE) usado para o tratamento de dores e inflamações. Embora eficaz, seu uso requer cautela devido ao risco de efeitos colaterais, como irritação gástrica e comprometimento da função renal. A presença dessa substância no suplemento reforça as preocupações sobre adulteração de produtos ditos naturais e os potenciais riscos à saúde dos consumidores.

Desconfiança

A pesquisa teve início após a solicitação de uma médica geriatra do Hospital Universitário Onofre Lopes (Huol/UFRN), que observou uma melhora significativa em um paciente com dores crônicas após o uso do suplemento. A eficácia inesperada despertou suspeitas quanto à verdadeira composição do produto, levando à análise laboratorial.

Para a investigação científica, os pesquisadores usaram técnicas de cromatografia para avaliar a composição do suplemento. Os testes de cromatografia em camada delgada (CCD) permitiram identificar a presença de anti-inflamatórios não esteroidais, comparando o perfil cromatográfico das cápsulas com padrões de paracetamol, piroxicam, trometamol e diclofenaco sódico. Além disso, análises de cromatografia líquida de ultra eficiência (Clue), acopladas a um espectrômetro de massas de alta resolução, confirmaram a presença de paracetamol no produto.

Esse trabalho ganha relevância em um contexto de crescente consumo de produtos naturais no Brasil, frequentemente impulsionado pela crença de que são inofensivos. No entanto, como aponta o estudo, embora a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) fiscalize amplamente os medicamentos fitoterápicos, os fabricantes comercializam esse tipo de produto como natural, mas omitem no rótulo substâncias sintéticas que podem representar sérios riscos à saúde.

Riscos à saúde

Professora Silvana Zucolotto (Foto: Cicero Oliveira / UFRN)

De acordo com a pesquisadora Silvana Maria Zucolotto, orientadora do estudo, esse tipo de produto representa um risco à saúde pública. Isso porque o consumo excessivo de substâncias como os AINEs pode ser perigoso, especialmente para pessoas alérgicas ou que fazem uso de medicamentos contínuos e, ainda, com quadro de gastrite ou úlcera.

Zucolotto também alerta para os perigos da automedicação. “Muitas pessoas já utilizam medicamentos de uso contínuo para doenças crônicas e, sem saber, acabam consumindo um produto, pensando ser natural, à base de extratos vegetais, quando na verdade contém substâncias sintéticas. Isso pode levar a interações indesejadas com os medicamentos que o paciente já utiliza”, explica.

A professora ainda reforça a necessidade de diferenciar fitoterápicos regulamentados de produtos adulterados. “Os fitoterápicos são medicamentos registrados na Anvisa, com comprovação de segurança, eficácia e qualidade. Esse tipo de produto acaba prejudicando a imagem dos fitoterápicos que, ao contrário do Infinity 12,  são submetidos a uma legislação rigorosa para ter sua comercialização autorizada no país ”, destaca.

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Publicado originalmente em ufrn.br

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