Pesquisadora de Alagoas, membro da Sociedade Brasileira de Farmácia Clínica, aborda controvérsias acerca do uso de Hidroxicloroquina e Vitamina D no combate ao novo coronavírus
Em tempos de coronavírus e isolamento social, o medo e a incerteza têm assolado as mentes das pessoas. Nestas circunstâncias, a automedicação é vista muitas vezes como uma solução rápida e eficaz.
No entanto, está é uma rota que pode trazer consequências graves como dependência, intoxicação e até a morte. Além disso, a administração incorreta de um medicamento pode acarretar o agravamento de uma doença, uma vez que pode mascarar determinados sintomas.
No caso da Covid-19, alguns medicamentos podem deixar as pessoas mais vulneráveis ou até mesmo agravar o quadro daqueles que já foram diagnosticados com a doença.
Para abordar os riscos do uso indiscriminado de medicamentos, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) convidou a professora de Farmacologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Eliane Campesatto.
A pesquisadora é líder do Grupo de pesquisa em Farmacoterapia das Doenças Crônicas (GFADOC-UFAL), vice-presidente, no estado, da Sociedade Brasileira de Farmácia Clínica (SBFC-Regional Alagoas), e membro do grupo de trabalho de saúde pública do Conselho Federal de Farmácia (CFF).
Ela inicia esclarecendo a utilização de medicamentos controversos. Após o anúncio de Donald Trump de que a hidroxicloroquina e cloroquina poderiam curar a Covid-19, estoques de hidroxicloroquina no Brasil e nos Estados Unidos diminuíram de forma alarmante:
“Muitas pessoas por desespero e falta de informação, se anteciparam e correram às farmácias atrás destes medicamentos que em ensaios clínicos preliminares e inconclusivos, foram eficientes para combater o novo coronavírus”, cita a estudiosa.
Ela explica que além da carência de comprovação, esses medicamentos podem causar efeitos colaterais como fraqueza, alterações cutâneas, cardiomiopatia, afetando o coração, anemia aplástica, no sangue, hipoglicemia grave, neuropatia, no sistema nervoso e distúrbios visuais, como a cegueira.
Os dados clínicos que avaliam os fármacos ainda são limitados e sua eficácia contra a SARS-CoV-2 é questionável. No entanto, dada a falta de intervenções claramente eficazes e a atividade antiviral in vitro, alguns clínicos consideram razoável o uso da hidroxicloroquina em pacientes hospitalizados com doença grave ou risco de doença grave que não são elegíveis para ensaios clínicos.
Segundo a estudiosa no Brasil, o Ministério da Saúde autorizou o uso da cloroquina/hidroxicloroquina como terapia adjuvante no tratamento de formas graves, em pacientes hospitalizados, sem que outras medidas de suporte sejam preteridas em seu favor. “É importante ressaltar que há muitos estudos clínicos em andamento, avaliando a eficácia e segurança destas substâncias, bem como outros medicamentos, e podemos ter a publicação destes resultados em breve”, alega a especialista.
Porém existe outra substância que tem sido repercutido de forma massiva nas redes sociais e também não possui eficácia comprovada contra a pandemia, a vitamina D: Até presente momento, a ciência ainda não encontrou uma resposta clara sobre esse composto, ou mesmo indicativos que reforcem o uso da vitamina D contra o coronavírus.
A vitamina D é um pré-hormônio capaz de se ligar a receptores presentes em algumas células, como as do sistema imunológico, podendo então ter algum papel na defesa, mas não há evidências suficientes para sugerir seu uso como tratamento nestes casos.
A principal recomendação para uso de suplemento de vitamina D é feita apenas para grupos de risco de deficiência desta substância, e, mesmo assim, após exames, consultas e prescrição médica.
O seu papel mais conhecido, essencial, é a participação na absorção do cálcio pelo organismo e contribuindo assim para a saúde dos ossos. Contudo, seu uso não deve ser feito sem recomendação médica, visto que superdosagens podem provocar hipercalcemia, um excesso que pode gerar perda da função renal, calculose renal (pedras nos rins) e perda óssea
O que deve ser evitado?
“Antibióticos também não funcionam contra vírus, apenas contra bactérias. A Covid-19 é uma doença ocasionada por um vírus e, portanto, os antibióticos não devem ser usados como um meio de prevenção ou tratamento”, afirma a docente.
No entanto, Eliane Campesatto explica que se o paciente estiver hospitalizado com a Covid-19, o antibiótico pode ser utilizado porque é possível ocorrer uma co-infecção bacteriana, ficando isto a critério do profissional médico, que pode avaliar caso a caso.
Um tratamento correto da doença
Para pacientes hospitalizados várias instituições médicas e de saúde do mundo desenvolveram protocolos de tratamento da Covid-19. Dada a escassez de evidências clínicas de alta qualidade no gerenciamento do Covid-19, a segurança e a eficácia dessas estratégias são incertas. No Brasil, o Ministério da saúde criou Protocolo de Tratamento do Novo Coronavírus, que deve nortear a prescrição dos médicos.
Agentes de investigação na Covid-19
Algumas combinações de fármacos despontam como possibilidades incertas para o tratamento do vírus, como cloroquina, hidroxiclorquina, vitamina D. Estas substâncias no entanto não são as únicas investigadas para um possível tratamento eficaz da Covid-19.
Vários agentes de investigação estão sendo explorados para a terapêutica antiviral e a inscrição em ensaios clínicos deve ser discutida com os pacientes ou seus representantes. É importante reconhecer que não existem dados controlados que apoiam o uso de qualquer um desses agentes, e sua eficácia para a Covid-19 é desconhecida.
Orientações da pesquisadora contra o vírus
Eliane Campesatto reforçou algumas orientações simples que devem ser seguidas para a proteção e prevenção diante da pandemia do coronavírus, são elas:
Evite a automedicação, consulte o médico e o farmacêutico. Aprenda a filtrar as informações, não divulgando fake news. Sempre se certifique com um profissional de saúde ou um órgão oficial se a informação é verdadeira antes de encaminhar.
Invista na prevenção higienizando as mãos com frequência, lavando-as com água e sabão ou com desinfetantes para mãos à base de álcool. Quando tossir ou espirrar, cubra a boca e o nariz com o cotovelo flexionado ou lenço, eliminando imediatamente o lenço e higienizando as mãos. Utilize lenços descartáveis para higiene nasal, evitando tocar mucosas de olhos, nariz e boca. Não compartilhe objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas, mantenha os ambientes bem ventilados e evite contato próximo com pessoas que apresentem sinais ou sintomas de infecções respiratórias agudas. Se não tiver álcool a 70%, use água sanitária (Hipoclorito de sódio a 2%) para limpeza de superfícies: dilua 20ml de hipoclorito de sódio para cada 1litro de água.
E se possível, fique em casa: “O objetivo do isolamento é retardar e evitar a disseminação do vírus, visando o ‘achatamento da curva’ da epidemia”, enfatiza a professora. O achatamento da curva é importante para evitar que a rede de saúde enfrente um pico de casos sem ter disponibilidade de mão de obra e material necessário para atender todos os pacientes. Com a curva achatada, os hospitais ganham mais tempo e qualidade para tratar os pacientes infectados.
Por fim, se ainda restarem dúvidas a especialista recomendar procurar sempre fontes de informação produzidas por autoridades sanitárias, instituições de ensino e pesquisa e periódicos científicos, nacionais e internacionais.
Para quem quiser saber mais sobre farmacologia, o GFADOC, tem perfil no Instagram, em @gfadoc.ufal.
Fonte: Ascom da Fapeal
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