O Phyllopezus diamantino foi encontrado e, até agora, é conhecido somente na Serra do Sincorá, na Chapada Diamantina, município de Mucugê, na Bahia. Já o Phyllopezus selmae foi localizado apenas na Mata Atlântica e em áreas de transição com a Caatinga no estado de Alagoas. Nessas localidades, existem outras dezenas de espécies de lagartos, mas, para o gênero Phyllopezus, as duas espécies novas são as únicas registradas.
Tanto o Phyllopezus diamantino quanto o Phyllopezus selmae distinguem-se das outras espécies já conhecidas por diferenças genéticas e características de morfologia externa, como maior tamanho corporal; formato, posição e quantidade de escamas da cabeça; e também pela coloração do corpo. “As duas espécies novas são próximas entre si, evolutivamente. E as duas estão relacionadas com outras várias espécies do gênero. Algumas dessas sabemos que também são novas e, em breve, receberão novos nomes também”, explicou o professor Pedro Nunes, do Departamento de Zoologia e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal (PPGBA) do Centro de Biociências (CB) da UFPE, Campus Recife. O docente é orientador de Marcos Dubeux no doutorado e um dos autores do trabalho.
“Apesar dessa distância geográfica entre as duas espécies, o conhecimento atual que nós temos revela que elas compartilham um ancestral comum e exclusivo. Então, elas, algum dia, provavelmente, pertenceram a uma mesma população, há muitos anos atrás, que, ao longo do tempo, se divergiu nessas duas espécies que acabaram isoladas em estados completamente diferentes”, ressaltou Marcos Dubeux.
Para a identificação das novas espécies, foi utilizada uma abordagem metodológica denominada taxonomia integrativa, em que diferentes fontes de evidência são utilizadas de maneira integrada e precisa. Nesse trabalho, foram realizadas análises morfológicas (com medição dos espécimes, contagem de escamas, avaliação da cor e de outras características) e moleculares (com a comparação de fragmentos de genes entre os diferentes indivíduos, recuperando uma árvore filogenética) para a comparação com outras espécies do gênero. Os resultados indicaram que as duas novas espécies realmente se distinguem das demais desse gênero e, ao mesmo tempo, possuem proximidade morfológica e molecular entre as duas.
Em 2012, o Phyllopezus diamantino já havia sido identificada como uma possível nova espécie pela pesquisadora Fernanda Werneck (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – Inpa) e colaboradores, com base em informações genéticas. Agora, em 2022, o doutorando Marcos Dubeux encontrou características morfológicas que suportam a nova espécie, somadas às informações moleculares. Já o Phyllopezus selmae foi coletado por alguns dos autores do artigo, e a nova espécie foi descoberta recentemente.
Além de Marcos Dubeux e Pedro Nunes, também assinam o artigo os pesquisadores Tamí Mott (Universidade Federal de Alagoas – Ufal), que é coorientadora de doutorado de Marcos Dubeux; Fernanda Werneck (Inpa/Manaus), Tony Gamble (Marquette University e University of Minnesota, Estados Unidos) e Miguel Rodrigues (Universidade de São Paulo – USP), os quais já trabalhavam com o gênero; Ubiratan Gonçalves (Ufal), Cristiane Palmeira (Ufal e Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN) e José Cassimiro (USP), responsáveis por encontrar e coletar diversos indivíduos das duas espécies que foram descobertas.
FAUNA – As novas espécies de lagartos ampliam a diversificada fauna da região Nordeste do Brasil. “A descrição de ambas as espécies é bastante importante para a compreensão da evolução do gênero e para políticas de preservação das áreas onde ocorrem”, disse o professor Pedro Nunes.
No caso de Phyllopezus diamantino, a descoberta reforça a riqueza da biodiversidade da Serra do Sincorá e da Chapada Diamantina, inclusive com larga gama de espécies endêmicas, mas fica o alerta quanto à preservação ambiental. “Devido à área de distribuição de Phyllopezus diamantino ser bastante pequena, a nova espécie provavelmente já está ameaçada de extinção”, pontuou Nunes.
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