Da iniciação ao doutorado: mulheres vão ocupando espaços nas ciências Geral

quarta-feira, 12 fevereiro 2025
Mestranda do ISD, Giovanna Oliveira.

Dia Internacional das Meninas e Mulheres na Ciência

O ano de 2025 marca uma década da oficialização do Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). A iniciativa foi pensada para fortalecer o compromisso global com a equidade entre homens e mulheres, principalmente no âmbito da educação. 

Ao longo dos últimos anos, cresceu gradativamente a presença de mulheres em programas de pós-graduação. Um estudo realizado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), que reúne dados de 1996 a 2021, aponta que mulheres representavam 49,8% dos mestres e 44,3% dos doutores titulados no Brasil em 1996. Quinze anos depois, a proporção subiu para 56,8% e 55,6%, respectivamente.

Onde elas atuam

Apesar disso, ainda existem desafios relacionados à diversidade das áreas do conhecimento em que mulheres estão inseridas: a maioria delas estão nos campos de Ciências da Saúde (62,52%), Humanas (57,49%), e Linguística (64,52%), enquanto a participação em áreas como Engenharias e Ciências Exatas registram, respectivamente, 33,27% e 36,02% de presença feminina durante o quinquênio analisado.

Na contramão da tendência observada nacionalmente na área de engenharia, o Programa de Pós-graduação em Neuroengenharia do Instituto Santos Dumont (ISD) formou 73 mulheres desde 2013. Esse percentual representa 54% dos mestres titulados pela instituição.

Localizado no município de Macaíba, no Rio Grande do Norte, o ISD oferece formação a nível de Mestrado, encorajando o ingresso de mulheres de profissões diversas em seus programas de pesquisa e iniciação científica.

Elas, que vêm de diversos contextos e formações, saem do laboratório e das áreas de atendimento clínico para conquistar novos espaços pelo mundo, ocupando lugares que, muitas vezes, não são garantidos às mulheres pesquisadoras. 

Além da clínica: da saúde à engenharia

Nancy Sotero Silva.

Fonoaudióloga, especialista no cuidado à pessoa com deficiência e neuroengenheira. Estes são os títulos de Nancy Sotero Silva, natural de Caruaru/PE, formada pela Residência Multiprofissional no Cuidado à Saúde da Pessoa com Deficiência (RESPCD) e pelo Mestrado do ISD. Hoje, ela está no doutorado da Bielefeld University, na Alemanha, onde pesquisa a interseção entre audição e visão e os elementos motores desses dois sistemas. Lá, assume o desafio de se aprofundar em uma pesquisa básica em neurociência, distante da pesquisa clínica, e de trabalhar com uma área totalmente nova – a da visão. 

“Eu sempre quis fazer da pesquisa o foco da minha carreira profissional, porém enquanto profissional de saúde – e, sobretudo como mulher – por vezes somos levados a aceitar que a pesquisa precisa estar em segundo plano, dependente da atuação clínica ou da docência – o que sem dúvidas é uma alternativa válida, mas não a única”, relata a doutoranda.

Hoje, a fonoaudióloga afirma enxergar outras possibilidades de trabalho e sentir-se “empoderada” para o mercado como pesquisadora. “Para mim a alternativa ‘ideal’ é aquela em que a pesquisa atravessa a formação profissional das mais diversas áreas, possibilitando que mais profissionais possam se reconhecer enquanto pesquisadoras e pesquisadores”, considera.

Interdisciplinaridade

A mestranda do ISD, Giovanna Lorena Rodrigues dos Santos Oliveira, também vivenciou essa interdisciplinaridade. Técnica em Informática para Internet e graduada em Psicologia, sempre gostou de aspectos dos dois campos do conhecimento. A escolha da Neuroengenharia veio da vontade de se aprofundar na pesquisa e de unir suas duas paixões: ciências em saúde e em exatas. 

No ISD, Oliveira desempenha a pesquisa básica, aquela desenvolvida primordialmente em laboratórios para responder a questionamentos científicos e desvendar novos caminhos empíricos. A partir de modelos animais, ela analisa como diferentes ambientes afetam o desenvolvimento da memória, a capacidade de aprendizado e o comportamento.

Paralelamente, ela também atua como neuropsicóloga, realizando avaliações clínicas de crianças e adolescentes, algo que consegue aliar à sua pesquisa. “Eu também enxergo o meu trabalho como pesquisa, porque estou investigando, levantando e analisando dados e explicando a um paciente e à família a condição que ele tem. Então o mestrado me ensinou a lidar com a prática clínica de uma forma bem crítica e científica também”, explica.

Para o futuro, a pesquisadora pretende fazer um doutorado orientado à saúde e reforça que não deixará de lado os aprendizados interdisciplinares. “Mesmo que a pesquisa não seja a minha profissão no futuro, contribui muito para que eu tenha uma prática mais eficiente e atualizada e que alcance resultados melhores para meus pacientes”, complementa a neuropsicóloga.

Jovens pesquisadoras: um futuro na ciência

Além do nível de pós-graduação, o ISD oferece também um programa de Iniciação Científica, que recebe dezenas de estudantes de ensino médio, técnico e graduação. Laiza Camilly Melo de Oliveira, 18, é uma delas. A jovem conheceu o ISD pela primeira vez através da Feira de Ciências da instituição, enquanto fazia parte do curso de Informática da Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ), em Macaíba. 

Laiza Oliveira

Por meio do projeto MandacaruBot, da EAJ, que oferta oficinas de robótica para escolas públicas, a estudante participou de três edições da Feira, até conseguir uma bolsa de iniciação científica no ISD, onde permanece até hoje. “Eu tenho estudado sobre muitas coisas, conhecendo vários processos em todos os projetos. O que acho incrível é que aqui ninguém passa despercebido, tem todo esse cuidado para que todos participem e entendam o que está sendo feito, então me sinto muito acolhida aqui dentro”, relata. 

Hoje, já formada no curso técnico em Informática, conquistou aprovação na graduação em Ciência e Tecnologia na UFRN e pretende cursar Engenharia Biomédica. “Eu gostaria muito de seguir em frente com o que faço aqui e pensei ‘como vou juntar tecnologia e ciência?’, então para mim essa foi a escolha perfeita”, conta.

Outras possibilidades

Larissa de Alcântara Pereira, 22, também faz parte da iniciação científica do ISD no nível de graduação. Natural de Petrolina, em Pernambuco, e criada em Juazeiro, na Bahia, finalizou o ensino médio em um colégio local e mudou-se para Natal para cursar Engenharia Biomédica na UFRN. Ela conheceu a área da neuroengenharia apenas após ingressar no ensino superior.

Larissa Pereira.

“Eu vim de uma realidade que isso era muito distante, não somente em relação à distância física, mas da minha realidade. Quando eu vim para cá e descobri a neurociência e neuroengenharia, é como se novas portas se abrissem e eu pudesse observar outras possibilidades de enxergar o mundo”, conta Pereira.

No ISD, ela trabalha com aprendizado de máquina e processamento de sinais, em um projeto que estuda padrões da atividade neuronal relacionados à articulação da fala utilizando abordagens pouco encontradas em outros estudos. Para o futuro, ela pensa em não apenas continuar na área da neuroengenharia, com a formação acadêmica continuada e a docência, mas em retornar com esse conhecimento. “Ainda é um percurso longo, mas penso em levar uma pesquisa ou talvez ser professora lá em Petrolina, poder mostrar que também existem outras possibilidades, que a gente pode fazer muita coisa legal”, conclui.

Leia também: Nossa Ciência presta homenagem a mulheres que se destacam na carreira científica

Texto e fotos: Ascom ISD

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