As dificuldades enfrentadas pela comunidade acadêmica foram debatidas na Assembleia Legislativa do RN
Ciência não é gasto, é investimento. Essa foi a mensagem que representantes de instituições de ensino superior (IES), da agência estadual de fomento à pesquisa e os deputados da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia (CECT) da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte quiseram passar à sociedade potiguar no dia C da Ciência, realizado no dia 25.
O contingenciamento de 44% dos recursos destinados à área no ano de 2017, feito pelo governo federal foi lembrado como grave ameaça ao futuro do país. “Pesquisadores de alto nível estão indo embora (do país), estudantes de pós-graduação estão procurando fazer sua carreira lá fora e isso é muito grave”, alertou o presidente da Fundação de Apoio à Pesquisa do estado (Fapern), Uílame Umbelino Gomes.
Umbelino, professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Materiais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), reconhece que são públicos os recursos para o fomento à pesquisa e que a pesquisa é necessária para desenvolver as potencialidades do país. “Para desenvolver ciência & tecnologia é preciso instituições fortes, recursos humanos experientes e infraestrutura. Então, é preciso investimento, que é público. Tem também o (investimento) privado, mas ele só chega, quando as instituições de pesquisa começam a desenvolver produtos para a sociedade, ou seja, a tecnologia”.
Extinção do MCTI
O deputado Mineiro, presidente da CECT, lembrou que a primeira ação do Governo Temer foi a extinção do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e a fusão dessas áreas com Comunicações, o que rebaixou as agências de fomento a escalões bem inferiores na hierarquia do governo. “O que está em curso no Brasil é uma política regressiva, de voltar à dependência aos capitais internacionais, à pesquisa internacional, é tudo articulado, é um processo muito claro de detonar a autonomia e a independência brasileira”, afirmou.
As dificuldades enfrentadas pela comunidade acadêmica potiguar são agravadas ainda mais pela situação econômica do estado. O atraso no pagamento dos salários dos servidores tem atingido fortemente a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Com orçamento mensal de R$ 297milhões, sendo R$ 264 milhões para pagamento da folha de pessoal, a UERN vê com preocupação a manutenção de sua estrutura.
“A ciência deveria ser valorizada em todos os âmbitos, tendo em vista que ela é o motor para o desenvolvimento de um país, mas infelizmente no momento em que a gente vive, é preciso ter esse dia para poder estar divulgando a importância da ciência e para que a sociedade entenda a ciência como um bem, como um investimento, como desenvolvimento para o país”, declarou a vice-reitora da UERN, Fátima Raquel Rosado Morais.
À míngua
“A Fapern tem o papel de induzir as pesquisas para o desenvolvimento do estado, mas no momento ela está numa situação muito preocupante.” A afirmação é do pró-reitor de Pesquisa da UFRN, Jorge Tarcísio da Rocha Falcão, da unanimidade no Dia C da Ciência potiguar. A defesa da dotação orçamentária que possibilite à Fapern o cumprimento de sua função prioritária, que é o fomento às pesquisas no estado foi um dos assuntos recorrentes do evento. Todos os entrevistados por Nossa Ciência ressaltaram a importância da fundação estadual como agência indutora para o desenvolvimento da ciência e, por consequência, de todo o estado.
Recursos para pesquisa no RN é tema de debate
O deputado Hermano Morais, membro da CECT, considerou que apesar do orçamento do Fundo de Ciência & Tecnologia do estado ter passado de R$ 12 milhões em 2017 para R$ 36 milhões em 2018, conforme anunciado na ocasião pelo deputado Mineiro, os recursos ainda são insuficientes. E ainda lembrou que menos da metade do valor orçado para 2017 foi executado, o que, em sua opinião, revela a falta de prioridade do governo com a área. Hermano garantiu que a comissão vai fiscalizar o cumprimento do valor orçado. “Ciência & tecnologia deve ser tratada como investimento para o estado, que tem muito potencial, especialmente para a geração de energias solar e eólica, além de gás, minério e petróleo no subsolo. E tem recursos humanos de alto nível nas instituições de pesquisa. O fomento às IES através da Fapern pode gerar riqueza e reter as inteligências no RN”, defendeu.
O Dia C da Ciência é uma iniciativa das universidades, dos centros e institutos tecnológicos que desenvolvem pesquisa, para sensibilizar e informar a população que, além de formar recursos humanos qualificados, essas instituições são responsáveis pela produção de aproximadamente 90% do conhecimento científico brasileiro. Para o pró-reitor da UFRN, o Dia C da Ciência é relevante pois desperta para a conscientização e o apoio da sociedade para o tema, “dois aspectos decisivos para a sobrevivência do ensino superior gratuito e de qualidade, importantes também para a manutenção do financiamento público, sobretudo em áreas como ciência e tecnologia.”
A reitora Ângela Paiva Cruz, da UFRN, participou da abertura da reunião, porém não pode permanecer devido a outro compromisso anteriormente agendado.
Mônica Costa
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